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Nacional
Sexta - 18 de Junho de 2010 às 17:00

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Especialista diz que cenas como a de Dani Bolina simplificam demais o problema do alcoolismo
Especialista diz que cenas como a de Dani Bolina simplificam demais o problema do alcoolismo
No último domingo (13), o programa Pânico na TV, da Rede TV!, utilizou a paniquete Dani Bolina, que estava supostamente bêbada em uma balada, como personagem do quadro Pânico Delivery. Não foi a primeira vez que esse tipo de cena foi ao ar. Outros integrantes do programa, como Alfinete e Vesgo, já foram filmados embriagados passando por situações constrangedoras.

 

Mas o que é considerado humor pelos integrantes do programa está virando polêmica junto a comunidades que convivem diariamente com o problema do alcoolismo. O A.A. (Alcoólicos Anônimos), maior grupo do mundo que trata do tema, declarou que irá fazer uma reunião entre seus membros de São Paulo, na próxima segunda-feira (21), para discutir a abordagem do álcool pelo quadro humorístico.

A intenção dos delegados, como são chamados os coordenadores dos grupos do A.A., é fazer com que os membros da associação opinem sobre o caso. Os Alcoólicos Anônimos querem descobrir até que ponto o programa pode influenciar os jovens a adotarem postura parecida a de seus ídolos. De acordo com o coordenador de mídia do A.A. em São Paulo, Sílvio Magalhães, o encontro será realizado no prédio do grupo, localizado no centro da capital paulista.

- Temos a intenção de esclarecer a população sobre o tema, e não proibir ou censurar algo. Não somos contra o álcool em si, mas há pessoas que não trabalham bem com a questão e bebem compulsivamente. Essas pessoas têm que ser alertadas para os riscos de desenvolver a doença.

Para especialistas consultados pelo R7, expor situações de embriaguez na televisão faz com que um problema complicado e que causa graves riscos à saúde seja tratado de forma simples. Claudia Mercon, coordenadora do Programa de Atendimento ao Alcoolismo do Hospital Universitário de Brasília, diz que se trata de uma visão “ingênua do assunto”.

– Se a pessoa está bêbada a ponto de se expor na TV, de ficar caindo na rua, não está bebendo álcool de modo responsável. A bebida pode trazer prejuízos graves para o aspecto físico da pessoa, para as relações familiares, para o trabalho. Tratar isso como piada pode fazer com que o problema fique banalizado. Não é fazendo gozação que você vai mostrar os problemas da bebida alcoólica.

De fato, o alcoolismo não é uma doença simples, nem para a própria pessoa ou para aqueles que convivem com ela.

Aos 55 anos de idade, A.S.R.M. sabe bem o que é conviver com o problema. Depois de ver seu pai morrer em virtude de uma cirrose hepática, ela se casou, aos 23 anos, com um homem que mais tarde desenvolveria a doença. Seu marido procurou o A.A e ficou sóbrio por nove anos.

Há dois anos e meio, no entanto, ele voltou a beber, o que fez com que ela pedisse a separação e passasse a frequentar o grupo de apoio Al-Anon, que oferece ajuda a pessoas ligadas a alcoólatras.

 

- A família tem que saber lidar com um alcoólatra. Muitas vezes, por medo ou até ignorância, você acaba acobertando e incentivando a doença. Eu já cheguei a ligar várias vezes para o trabalho do meu marido dizendo que ele estava mal e não poderia ir trabalhar, quando, na verdade, ele tinha bebido demais na noite anterior. As pessoas ligadas ao doente não podem incentivar o ato de beber, pois essa é uma doença progressiva, que se desenvolve ao longo dos anos.

Ministério da Justiça

Procurada pelo R7, a Rede TV! não quis se posicionar sobre o assunto. A reportagem também falou com o Ministério da Justiça sobre o tema. A instituição é responsável pela classificação etária dos programas veiculados pelas emissoras de televisão no país. A assessoria informou que, de acordo com a faixa indicativa para o Pânico na TV!, de 14 anos, não há nenhuma contravenção em exibir imagens de pessoas embriagadas no horário.

Questionada pela reportagem se não havia diferença entre mostrar alguém bêbado e veicular imagens de indução ao alcoolismo e constrangimento, a assessoria do Ministério voltou a afirmar que o programa é adequado ao público a que se dirige.





Fonte: Do R7

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