A aula foi no período da manhã, mas os irmãos Gabriel e Rafael se arrumam para voltar para a escola. O uniforme agora é camiseta cavada e calça larga para facilitar os movimentos. Eles vão exercitar o corpo e a mente. A avó diz que o comportamento deles mudou nos últimos tempos.
“Eles eram uns meninos assim bem levados, não queria ter horário, agora eles têm horário, tem uma disciplina boa para escola. Já fui chamada na escola agora praticamente não estou sendo mais porque eles estão obedecendo direitinho”, conta a avó Edna Moreira.
Eles seguem até a escola estadual Dona Alexandra Pedreiro, na periferia de Uberlândia. Há cinco anos, ela faz parte do projeto "Amigos da Escola". Criado pela Rede Globo, ele ajuda a fortalecer a educação com iniciativas que envolvem professores, alunos, pais e comunidade.
Na quadra, os irmãos Gabriel e Rafael se juntam ao grupo. Duas vezes por semana, setenta crianças entre seis e dez anos de idade aprendem capoeira. Ao som do pandeiro e do berimbau começam as coreografias. “Eu era levado, apanhava na escola, depois eu conheci o esporte e já melhorei”, fala Gabriel Assis Moreira Ferreira, de 10 anos.
E não foi só o comportamento do Gabriel que melhorou. ”Ele praticamente não falava direito. Ele tinha um problema, a língua era um pouco presa. Através dos cantos da capoeira, do jogo, foi desenvolvendo a fala, a percepção motora dele melhorou, motora também, além de estimular os reflexos, estímulos musculares, mentais também, que ajuda bastante”, explica o professor voluntário, Francisco Valteiris.
O professor, que coordena as aulas, é um voluntário do "Amigos da Escola". “Há 5 anos eu comecei com um projeto, seguindo os passos do meu mestre. Ele tinha esse mesmo projeto no Caique de Ituiutaba. Vim, mudei pra Uberlândia e comecei a dar aula na escola, comecei com faixa de 30 crianças e hoje tem mais de 70”, conta.
Para frequentar a capoeira é preciso tirar notas boas. Rafael Assis Moreira Ferreira, 7 anos, se esforça. “A gente tem que ser bom aluno e tem que estudar muito.”
Na quadra, algumas mães acompanham os filhos. Cleonice dos Santos é mãe de Yuri. “Ele não sabia ler quando chegou aqui, hoje já sabe ler, já sabe escrever, então está fazendo diferença.”
Felipe Souza, de 9 anos, não queria lutar, mas encontrou outro jeito de participar da capoeira. “Você joga e acerta aí machuca, daí para tocar você não machuca, dói a mão, mas só que aprende mais a tocar.”
“Tem gente que fica na rua fazendo um monte de bobeira e eu tô aqui aprendendo”, diz Gabriel.
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