Cuba libertou neste sábado um prisioneiro político em estado grave de saúde e começou a transferir outros seis para prisões mais próximas de suas casas, parte de um acordo com a Igreja Católica e o mais importante sinal até agora de que o governo pode estar aliviando sua política em relação a dissidentes do regime castrista.

Ariel Sigler, um dos 75 ativistas, líderes comunitários e jornalistas presos durante uma repressão contra dissidentes em 2003, foi libertado em sua cidade natal, Pedro Betancourt, na Província de Matanzas.

"Sinto uma mistura de felicidade e tristeza", disse ele a um grupo de jornalistas reunidos na cidade, localizada cerca de 260 quilômetros a leste de Havana, capital cubana.

"Estou triste porque não posso dividir esse momento com minha mãe, que morreu meses atrás", afirmou. "E porque mais da metade dos nossos companheiros continuam na prisão."

Sigler, 44, cumpria uma sentença de 25 anos de prisão por traição até ter sido transferido recentemente a um hospital. Ele chegou em casa em uma ambulância do Ministério do Interior.

"Em nenhum momento deixarei de lutar pela liberdade e pela democracia em Cuba. Vou continuar lutando para que nossos irmãos que ficaram na prisão sejam libertados", afirmou.

Sigler sofre de paralisia nas pernas contraída durante os sete anos que passou na prisão.

Ao chegar em casa, acompanhado da mulher, Noelia, e onde era era esperado pelos irmãos, sobrinhos e outros parentes, além de vizinhos e colegas do Movimento Independente Opção Alternativa, do qual ele é presidente, fez declarações nas quais agradeceu aos colegas de dissidência e à "pressão internacional" pela libertação.

"Esperamos que não só eu tenha a oportunidade de sair, que tenhamos todos a possibilidade de sair porque nos consideramos todos inocentes", disse Sigler em referência aos presos políticos cubanos.

Ele considerou que as ações da Igreja Católica perante o governo de Raúl Castro tiveram "certa repercussão" pelas medidas adotadas até o momento com alguns prisioneiros, mas expressou seu desejo de que as libertações continuem.

Sobre sua saúde, destacou que é "bastante" delicada devido a quatro doenças crônicas e ao grave estado de desnutrição. Ele disse que vai se dedicar a se recuperar.

Grupo de 75

Com a libertação de Sigler, 52 dos 75 presos em março de 2003 continuam atrás das grades. Os outros receberam liberdade condicional por motivos de saúde, foram forçados a se exilarem ou completaram suas sentenças.

Outros seis prisioneiros do chamado Grupo de 75 --Hector Fernando Maceda, Juan Adolfo Fernandez, Omar Moises Ruiz, Efren Fernandez, Jesus Mustafa Felipe e Juan Carlos Herrera-- estavam sendo transferidos neste sábado para prisões próximas de suas casas, elevando a 12 o número de dissidentes presos transferidos para novas instalações neste mês.

"Eles foram tirados de suas celas mais cedo", disse Elizardo Sanchez, que chefia a Comissão de Direitos Humanos de Cuba (ilegal, mas tolerada pelo regime).

A comissão afirma que o número de prisioneiros políticos mantidos em Cuba é de 180, apesar de a lista incluir algumas pessoas condenadas por atos violentos.

O Grupo de 74 foi preso quando a atenção mundial estava voltada para o início da invasão do Iraque pelas forças lideradas pelos EUA.

Direitos humanos

A situação dos direitos humanos na ilha continua tensa desde fevereiro, quando outro prisioneiro político, Juan Zapato Tamayo, morreu após 85 dias de greve de fome, o que gerou uma condenação mundial. Sanchez disse que a libertação de Sigler e a transferência dos outros presos podem ser parte de um grande esforço governamental para reabilitar sua reputação.

"Tenho a impressão de que Cuba agora está trabalhando na geração de uma imagem de mídia", disse.

As ações deste sábado seguem-se a negociações entre o governo do presidente cubano, Raúl Castro, e o escritório do cardeal de Havana, Jaime Ortega. E também ocorrem poucos dias antes da visita à Cuba do ministro do Exterior do Vaticano, arcebispo Dominique Mamberti. O governo de Cuba não comentou sobre qualquer transferência de presos.

A oposição e líderes da Igreja Católica têm expressado esperanças de que o governo comunista da ilha pode fazer mais concessões antes da viagem, a primeira de uma alta autoridade do Vaticano desde que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário-geral do papa Bento 16, visitou Cuba em fevereiro de 2008.

A Igreja Católica tornou-se uma importante voz política em Cuba, aparentemente com o consentimento do governo.

Em maio, Ortega negociou um fim à proibição de manifestações de um pequeno grupo de viúvas e mães de dissidentes levados à prisão em 2003, conhecido como Damas de Branco.

O cardeal e outro líder católico reuniram-se mais tarde com Raúl Castro, saindo convencidos de que o governo estava preparado para dar início a melhores relações com a oposição. Autoridades eclesiásticas anunciaram, depois, que o governo iria permitir transferências de presos mantidos longe de suas casas e melhor acesso a cuidados médicos para detentos que precisassem.

Cuba nega que mantém prisioneiros políticos, afirmando que os detentos são criminosos comuns e mercenários enviados por Washington para desestabilizar o regime comunista.