Secretário geral do PR conversou com Alcenor Alves; objetivo era intermediar encontro com juiz
Grampo da PF mostra conversa suspeita de Emanuel e Alcenor Alves
O secretário-geral do PR, ex-deputado Emanuel Pinheiro, é um dos políticos que aparecem nas investigações da Polícia Federal, que apura suposta prática de venda de sentença no judiciário mato-grossense. Interceptações telefônicas, com autorização judicial, revelam conversas entre o dirigente e Alcenor Alves, marido de Diane Vasconcelos Alves, segunda colocada na última eleição à prefeitura de Alto Paraguai.
Investigações da PF apontam para uma suposta tentativa de negociação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a pedido de Alcenor, possivelmente intermediada por Emanuel Pinheiro, junto ao juiz Yale Sabo.
O objetivo seria manter Diane Alves no cargo de prefeita, já que em 2008, sua coligação entrou com pedido de impugnação da candidatura do prefeito eleito, Adair José Alves Moreira, conseguiu o afastá-lo, no juízo eleitoral de Diamantino.
No dia 10 de setembro do ano passado, conforme aponta interceptação telefônica, Alcenor ligou para Emanuel Pinheiro, às 07h58, dizendo que o negócio estava "brabo". O ex-deputado diz que precisaria falar "urgente" com o juiz Yale para "cercar aquele negócio".
Veja trechos da conversa:
Alcenor: Ah, eu to precisando falar com você rapaz, aquele negócio tá brabo
Pinheiro: Uai, o que que foi?
Alcenor: Tem que falar com o Yale.
Pinheiro: Certo.
Alcenor: Tá entendendo?
Pinheiro: Tem que conversar com o Yale agora de manhã. Pra tentar cercar esse negócio.
Alcenor: Não tinha como botar eu pra falar com ele? Você não falou com ele disso, naquele dia?
Pinheiro: Falei, ele, ele aquilo que te contei... onde você tá?
Alcenor: Eu tô aqui no, perto de sua casa aqui porra.
Pinheiro: Vem aqui em casa. Vem aqui então.
Alcenor: Tá bom, to indo aí.
Pinheiro: Abraço.
Em uma segunda conversa interceptada entre os dois, no mesmo dia, às 10h28, Alcenor Alves informa Emanuel Pinheiro que teria saído da casa do juiz-membro do TRE, Eduardo Jacob com a informação que Yale Sabo estaria com "parecer pronto para levar para Jacob assinar". Alcenor sugere a Emanuel que faça um "acerto" com Yale.
Pinheiro: Alcenor, é só pra te falar, lá pra três e meia, quinze pras quatro, você me dá uma ligada, para a gente conversar um pouquinho antes.
Alcenor: Tá, mas o negócio é o seguinte: você tinha que ligar pro Yale, pra marcar com ele agora.
Pinheiro: Tem...
Alcenor: Porque é o Yale que tá atrás desse negócio, eu acho.
Pinheiro: Ele me falou que não. Eu acho que não, acho que é aquele cara mesmo.
Alcenor: Você falou com ele hoje?
Pinheiro: Não, hoje não.
Alcenor: Hã.
Pinheiro: Não, hoje não, só falei com... porque ele já me deixou taxativo naquele dia, num tem o que falar com ele.
Alcenor: Não, não, não, tem, tem. Eu tive agora lá com, com, com o Jacob... e ele é que tá negoçando, até que ele já fez até o negócio, já pra, pro, pra levar pro Jacob assinar.
Pinheiro: Já fez o que?
Alcenor: O, o parecer lá. Então tem que ligar pro Yale e faz de conta que você num sabe. Fala com ele e faz de conta que você num sabe desse negócio.
Pinheiro: Mas ele é filho da puta, ele vai falar a mesma coisa pra mim.
Alcenor: Não, mas liga pra ele, e que for, eu vou com você, nele, porra. Nós vamos indo lá agora.
(...)
Pinheiro: Eu vou, eu vou ligar pra ele, mas ele me assegurou que não é. Ele vai continuar dizendo que...
Alcenor: Não, mas se ele disser que não, mas você fala: pera aí, onde que cê tá, ai nos vamos lá, vai eu e você lá.
Pinheiro: Não, mas ele vai...
Alcenor: Não, mas já tá perdido mesmo uai. Com ele, ele num tem mais conversa agora.
Pinheiro: É perda de tempo mexer com ele, mas eu vou ligar...
Alcenor: Mas é bom ir lá. Se aí se tiver algum acerto lá, nós faz com ele, eu faço com ele lá.
Pinheiro: Perda de tempo, heim. Mas eu vou falar com ele. Eu vou falar com ele.
Alcenor: Liga pra ele. Aí eu to aguardando aqui
Em outra conversa, 10 minutos após a última, Emanuel Pinheiro diz a Alcenor Alves que Yale só falará com ele pessoalmente, na condição de que Alcenor não levasse "ninguém" ao encontro, que aconteceria no mesmo dia das gravações telefônicas. O marido de Diane refere-se novamente ao "acerto" com Yale.
Pinheiro: Se você quiser eu posso ir lá, tal, tal, tal. Mas aquilo que falou, eu não quis falar muito por celular...
Alcenor: Tinha que ir lá nele, conversar com ele então, você. Conversar.
Pinheiro: Não, eu vou, já falei que eu vou lá. Aí marcamos pra tarde, duas horas, duas e meia, eu falei que eu vou lá.
Alcenor: Hã.
Pinheiro: Aí ele falou: que que foi? Eu falei: não, eu quero falar com você pessoalmente... tal. Aí eu falei: inclusive eu quero ir aí ter o, o, o, a parte interessada. Ele falou: não, se for com você, não tem problema, mas não traz ninguém. Eu não tenho nada a ver com esse negócio.
Alcenor: Ele?
Pinheiro: Aí eu falei: então tá bem. Então tá.... É, ele falou pra mim...
Alcenor: Tá bom. Vai lá e já faz um acerto lá com ele lá, é o único jeito.
Outro lado
Procurado pela reportagem, Emanuel Pinheiro confirmou que teve uma conversa com o juiz Yale Sabo, mas que a finalidade não foi a de fazer tráfico de influência ou negociar sentença.
Ele informou que a conversa foi "corriqueira", onde teria apresentado um memorial com a defesa de Diane. "Estou bastante tranqüilo. Essa história de corrupção, propina e influência é fantasiosa, não passa de conversa para boi dormir", defendeu-se.
Emanuel Pinheiro disse conhecer grande parte dos magistrados de Mato Grosso, pois além de dirigente político, ele é advogado e atua junto aos órgãos do judiciário.
"Não tenho amizade com o Yale, mas sim conhecimento, como tenho com muita gente nesse Estado e também dentro do Judiciário, pois sou advogado e isso faz parte da minha profissão", declarou.
O dirigente republicano lembrou outros casos que o PR travou na Justiça Eleitoral, ao qual participou dos processos, afirmando ser consciente de tudo que falou e fez na tentativa de favorecer seus correligionários. Ainda disse que, nessa ocasião, Diane perdeu o processo.
Quanto a intermediação a uma possível negociata no TRE, ele não quis falar a respeito. "Sem comentários", resumiu.
"Meu voto foi contrário", esclarece Yale
Procurado pela reportagem na última sexta-feria, o juiz Yale Sabo Mendes informou que não tinha nada a declarar sobre o assunto.
Hoje, no entanto, ele encaminhou nota à redação através de assessoria de imrpensa. "É importante esclarecer que fica claro no diálogo relatado na reportagem, palavras de baixo calão direcionadas a minha pessoa, por não atender a pedidos feitos por eles. Além disso, sobre esse processo, meu voto foi contrário ao pleito sugerido no diálogo", afirmou.
Segundo o juiz, em nenhum momento sua postura foi questionada nas investigações em curso pela Polícia Federal e Superior Tribunal de Justiça. "Deixo claro também que sobre esse caso, não gerou nenhum tipo de investigação sobre minha decisão no processo e conduta profissional no exercício de minhas funções", esclareceu.
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