O presidente francês, Nicolas Sarkozy, "convidou" neste domingo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a aceitar "uma investigação confiável e imparcial" sobre a intervenção israelense contra a Frota da Liberdade, na qual a França estaria disposta a participar, anunciou a Presidência.

"O presidente da República convidou", durante uma conversa por telefone, "Netanyahu a aceitar as petições do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a aplicação de uma investigação confiável e imparcial sobre as condições da intervenção israelense" contra a frota que tentava levar ajuda a Gaza.

Sarkozy expressou também "a disponibilidade da França de participar" dessas investigações. "Sobre a situação na Faixa de Gaza, o chefe de Estado declarou a urgência de chegar a uma solução para colocar fim ao bloqueio", completou nota do Palácio do Eliseu.

Sarkozy, informa o comunicado, defende "mecanismos que tornem possível garantir a segurança de Israel e garantir o abastecimento do território, respeitando as competências da Autoridade Palestina".

O presidente francês pediu também a retomada "do processo de paz entre palestinos e israelenses para conseguir o quanto antes estabelecer as bases aceitas na solução de dois Estados, Israel e Palestina, que vivam um ao lado do outro em paz e segurança".

Deportados

Israel começou a expulsar, neste domingo, os passageiros do navio mercado humanitário "Rachel Corrie", que tentou romper o bloqueio a Gaza, em meio a pressões internacionais para investigar o ataque da segunda-feira passada contra outra frota humanitária que deixou 9 mortos.

O gabinete israelense de segurança deve reunir-se na noite de domingo para examinar os meios de responder às críticas internacionais suscitadas pelo ataque contra a frota que levava ajuda a Gaza, informou uma fonte oficial israelense.

Os dirigentes israelenses favoráveis a uma investigação sobre este ataque que deixou nove mortos estimam que Israel está em condições de provar à comunidade internacional que seus comandos se viram enfrentados a um núcleo duro de ativistas que queria o confronto.

Até agora, os dirigentes israelenses se opuseram a uma investigação internacional, declarando-se no entanto dispostos a uma pesquisa interna sobre os erros cometidos durante a operação.

 

Muhammad Hamed/Reuters
Ativistas malásios que estavam abordo do navio "Rachel Corrie", interceptado ontem
Ativistas malásios que estavam abordo do navio "Rachel Corrie", interceptado por Israel no sábado



Israel começou a expulsar os passageiros do navio irlandês, inclusive a Prêmio Nobel da Paz norte-irlandesa Mairead Maguire, e membros da tripulação, após interceptar o barco no sábado, evitando que rompesse o bloqueio a Gaza.

Um cubano e seis malásios --o deputado Mohd Nizar Zakaria, dois jornalistas da TV malásia TV3 e três funcionários da organização Perdana Global Peace-- cruzaram a passagem fronteiriça da ponte de Alenby que conduz ao território jordaniano.

"Todas as pessoas a bordo do barco serão expulsas no domingo, depois de terem assinado um documento no qual renunciam recorrer à Justiça israelense contra esta medida", disse um porta-voz do serviço de imigração israelense, Sabin Hadad.

O navio mercante levava 11 passageiros, cinco irlandeses e seis malásios, e oito membros da tripulação.

A porta-voz informou que sete deles seriam levados à Jordânia através da passagem fronteiriça da ponte de Alenby e que os outros 12 seriam repatriados de avião.

Segundo a porta-voz, a saída da Prêmio Nobel, de 66 anos, famosa defensora da causa palestina, e de seus companheiros, foi atrasada devido ao repúdio inicial em assinar a renúncia a recorrer à Justiça israelense.

Indignação

O desenlace pacífico da abordagem do "Rachel Corrie" não acalmou a indignação no mundo pela morte dos nove ativistas --oito turcos e um americano de origem turca-- nos confrontos com soldados israelenses no "Mavi Marmara", nem a pressão sobre Israel para que aceite uma investigação internacional independente.

Os Guardiães da Revolução, exército ideológico do regime iraniano, estão dispostos a escoltar frotas com ajuda para Gaza se o aiatolá Khamenei ordenar, declarou neste domingo um colaborador do Guia Supremo, citado pela agência Mehr.

Por sua vez, a mídia israelense estimou este domingo que o governo israelense, cada vez mais isolado do cenário internacional, poderia se ver forçado a suspender o bloqueio à Faixa de Gaza, imposto há quatro anos, quando o movimento islamita Hamas assumiu o controle do território palestino.

O movimento "Free Gaza" ("Liberdade para Gaza"), na origem do envio da "Frota da Liberdade", anunciou uma nova tentativa de romper o bloqueio marítimo "nos próximos dois meses".

O Hamas, por sua vez, denunciou este domingo a abordagem do cargueiro irlandês "Rachel Corrie" e "saudou" os militantes que estavam a bordo.

Também "denunciou a política terrorista contínua levada a cabo por Israel contra o povo palestino e militantes da paz e da liberdade".