Grupo da advogada Célia Cury se movimenta num plantão de domingo para pedido de HC ser julgado pelo desembargador José Luiz de Carvalho; gravações citam valores que teriam sido pagos pela decisão
Desembargador Luiz é citado em suposta venda de HC; veja diálogo
Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público apontam suposta negociação de decisão de um habeas corpus envolvendo também o desembargador José Luiz de Carvalho. A denúncia faz parte de um processo com mais de 5 mil páginas, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça. Este blog teve acesso ao conteúdo. Foi montado até um diagrama que mostra a conexão familiar e relacionamento da advogada Célia Cury, esposa do desembargador aposentado José Tadeu Cury, com algumas pessoas, tidas como peças-chaves para conseguir o deferimento do HC durante plantão no Tribunal de Justiça, o que trouxe o benefício da prisão domiciliar a Modesto Machado Filho, o Modestinho, em agosto do ano passado. As negociações apontam para R$ 50 mil, sendo R$ 10 mil no ato e R$ 40 mil após a decisão.
Todo o esquema foi monitorado por agentes da PF. O advogado de Modestino é Rodrigo Vieira Komochena, genro de Célia Cury. Ele namora Ziza Cury. As negociações para se buscar o habeas corpus envolveram os servidores do TJ Avelino Tavares Júnior e Rafael Henrique Tavares Tambelini. Atuaram, segundo as investigações, como intermediários da decisão do desembargador. Cláudio Manoel, genro de Célia, entrou como contato dos dois funcionários do TJ. Célia e seu sócio no escritório, advogado Rodrigo Komochena, são os personagens principais. No plantão do domingo de 9 de agosto de 2009, Célia lidera um intenso movimento de bastidores. Era plantão no Tribunal de José Luiz. Ela ingressou com HC em favor de Modestinho, já na madrugada de 10 de agosto.
Os primeiros contatos começaram no início da tarde e perto de meia-noite Rafael e Cláudio se encontram pessoalmente. A liminar foi concedida para o réu ter direito à prisão domiciliar, expedindo-se contramandado. Num diálogo entre Rodrigo e Célia registrado em 15 de setembro do ano passado, o primeiro diz: "Tá bom. Cobrei dele cinco zero tá?// Dez mil pra nós trabalhar e quarenta no resultado". Em 14 de agosto, um mês depois, após o deferimento da liminar, há registro de conversa entre Cláudio e Avelino, que cobra o restante do pagamento do serviço.
Nessa operação, as tratativas começaram com Cláudio e Avelino. Depois, Rodrigo entra em cena para atuar como advogado de Modestinho junto ao TJ. Houve correria para dar entrada com HC naquele plantão de domingo para o pedido ficar sob análise de José Luiz. Caso desse entrada na segunda, seria distribuído por dependência ao desembargador Teomar de Oliveira Correia. O pedido foi protocolado na madrugada de segunda, ainda dentro do plantão de José Luiz, que o deferiu com os seguintes termos: "Isto posto, defiro para conceder ao paciente o benefício da prisão domiciliar, expedindo-se contramandado. Após o plantão distribua-se na forma regimental". Em seguida, o grupo de Célia se movimenta para obter o contramandado para que Modestinho permaneça em liberdade e cumpra pena em prisão domiciliar.
Suspeição
Em relatório encaminhado em 1º de setembro de 2009 ao STJ, o subprocurador-geral da República Eugênio José Guilherme de Aragão questiona o fato de haver muita articulação para se conseguir HC, enquanto Modestinho estava livre. "Não havia motivo plausível para a pressa patente do grupo para obtenção de um HC, uma vez que não estava preso. Além disso, a contratação do serviço de advocacia já fora feito em julho. Qual o motivo de toda a pressa para apresentar o pedido mais de um mês depois, especialmente num final de semana?". Confira abaixo trechos de alguns diálogos, com indícios de acordos espúrios.
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