Representantes da indústria afirmaram nesta quarta-feira que o aumento dos juros básicos pelo Banco Central não pode ser justificado pelo risco de o crescimento da economia gerar pressão inflacionária. O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 0,75, para 10,25% ao ano.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirmou que "vê com preocupação o retorno da taxa Selic ao patamar dos dois dígitos". "A decisão do Copom confirma que o Banco Central espera que a economia brasileira cresça acima do desejável. Essa é uma avaliação equivocada", afirmou.

A entidade defendeu que, segundo seus técnicos, "o excepcional crescimento de 9% no PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre não deve orientar as expectativas para o restante do ano, porque os incentivos fiscais, criados para amenizar o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira, foram extintos em março".

A CNI ressaltou ainda que o aumento do investimento foi mais intenso do que o do consumo para o crescimento da economia no primeiro trimestre. "A maturação desses investimentos aumentará a capacidade de produção da indústria, o que reduzirá eventuais pressões inflacionárias no futuro".

O aumento nos preços, para a confederação, já indica arrefecimento, especialmente dos alimentos. "Portanto, há espaço para que o ciclo de alta dos juros seja mais curto e de menor intensidade que o inicialmente previsto".

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também criticou o aumento e afirmou que pressão inflacionária dos primeiros meses do ano foi decorrente de ajustes pontuais e sazonais, como mensalidades escolares, passagens de ônibus, produtos in natura e álcool.

"Mesmo contrariando opiniões, mantemos hasteada a nossa bandeira em defesa de juros mais baixos, além de redução da carga tributária e outras reformas estruturais tão necessárias para o crescimento econômico do País", afirmou Benjamin Steinbruch, presidente em exercício da Fiesp.

Para a federação, após os aumentos no início do ano, os preços voltam à normalidade. Para justificar sua tese a Fiesp citou como exemplo a inflação medida pelo IPC-Fipe de maio, em alta de 0,22%, contra 0,39% em abril. O IPCA, divulgado nesta quarta-feira, mostrou alta de 0,43% em maio, contra 0,57% de abril.

"Segundo o IBGE, órgão do próprio governo, a inflação oficial de maio deste ano é a menor de 2010", indicou a Fiesp.

"Ou seja, os preços estão se comportando sem altas significativas mesmo antes do primeiro aumento da Selic ter ocasionado efeito na atividade produtiva. Por outro lado, mesmo essas pressões localizadas de preços já sofrem processo de dissipação, o que nos leva a contestar a conservadora política monetária praticada no país".