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Quarta - 09 de Junho de 2010 às 11:16
Por: Ramom Monteagudo

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Investigações apontam para esquema de venda de sentenças no TJMT
Investigações apontam para esquema de venda de sentenças no TJMT

A dona-de-casa Ivone Reis de Siqueira, considerada peça-chave na Operação Asafe, admitiu, em depoimento à Polícia Federal, que intermediava possíveis negociações visando à obtenção de resultados positivos entre advogados e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso. No último dia 18 de maio, ela compareceu à sede da Polícia Federal e revelou detalhes de supostas negociatas ao delegado Carlos Eduardo Fistarol.

Inicialmente, Ivone Siqueira afirmou que possui muitos amigos advogados e que "recebia uma comissão" para lhes indicar clientes, caso novos contratos fossem fechados.

Natural de Paracatu (MG), ela disse que mora em Cuiabá há mais de vinte anos. E, desde que veio para cá, é amiga de Célia Maria Aburad Cury, esposa do desembargador aposentado José Tadeu Cury. "Eu freqüento a casa dela e ela freqüenta a minha. Eu já indiquei e levei clientes para o escritório dela", afirmou.

No depoimento, após também admitir que conhece o advogado Max Weyzer Mendonça de Oliveira "desde que ele era criança" e ressaltar que é "muito amiga dele", Ivone Siqueira, após conversar com seu advogado, afirma que deseja colaborar "irrestrita e efetivamente com a investigação, ciente de que as informações prestadas irão auxiliar no esclarecimento dos fatos".

Em seguida, ela afirmou que, em meados de 2006, foi procurada pelo advogado Max Weyzer, que lhe informou que tinha um cliente chamado Loris Dilda (acusado de matar o próprio irmão, em Sorriso, em 1994). "Max me informou que Loris teria um mandado de prisão preventiva em aberto e estaria à procura de um Habeas Corpus. Então, eu perguntei com quem estaria distribuída a medida e Max me disse que estaria sob a relatoria do juiz Círio Mioto", relatou.

Segundo Ivone, ela não possuía nenhum "relacionamento ou facilidades" com Mioto, porém sabia que Célia Cury tinha trânsito perante o juiz e poderia averiguar a possibilidade de ele deferir o Habeas Corpus em favor de Loris Dilda. "Então, eu liguei para a Célia e passei o caso. Ela me disse que levaria o HC para o juiz Cirio Mioto e o consultaria se ele iria aceitar deferir a liminar", disse.

R$ 50 mil

"A Célia me disse que iria ver com o magistrado quanto que ele cobraria, sendo que ligou para o Max Weyzer para saber quanto Loris Dilda estaria disposto a pagar. Ficou acertado que eu receberia R$ 10 mil e outros R$ 40 mil seriam as partes cobradas, segundo Célia, por ela e o magistrado. Então, tudo foi acertado, Max entrou com o Habeas Corpus e a liminar foi deferida algum tempo depois", afirmou Ivone à Polícia Federal.

No trecho seguinte, em seu depoimento, a dona-de-casa afirmou que Loris Dilda repassou R$ 10 mil, que ficaram com o advogado Max Weyzer, "haja vista que ele não me pagou".

"Os outros R$ 40 mil foram depositados na conta do meu marido, Waldir, que nada sabia dos fatos, tendo em vista que Loris estava em outra cidade. Então, o restante do dinheiro eu entreguei nas mãos de Célia Cury, relativo ao pagamento dela e do magistrado", afirmou.

No depoimento, ela afirmou que não acredita "que o juiz Cirio Mioto tenha pedido para os demais membros da Turma que julgou o Habeas Corpus nº 48617/2006 a votarem conforme ele, que foi o relator". Mesmo com a posição favorável de Mioto, o HC foi indeferido por dois votos a um.

Segundo inquérito da Polícia Federal, está claro que a dona-de-casa Ivone Reis Siqueira e o advogado Max Weyzer Mendonça de Oliveira "estavam negociando uma decisão favorável a Lóris Dilda".

Outro lado

Segundo o advogado Murilo Castro Melo, que defende Ivone Siqueira, sua cliente não aceitou a Delação Premiada, expediente jurídico que pode beneficiar suspeitos e criminosos que colaborem com as investigações.

"Ela não aceitou. Se aceitasse, estaria concordando com tudo o que a Polícia Federal está falando. Ela nega vários trechos do inquérito, mas vai colaborar com os fatos as quais ela tem conhecimento", afirmou o advogado.

Confira alguns trechos de conversas telefônicas entre Ivone Siqueira e o advogado Max Weyzer, interceptadas pela Polícia Federal:

Ivone:
Tá? Se ele ligar e falar ta pronto, você me pega aqui, nós dois vamos para o Tribunal, entendeu.
Max Wayzer: Tá bom
Ivone: Eu subo lá com o "trem" para entregar pra ele e pegar o papel.
Max Wayzer: Não tem o dinheiro, se não tiver com o papel o Loris não vai sacar o dinheiro não. Eu te falei antes.
Ivone: Mas você falou que o dinheiro está com você, Max...
Max Wayzer: Não, Eu falei pra você que devolvi.
Ivone: Não, Max...
Max Wayzer: Eu falei... Eu ia ficar com esse dinheiro dez dias na minha mão?
Ivone: Ele não vai conseguir sacar esse dinheiro hoje.
Max Wayzer: Ahã...
Ivone: Ele não vai conseguir...
Max Wayzer: Uai, você falou dez horas da manhã, falou que dez horas da manhã dava, o banco... (inaudível).
Ivone: Não, Max... Manda ele sacar logo. Ele não vai me dar. Ah, ele não vai me dar... Se eu falar isso, pára na hora, porque ontem ele tornou a falar. Eu falei: ele está com cinqüenta mil na mão. Eu perguntei: Max, você ta com o dinheiro? Você falou: tô.

Outro trecho

Ivone: E eu falei que cinco, cinco e meia estava lá. Ele foi bem franco comigo: leva ou rasgo na sua cara.
Max Wayzer: Então fala pra ele rasgar. Pode falar pra ele rasgar. Eu vou desistir do processo agora.
Ivone: Pois é. Pode Entrar com a desistência.
Max Wayzer: Uai.
Ivone: E avisa pro Loris que ele não vai sair nunca da cadeia.






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