Homens armados atacaram regiões uzbeques no sul do Quirguistão nesta sexta-feira, em confrontos étnicos que mataram ao menos 37 pessoas e feriram outras 500. Autoridades declararam estado de emergência no país após a onda de violência --a pior desde a deposição do presidente Kurmanbek Bakiyev, após intensas manifestações em abril.

Após as mortes, o governo interino, liderado por Roza Otunbayeva, declarou estado de emergência em quatro regiões do país, onde centenas de jovens em posse de barras de ferro e armas de fogo entraram em confronto com forças do governo, além de saquearem e incendiarem lojas. Tropas e veículos blindados foram enviados para tentar conter as gangues.
 

  Alexei Osokin/Reuters  
Prédio em chamas em Osh, no sul do Quirguistão; ao menos 23 morrem em confrontos
Prédio em chamas em Osh, no sul do Quirguistão; ao menos 37 morrem em confrontos




Dezenas de prédios foram incendiados em Osh, no sul do país --a segunda principal cidade quirzguiz. Grupos armados destruíram lojas e veículos com barras de ferro e pedras.

"Acabei de dirigir pela cidade, e as ruas estão lotadas de jovens armados", disse Bakyt Omorkulov, membro da Coalizão para a Democracia e a Sociedade Civil, grupo não-governamental.

"A rua Aravan foi completamente destruída, dezenas de cafés e prédios estão em chamas. É como estar na Tchetchênia", disse ele em entrevista por telefone à Associated Press.

Em discurso na TV, Otunbayeva fez um apelo pelo retorno à calma no país. "Gostaria de fazer um apelo, em especial às mulheres do Quirguistão. Queridas irmãs, achem as palavras corretas para se dirigirem a seus filhos, maridos e irmãos. Na situação atual, é inaceitável recorrer a sentimentos de raiva e vingança", disse ela.

"Lamentavelmente para nós, estamos falando sobre um impasse entre duas etnias. Precisamos enviar nossas forças e acalmar essas pessoas, e é isso que estamos fazendo", disse Otunbayeva a jornalistas nesta sexta-feira na capital quirguiz, Bishkek.

Tensões

Tensões políticas entre o sul, predominantemente agrícola, e o norte do Quirguistão existem há um longo período, além de conflitos étnicos e rivalidades entre diferentes clãs.
 

  Arte/Folha Online  




Dos cerca de 5,3 milhões que vivem no Quirguistão, 69% são de etnia quirquiz, 14,5% são uzbeques e 8,4 são de etnia russa.

No entanto, no sul do país, os uzbeques representam 40% dos cerca de 1 milhão que vivem na área de Jalalabad e cerca de 50% na região de Osh.

O Quirguistão, que ganhou a independência após o colapso da ex-União Soviética, em 1991, enfrenta grave crise política desde a deposição de Bakiyev, em 7 de abril.

Em 19 de maio, duas pessoas morreram e 74 ficaram feridas em confrontos entre quirquizes e uzbeques na cidade de Jalalabad. No mesmo dia, Otunbayeva anunciou que governaria o país até junho de 2011, deixando de lado os planos para eleições presidenciais em outubro.

Acredita-se que Bakiyev esteja exilado em Belarus, mas autoridades acusam seus partidários de tentar minar o atual governo interino e impedir a realização das eleições parlamentares.