O aumento da taxa básica de juros deve continuar nos próximos meses, mas a dimensão dos ajustes deve depender dos desdobramentos da crise externa, avalia o economista José Goés, consultor da corretora Wintrade.

Hoje, o Banco Central subiu o juro primário do país de 9,50% ao ano para 10,25%, em linha com as expectativas, numa decisão unânime. Até o final do ano, há mais quatro reuniões programadas para decidir o rumo dos juros.

"O mais provável que ele continue a subir a taxa de juros nas próximas reuniões, mas há uma grande dúvida sobre qual será esse ritmo. As opiniões de mercado estão bastante divergentes. Muitos esperam um novo aumento de 0,75 ponto percentual e talvez com mais de 0,50 ponto. Eu estou fora do consenso e acredito em mais de 0,50 ponto", afirma o economista.

"Os últimos números mostraram uma economia brasileira bem aquecida, mas por outro lado você tem uma crise externa que pode "ajudar" o BC a conter a inflação", avalia, lembrando que, por conta do desaquecimento das maiores economias, já houve uma queda nos preços das commodities (matérias-primas).

"E nós temos vários indicadores de tendência que mostram uma economia [doméstica] já em processo de acomodação, o que é natural: o governo já retirou parte dos subsídios, entre outros fatores", acrescenta.

A maioria dos economistas já contava com o aumento da taxa Selic para 10,25%. As expectativas de inflação de 2010 subiram por 18 semanas consecutivas, conforme acompanhamento do BC junto a uma centena de instituições financeiras.

O crescimento "chinês" do PIB no primeiro trimestre, já esperado por alguns, somente cimentou essa convicção.

Outros economistas, no entanto, viam espaço para um aumento de menor porte da taxa Selic, baseados na percepção de que o PIB brasileiro não deve repetir esse desempenho inicial nos próximos trimestres.

"O forte crescimento da economia no primeiro trimestre já nos fez chegar ao nível pré-crise de 2008 e, agora, deverá estabilizar. Com isso, a inflação tende a apresentar forte declínio", diz José Arthur Assunção, presidente do Secif-RJ, associação que reúne as financeiras do Rio. Segundo ele, as taxas de inflação devem convergir para a meta (4,5%) "ainda neste ano".

O IPCA, índice oficial de inflação, apresentou variação de 0,43% em maio, acumulando 5,2% nos 12 meses.