Argumento principal é de que será difícil convencer os aposentados a evitar comparação com reajuste maior dado ao salário mínimo
Aumenta pressão para Lula manter os 7,7%
Às vésperas de vencer o prazo para o Planalto decidir se veta ou não o reajuste de 7,72% para os aposentados do INSS que ganham acima de um salário mínimo, aumenta a pressão política para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantenha o índice aprovado pelo Congresso. Lula, no entanto, reiterou que só dará a palavra final amanhã, depois de uma nova reunião com vários segmentos do governo.
O problema é que o presidente e seus aliados estão encontrando dificuldades para evitar que os mais de 8 milhões de aposentados nessa faixa façam comparações entre o valor do salário mínimo, que foi beneficiado pela política de recuperação adotada pelo Planalto, e o que os inativos ganham em relação ao salário mínimo, que, comparativamente, está sendo reduzido.
Embora na semana passada o presidente Lula tenha sinalizado a aliados que vetaria o aumento aprovado pelo Congresso, mantendo o índice de 6,14% em vigor desde janeiro, um auxiliar direto do presidente avisou, ontem, que Lula está "oscilando", embora ainda não descarte a opção pelo veto. Mas avisou: "Ele pode surpreender."
Este mesmo auxiliar revelou ainda que, em caso de rejeitar os 7,72%, o presidente poderá assinar uma nova Medida Provisória, da qual conste um reajuste de 7%, índice que o governo, em acordo com os aliados no Congresso, teria chegado a aceitar, mesmo com a discordância do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Resistência.[ ] [/ ]O ministro e os demais integrantes da equipe econômica resistem em conceder índices superiores aos 6,14% acertados com as centrais sindicais no ano passado.
Ontem, durante a convenção que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, Paulo Bernardo fez questão de salientar que os 6,14% já estão assegurados no orçamento.
O ministro advertiu também que "não há nenhum compromisso" em dar 7% aos aposentados que ganham acima do mínimo.
"Houve uma negociação com as centrais sindicais de conceder a inflação mais 2,06% de aumento real, chegando aos 6,14%. O resto foi leilão de índices, dentro de um campeonato de quem era mais bonzinho", desabafou Paulo Bernardo.
O ministro insistiu que "ninguém pode falar que o governo está massacrando velhinho porque estamos cumprindo o acordo - com as centrais - e concedendo reajuste acima da inflação".
O ministro do Planejamento reconhece que é "compreensível" a comparação que os aposentados fazem entre as aposentadorias e o salário mínimo. Ele justificou que, com a política de recuperação adotada pelo governo, quem recebia aposentadoria de quatro mínimos passou a ganhar 3,7 mínimos e se sente prejudicado, daí a reclamação. "Mas todos estão tendo aumentos acima da inflação", ressalvou Paulo Bernardo.
Segundo o ministro, caso o presidente vete os 7,72%, conforme prega a equipe econômica, o governo não vai conceder abono mas, sim, editar uma nova MP com o reajuste total. Ele acha, inclusive, que, não há problema algum que o índice de correção seja mantido em 6,14% que já estão no orçamento.
"A MP é do ano passado. Não vejo motivos para não ser esse mesmo reajuste", encerrou, questionando o argumento de que o governo não pode editar, no mesmo ano, duas medidas provisórias tratando do mesmo tema.
PARA LEMBRAR
Mais preocupados com os votos nas urnas do que com o equilíbrio das contas públicas, os congressistas decidiram ampliar o reajuste de 6,14% que o governo concedeu, no início do ano, às aposentadorias e pensões do INSS acima de um salário mínimo. Com isso, o gasto de R$ 6,7 bilhões com essa rubrica sofrerá acréscimo de cerca de R$ 1,8 bilhão, caso o aumento de 7,72% se concretize. Depois de vários adiamentos, amanhã, finalmente, o presidente vai anunciar sua decisão.
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