Há menos de dois anos, autoridades e técnicos comemoravam uma queda da violência no trânsito, atribuída ao efeito inicial da lei seca.

O cenário hoje frustra e preocupa: 2010 começou com uma disparada (recorde em pelo menos sete anos) de acidentes, feridos e mortos nas estradas de São Paulo.

Dizer apenas que tudo voltou ao que era seria otimista --porque a quantidade de feridos e de acidentes passou a ser a maior no mínimo desde 2003 (dados mensais de antes não estavam disponíveis) e a de mortos, desde 2005.

 

O número de vítimas que morreram nas rodovias estaduais paulistas de janeiro a abril saltou 20% em relação ao mesmo período do ano passado. O de feridos, mais de 10%. O de acidentes, 16%.

Na prática, significa um aumento de 32 acidentes, 11 vítimas e um morto por dia.

Os especialistas reconhecem que a economia aquecida e a elevação da frota --que subiu 5,5% no Estado em um ano-- contribuem para que mais carros, motos e caminhões peguem a estrada e fiquem sujeitos a batidas.

Mas isso está longe de explicar a piora da violência nas rodovias, às vésperas do aniversário de segundo ano da lei seca. A Polícia Rodoviária Federal reconhece que essa tendência é nacional.

As hipóteses citadas envolvem uma soma de fatores que vão do afrouxamento da fiscalização à difusão de motos nas estradas e de motoristas novos, inexperientes.

Fiscalização

Há sinais de relaxamento da lei seca, mas também é consenso entre técnicos que combater os embriagados é só um passo, não a panaceia. Velocidade e sonolência
também são agravantes.

Dados históricos indicam que a principal culpa de acidentes é dos motoristas, por imperícia ou imprudência.

Mas a quantidade de multas neste ano nas estradas de São Paulo caiu 21%. O Estado não explica a queda, mas afirma que ao menos a fiscalização eletrônica não diminuiu --são 269 radares, contra 221 no ano anterior.

Já as operações de controle da embriaguez pela Polícia Rodoviária Estadual despencaram da média de quase 450 para menos de 200 por mês.

A versão oficial é de que a polícia redirecionou seu trabalho para outras ações de fiscalização porque houve "maior conscientização" sobre álcool ao volante, com uma queda de 50% de bêbados envolvidos em acidentes.

"A figura do policial atuante desapareceu", afirma José Alex Sant"anna, doutor em engenharia de transportes pela USP. Ele considera que os radares já não amedrontam --porque, com a exigência de placas para avisar onde eles estão, "os motoristas correm à vontade".

Uma lei sancionada há quatro anos pelo governo fe­deral abrandou as multas por excesso de velocidade, um incentivo para essa infração.

Na prática, numa estrada com limite de 120 km/h, só quem está a mais de 180 km/h recebe a multa mais pesada, de R$ 574, e tem a CNH suspensa. Antes, a 145 km/h ele já recebia essa punição.