Estado concentra maioria das propriedades com mais de 3,5 mil ha, que englobam 69% do território local
MT é o estado com maior número de latifúndios no País
Mato Grosso é o estado com o maior número de latifúndios no país, 8.428 propriedades que abocanham 69% do território estadual. Cada uma com mais de 3,5 mil hectares (um hectare equivale a um campo de futebol), elas são 8,9% do total de imóveis registrados. Trata-se da segunda maior concentração de latifúndios calculada proporcionalmente, perdendo apenas para a do vizinho Mato Grosso do Sul, com 9,2%.
Os dados deste cenário em que poucos detêm as maiores terras estão sendo divulgados pela cartilha “Limite da Propriedade da Terra”, do Fórum Nacional pela Reforma Agrária, formado por diversas entidades que propõem a realização do Plebiscito pelo Limite da Propriedade da Terra (entre os dias 1º e 7 de setembro) para consultar a população sobre a necessidade de limitar o tamanho de propriedades rurais.
A idéia é que áreas superiores a 3,5 mil hectares sejam automaticamente incorporadas à reforma agrária. E, caso a realização do plebiscito ganhe de fato as ruas, Mato Grosso é certamente o estado onde a medida mais repercutiria, dada a quantidade de propriedades rurais que superam os 3,5 mil hectares – ou 35 módulos fiscais, cada um com 100 hectares, medida estabelecida como “teto”, um limite justo.
Do outro lado, mais de 100 mil famílias esperam por um lote no Estado, diz o MST, cujo coordenador estadual Antônio Carneiro ainda enfatiza que parte dessas famílias vive em beiras de estradas ou ocupando outras propriedades com suas barracas e condições precárias.
Limitar as propriedades rurais de fato abalaria profundamente as estruturas de um Estado cuja economia se baseia no agronegócio, mas a medida já foi empregada na reforma agrária de outros países, argumenta Inácio Werner, do Centro Burnier Fé e Justiça. E a prática se revelou uma forma barata de gerar empregos: o IBGE aponta que cada 100 hectares de latifúndio no Brasil emprega apenas duas pessoas, enquanto a mesma área pode empregar 15 pessoas no sistema de agricultura familiar – a responsável pelo alimento que a população consome, já que os latifúndios se voltam a gêneros de exportação que nem todo brasileiro vê em sua mesa, como a soja.
Já o presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), Afonso Dalberto, entende que limitar as terras é coibir o direito à propriedade e anti-democrático; seria um “sistema cubano” em Mato Grosso. Além disso, a reforma agrária do jeito que se propõe, critica Dalberto, resultaria em assentamentos economicamente insustentáveis, pois seriam distantes dos grandes centros e sua produção não seria capaz de compensar os grandes investimentos em tecnologia que impulsionaram o agronegócio aqui. Exemplo disso, ele aponta, são assentamentos como os da região de Colniza e Aripuanã. A reportagem entrou em contato com o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Mato Grosso, William César Sampaio, para comentar ao assunto, mas ele afirmou desconhecer o projeto de limitação das propriedades.
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