Deputada federal, que tenta a reeleição, faz crítica ao governo Maggi, diz que Dilma Rousseff não tem preparo e cita influência de Dante
Oposição fez PSDB crescer, diz Thelma de Oliveira
Prestes a homologar candidatura à reeleição, a deputada federal Thelma de Oliveira (PSDB) divide a rotina entre reuniões partidárias e a atividade parlamentar. No intervalo de uma dessas reuniões, a viúva do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB) recebeu o Diário em seu escritório.
Ela teceu duras críticas ao ex-governador Blairo Maggi (PR), pré-candidato ao Senado, que em sua avaliação “desdenhou políticos”. “O que nós temos em termos de saúde em Mato Grosso? Nada! O investimento foi zero. Isso, eu considero uma desumanidade. O governo de Blairo Maggi foi desumano com a população”, criticou.
Ao ser questionada sobre os pontos negativos do governo republicano, a tucana enumera o que chamou de uma série falhas. Entre os pontos positivos, Thelma cita feitos do governo Dante como a manutenção do Fethab.
Defendendo unidade entre os partidos de sustentação da candidatura de Wilson Santos (PSDB) ao Governo, ela conta que a expectativa da coligação PSDB/DEM/PTB é de eleger até quatro deputados federais e treze estaduais. Parafraseando Wilson, ela não poupou a candidata presidencial do PT, Dilma Rousseff. “Como é que alguém que nunca pilotou um teco-teco vai pilotar um jato de última geração?”, indagou.
Diário – Em um evento com José Serra há poucos dias, no hotel Fazenda Mato Grosso, a senhora chorou ao ouvir o Hino Nacional. O que passou pela sua cabeça naquele momento?
Thelma de Oliveira – Aquele momento me lembrou muito quando o Dante foi lançado candidato a governador, na primeira vez e na segunda. São movimentações muito parecidas, aquela festa na chegada do candidato, a batucada, as pessoas, o Hino Nacional, coisas simbólicas que acontecem em todo lançamento de candidatura do PSDB. Passou um filme na minha cabeça. Me veio a memória aquilo, a candidatura do Dante... E o Hino Nacional também é uma coisa muito emocionante para mim, tem um peso muito forte. Aí lembrei que se o Dante estivesse vivo, ele estaria lá no evento sendo um dos grandes protagonistas da festa.
Diário – No próximo dia 6 de julho, completam-se quatro anos da morte do ex-governador Dante de Oliveira. De que forma e com qual intensidade a figura política dele influencia a senhora?
Thelma de Oliveira – De todas as formas até porque o meu aprendizado político aconteceu todo com ele. Quando o conheci, eu ainda era uma militante estudantil da Universidade Federal de Mato Grosso. Então, eu não tinha nem ideia, nem intenção de militar partidariamente. Quando o conheci, em 1979, aí eu comecei a militar, me filiei a um partido político e me interessei muito pela política. Tanto que estou na política até hoje. Aprendi com o Dante também sobre organização partidária, campanha, filiação. Fui para os bairros organizar os núcleos partidários. Eu nunca tinha falado em público, mas o Dante sempre colocava você na fogueira. A minha primeira fala ocorreu num evento no bairro da Canjica. Ele [Dante de Oliveira] olhou pra mim e disse: “Vai lá e fala”. Fui me desenvolvendo de maneira empírica. Tudo o que sei hoje e no que me transformei, eu devo a essa militância junto com ele durante os 27 anos que ficamos juntos.
Diário – Em que momento a senhora achou que deixou de ser a primeira-dama para ser a política Thelma de Oliveira?
Thelma de Oliveira – Eu sempre vivi a militância na área social, o que não deixa de ser uma militância política. Quando fui primeira-dama de Cuiabá duas vezes e primeira-dama do Estado duas vezes, trabalhei na área social. Começamos todo aquele processo de descentralização da assistência social e de transformação do que era assistência e obrigatoriedade do município, do Estado. Mas não há dúvida de que, a partir do momento que me tornei candidata, você passa a ter outra referência. A partir daí, você vai para o campo político-partidário passando a militar de uma outra forma. Aí quando você já é parlamentar, também atua de outra forma. Na Câmara Federal passei a militar na área social com base em toda minha experiência anterior.
Diário – O PSDB tem chances de voltar ao Governo com Wilson Santos após oito anos. Quais ensinamentos o partido tirou deste longo período como oposição?
Thelma – A gente sempre faz uma reflexão profunda, primeiro, daquilo que realizamos enquanto estivemos no governo. Tivemos a oportunidade de refletir sobre os erros, os acertos. É um período de muita reflexão e isso também faz parte do nosso aprendizado político. Foi isso que o PSDB fez e que vai, inclusive, credenciar o partido a voltar ao governo.
Diário – A senhora vê pontos políticos comuns entre Dante e Wilson?
Thelma – São muitos. Wilson carrega dentro de sua postura política muita coisa em comum com Dante. Por exemplo, o discurso dos dois é muito parecido. A forma de se colocar, a eloqüência... Wilson talvez tenha um pouco menos de experiência que o Dante até por conta da idade. Ele é dez ou 11 anos mais novo que o Dante, o início da carreira política dos dois é diferente. Mas, a oratória dos dois é muito parecida. A mesma memória que Wilson tem, Dante tinha. A facilidade de fazer o discurso recheado de conteúdo, com dados, com identificação das pessoas nos lugares que chegam sem perder a linha do discurso. Pelo fato do Wilson ser historiador, ele tem muita facilidade para gravar as coisas. São esses e muitos outros pontos em comum.
Diário – Qual avaliação a senhora faz do governo Maggi?
Thelma – Foi um governo que gerou uma expectativa muito forte pelas promessas que foram realizadas durante a campanha. E foram muitas promessas. Houve um desdenhar dos políticos, valorizando ou afirmando que, como empresário, iria transformar o Estado no melhor do Brasil. Mas, hoje avaliamos que da forma como ele (Blairo Maggi) recebeu o Estado poderia ter melhorado muito a qualidade de vida do povo. E poderia ter melhorado muito a infraestrutura, ampliado empregos, saúde, educação. Porque ele recebeu um Estado redondo e não aproveitou esse momento. Porque ele privilegiou apenas alguns setores, uma casta de pessoas ligadas a ele, e não o setor produtivo como um todo. Foi um governo que deixou a desejar pelo que prometeu nas campanhas e por ter encontrado um Estado que tinha excelentes programas que iriam garantir que Mato Grosso ocupasse um outro patamar de desenvolvimento econômico e social no Brasil e assim não o fez.
Diário – O que foi pior no governo Maggi?
Thelma – Existem duas situações. Uma delas é a saúde. Se não fosse a determinação do ex-prefeito Wilson Santos e, agora, Chico Galindo de receberem no Pronto Socorro da Capital os pacientes de todas as partes do Estado, muita gente teria perdido a vida em seus municípios. Agora, por quê? Porque esse foi um governo que não se preocupou em estruturar a saúde nos municípios. Por exemplo, diversos foram hospitais comprados estão fechados. Na Capital, temos o hospital São Thomé. No interior temos o hospital de Guiratinga, Pontos e Lacerda, Quatro Marcos, Nova Xavantina, Peixoto de Azevedo. Nessas localidades, hospitais comprados para se tornarem Hospitais Regionais estão fechados. E em outras localidades onde foram inaugurados ou criados hospitais pelo governo Dante, eles estão funcionando de forma extremamente precária. Unidades de saúde que eram para dar suporte regional estão sem nenhuma estrutura para atender a população. O que nós temos em termos de saúde em Mato Grosso? Nada! O investimento foi zero. Isso, eu considero uma desumanidade. O governo de Blairo Maggi foi desumano com a população. Você não cuidar das coisas básicas como saúde, educação e segurança significa um descompromisso com a população que o elegeu. Na educação, o investimento também foi muito pouco. Se analisarmos países asiáticos que estão em franco desenvolvimento, percebemos que eles investiram pesadamente na educação, desde a creche infantil. É isso que devemos fazer. O que não temos no Estado é a preocupação com o ser humano. Outro ponto negativo são essas denúncias envolvendo o Governo como os R$ 44 milhões superfaturados durante a compra dos maquinários que foram entregues nos municípios. Isso também é muito negativo.
Diário – E o que houve de positivo?
Thelma – Acho que ele manteve coisas boas que foram do governo Dante. Um exemplo que posso citar é o Fethab, o Fundo Estadual de Transporte e Educação. Maggi falou que ia acabar com o Fethab, que era um absurdo cobrar dos produtores e, no entanto, ele manteve. E só por causa disso ele ainda conseguiu asfaltar algumas rodovias. Não estou falando como “a viúva do Dante”. O que foi constatado nos municípios é que, as estradas que foram asfaltadas, não é para servir os produtores regionais e, sim, para ligar as fazendas das pessoas de interesse do governador Blairo Maggi. Isso demonstra que uma coisa que era boa como o Fethab, que era para construir casas e asfaltar, no item de asfaltar, não foi utilizado para a população. Uma coisa positiva: manter o Fetah. Porém, ele foi mal utilizado e desviado do seu objetivo.
Diário – A senhora prometeu processar o jornalista Palmério Dória, que em seu livro “Honoráveis Bandidos” acusou Dante de possuir US$ 42 milhões no exterior. A senhora já entrou com o processo?
Thelma – O jornalista já responde ao processo em Brasília. Terá que apresentar provas. Algumas coisas que ele coloca no livro são absolutamente falsas. Ele afirma que teria se encontrado comigo em com o Dante em determinado vôo, quando o Dante saiu do governo. Isso eu já provei: nós não estávamos no vôo, nós não nos encontramos. Então ele mentiu.
Diário – Qual a expectativa do PSDB em relação à eleição proporcional? Quantos deputados o partido espera eleger?
Thelma – Federal, acho que temos condições de eleger três ou quatro deputados federais. E, para a Assembleia Legislativa, esperamos eleger de dez a treze deputados. Essa expectativa é da coligação PSDB/DEM/PTB. Mas estamos abertos a novos partidos.
Diário – O PSDB tem uma missão difícil nesta eleição presidencial: vencer a candidata do presidente mais popular da história. Que estratégia usar neste caso? Como evitar que o prestígio de Lula (PT) interfira no voto à Dilma Rousseff (PT)?
Thelma – Eu acho muito difícil essa transferência de prestígio, voto. Isso é uma coisa que não acontece automática. Hoje temos uma candidata que está escorada no Lula, em todos os momentos. Na verdade, ela ainda não começou a andar com as pernas próprias. Se analisarmos, até hoje ela não participou de debates públicos. Ela não tem aceitado. Enquanto a Marina Silva e o José Serra tem participado de debates juntos, ela, por orientação da campanha, tem se afastado. Isso ocorre exatamente porque o PT não sabe como é que ela vai se comportar sem o padrinho do lado. Vamos demonstrar quem é que está preparado para governador o Brasil neste momento. Vamos fazer isso mostrando a história do Serra, que sempre caminhou sozinho. Ele tem uma trajetória política que começou no movimento estudantil. Depois ele foi exilado, foi para o Chile, depois voltou. Foi ser vereador, deputado estadual, deputado federal constituinte, Ministro do Planejamento, Ministro da Saúde, governador de São Paulo, a maior cidade da América Latina sob o ponto de vista econômico. Teve o trabalho no Ministério da Saúde reconhecido pela ONU. Tudo isso vamos mostrar no programa do PSDB que já começou a ser veiculado. Serra não precisa de padrinho, ele caminha sozinho. A Dilma nunca participou do processo eleitoral e agora quer ser presidente do Brasil? Como é que é isso? Aliás, o Wilson Santos diz uma coisa que ilustra muito bem: Como é que alguém que nunca pilotou um teco-teco vai pilotar um jato de última geração? Precisamos refletir muito sobre isso.Diário – No próximo dia 26 o PSDB, DEM e PTB realizam convenção simultânea. O que está mais perto de concretizar hoje?
Thelma – Vai ser uma grande festa. Primeiro, vamos consolidar legalmente a nossa aliança. As negociações estão evoluindo bastante e pretendemos apresentar nesta data o nome do nosso vice e o segundo candidato ao Senado.
Diário – Por que essa demora por parte do DEM para indicar o vice?
Thelma – É natural. O processo político não é uma coisa exata. O DEM sabe que é uma grande responsabilidade indicar o vice. Antigamente isso não era considerado. O PTB, por exemplo, hoje comanda a prefeitura de Cuiabá.
Diário – E a resistência de alguns democratas, vai acabar depois das convenções?
Thelma – São resistências pontuais. Não há nada que seja agressivo, abusivo. É natural, é democrático. Aliás, não é só no nosso partido. Assistimos isso dentro do PT, do PMDB.
Diário – Alguma consideração final?
Thelma – O projeto Ficha Limpa, um projeto de origem popular, do qual votei a favor e fiz campanha. Esse é mais um instrumento que o eleitor tem para avaliar seus candidatos. O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, já disse que não vai colocar na sua lista do partido candidatos com a ficha suja. Esse é um compromisso que temos com a sociedade.
A gente sempre faz uma reflexão profunda, primeiro, daquilo que realizamos enquanto estivemos no governo
Porque esse foi um governo que não se preocupou em estruturar a saúde nos municípios
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