Modais alternativos, como ferroviário e hídrico, são hoje essenciais para suportar a crescente evolução da produção mato-grossense de alimentos
Ferrovia é ainda uma opção cara em MT
Sonho acalentado pelos mato-grossenses há mais de três décadas, a ferrovia é atualmente uma realidade no Estado, pelo menos em parte do Estado. Chegou a Alto Taquari, passou por Alto Araguaia e agora caminha em direção a Rondonópolis (ao sul-mato-grossense), com perspectiva de chegar a Cuiabá nos próximos anos. Mas a chegada dos trilhos a Mato Grosso, ao contrário do que se imaginava, não trouxe ganhos expressivos para aqueles que mais dependem deste meio de transporte para consolidar a produção em outros mercados: os produtores rurais.
Este ano, o alto custo do frete consumiu um terço do valor da produção. Os terminais atuais, em Alto Araguaia e Alto Taquari, são considerados os maiores pontos de carregamento de grãos do país e movimentam quase 1 milhão de toneladas por mês de produtos como soja, milho e farelo. A capacidade de descarga em Alto Taquari é de 300 caminhões ao dia e, em Alto Araguaia, chega a 600.
A América Logística Transporte (ALL), que detém a concessão para a exploração da ferrovia Senador Vicente Vuolo, conseguiu reduzir o tempo de percurso do trem até ao porto de Santos (SP) de 240 para 96 horas. Mas os produtores reclamam que a opção ferroviária ainda é muito cara em Mato Grosso, quando comparada ao frete deste modal em outros países.
"O preço cobrado pela ALL é praticamente o mesmo do rodoviário e o produtor não leva vantagem nenhuma utilizando os trilhos", critica o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira. Cerca de US$ 100 a tonelada, contra US$ 120 para transporte rodoviário.
Nesta safra, a ALL transportou 10 milhões de toneladas pelos 1,4 mil quilômetros do corredor ferroviário Alto Araguaia-Santos, o dobro de 2006. Para tanto, teve de modernizar a estrada e aumentar o número de locomotivas e vagões. A capacidade de transbordo no terminal de Alto Araguaia quase dobrou este ano em relação a 2009, quando atendia diariamente 350 caminhões. Hoje a ALL atende 600.
CUSTOS - Na avaliação dos produtores, o investimento na malha ferroviária irá propiciar uma redução dos custos logísticos, principalmente para o escoamento das commodities, pois gera um ganho para a competitividade, principalmente no caso da soja brasileira.
Para isso, o governo federal deve preparar os portos brasileiros, dando condições para agilizar as operações que hoje se encontram com gargalos, seja por falta de equipamentos e condições físicas, seja por falta de uma maior agilidade alfandegária, agilizando e diminuindo as filas nos portos, o que acarreta ainda mais em prejuízo para o transportador.
Uma segunda ação seria investir na modernização e integração das ferrovias para que os produtos brasileiros destinados à exportação não percam tanto em competitividade em relação aos outros mercados.
INVESTIMENTOS - O senador mato-grossense Jorge Yanai, em discurso esta semana da tribuna do Senado, chamou à atenção para a necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte, especialmente no Centro-Oeste, região que concentra a maior produção de grãos do país que sofre com as precárias condições de escoamento da produção.
Segundo dados do Ministério dos Transportes, citados pelo parlamentar, nas últimas duas décadas os investimentos anuais nunca ultrapassaram 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para comparar, na década de 1970, o governo chegou a investir 1,8% do PIB no setor. “O descaso com a manutenção do sistema rodoviário e a falta de investimentos em alternativas como ferrovias e hidrovias são fatores que diminuem a competitividade internacional do país”, salientou.
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