Julia Lovemore, de Milton, perto de Cambridge, já havia admitido o homicídio culposo da bebê Faith, alegando ter a responsabilidade diminuída por causa de problemas de saúde mental.
A bebê foi declarada morta ao chegar ao hospital no dia 17 de junho de 2009.
O juiz da Corte de Cambridge, que condenou Lovemore, disse que a mãe, de 41 anos de idade, estava "com profundos problemas mentais e sofrendo de ilusões religiosas quando cometeu o ato".
Ela foi presa por tempo indeterminado com base no Ato de Saúde Mental.
Fanáticos
Julia Lovemore e o marido, os dois formados pela Universidade de Cambridge, foram descritos na corte como fanáticos religiosos e que sofriam de graves problemas mentais.
Segundo a promotoria e testemunhas, ela sofria de problemas mentais desde os 26 anos de idade e havia se recuperado, mas teve uma recaída depois do nascimento de sua primeira filha, Angel, em julho de 2006.
Ao descrever o dia da morte de Faith, ela contou que não sabe o que ocorreu.
"Faith estava deitada na minha cama. Comecei a arrancar páginas da bíblia e enfiá-las em sua boca, mas ela as cuspia. Depois, sentei em cima dela", contou.
Suas duas filhas estavam em uma lista das autoridades de crianças consideradas sob risco, e a família chegou a ser visitada por uma enfermeira psiquiátrica comunitária e um agente de saúde do governo local no dia da morte da bebê.
Quando eles chegaram à casa, encontraram o marido de Julia, David Lovemore, rezando por sua mulher no andar de baixo, enquanto a filha mais velha estava sentada no alto da escada.
Julia e a bebê, que estavam no andar de cima, não foram vistas pelos agentes de saúde, que deixaram a casa para buscar ajuda, temendo o comportamento do pai, segundo foi dito no tribunal.
De acordo com o promotor John Farmer, "infelizmente nenhum deles procurou ver a ré ou a bebê e a melhor interpretação dos eventos é de que Faith já estava morta ou morrendo, porque não haveria outra razão para o marido da ré estar rezando tão intensamente".
Rebecca Hughes, a enfermeira psiquiátrica, disse à polícia que David Lovemore batia com os pés no chão e dizia: "Tire o demônio de Julia".
"Nunca o tinha visto assim antes. Era como se ele estivesse em um transe", disse Rebecca Hughes.
"Para mim a situação estava instável. Eu estava muito preocupada com David, temi que ele pudesse se tornar psicótico."
"Fiquei muito perturbada, diria que quase fiquei com medo."
A promotoria disse à corte que o pai de Faith levou a bebê já sem vida a uma clínica médica pouco depois, acompanhado da filha mais velha, que estava coberta de removedor de tinta.
Os médicos tentaram ressuscitar a bebê e chamaram a polícia, que começou as investigações imediatamente.
Segundo a promotoria, a filha mais velha havia entrado para a lista de crianças em risco em fevereiro de 2009, quando foi descoberto que Julia Lovemore estava grávida de Faith. Na época a mãe foi examinada por um psiquiatra, que disse que ela sofria alto risco de recaída.
Responsabilidade
A agência local que cuida da segurança de crianças pediu uma revisão do caso depois da morte da bebê.
A agência concluiu que é preciso aprender as lições deste caso, o que inclui entender melhor a natureza de episódios psicóticos e ter certeza de que as informações são compartilhadas e usadas em processos de proteção às crianças.
O relatório ainda afirma que manter informações importantes sobre o histórico familiar disponíveis é essencial para a análise de risco.
A ligação entre a crença religiosa dos pais e sua saúde mental só foi parcialmente entendida, e os planos de monitoramento das agências têm de ser mais claros sobre as expectativas em relação a seus funcionários, segundo o documento.
As agências de proteção às crianças enfrentam forte pressão na Grã-Bretanha, depois de uma série de casos em que crianças registradas como estando em situação de risco foram mortas pelos pais ou responsáveis.
Um dos casos que mais chocaram o público foi o do bebê Peter, em que sua mãe foi condenada à prisão por tempo indeterminado, tendo de cumprir um mínimo de cinco anos, por permitir que ele fosse torturado e morto por seu companheiro e um inquilino que morava na casa deles.
O menino de 17 meses, morto em 2007, estava na lista de crianças consideradas sob risco pelos serviços sociais de Haringey, norte de Londres, e o caso abriu um debate sobre o assunto, já que ele passou meses sendo torturado sem que as autoridades tomassem uma atitude.
Ele morreu com mais de 50 ferimentos e os assistentes sociais chegaram a visitar a casa da família 60 vezes nos oito meses que antecederam sua morte.
Depois de anunciada a sentença de Julia Lovemore, o detetive Dan Vajzovic disse que "este foi um caso trágico que viu uma jovem vida ser terminada deliberadamente".
"Toda criança tem o direito de ser protegida e se sentir segura em sua casa e é responsabilidade dos pais garantir que este seja o caso."
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