O Brasil alcançará uma versão nacional de veículo elétrico comercialmente viável somente em uma década ou mais. É esse o horizonte considerado pelo governo federal na definição do prometido pacote de incentivos. O anúncio do plano, previsto para 25 de maio, foi cancelado pelo presidente Lula, e o assunto voltou à mesa do grupo ministerial criado para debater o tema.

Executivos dos setores elétrico e automotivo, que aguardavam o anúncio na antessala do Ministério da Fazenda, ouviram as escusas do ministro Guido Mantega e deixaram Brasília sem saber qual o rumo de um negócio que pode revolucionar a indústria automobilística.

 

  Martial Trezzini/AP  
O novo carro elétrico da Subaru, Stella Plug-in, no salão de Genebra no início da semana
O novo carro elétrico da Subaru, Stella Plug-in, no salão de Genebra no início da semana



Sem uma definição do governo, o país vai ficando para trás. "É como a Embraer. Se o governo não der um empurrão, não decolará", diz Leonardo Cavalieri, supervisor do projeto de carro elétrico no Grupo Fiat, o único em curso no país.

A Anfavea (associação nacional das montadoras) diz que o setor aceita desenvolver tecnologia no país, mas espera as diretrizes. A associação quer um plano amplo que incentive a cadeia do carro elétrico, e não só o veículo.
Mas o próprio governo enfrenta divergências internas quanto ao conteúdo do plano, em fase de discussão.

O grupo de trabalho, coordenado pela Fazenda, inclui os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Ciência e Tecnologia (MCT).

O MCT promete R$ 10 milhões neste ano para pesquisas do carro elétrico e de baterias, mas sabe que falta um ordenamento governamental para o projeto deslanchar.

A principal dúvida que levou o governo a sustar o anúncio foi o tipo de carro elétrico que será incentivado -o "puro sangue" (100% elétrico) ou o híbrido.

No mundo, o carro elétrico se tornou opção para reduzir a dependência do petróleo. Uma solução que ajuda a resolver questões ambientais e geopolíticas.

A questão levantada no governo é que o Brasil já dispõe de um modelo bem-sucedido de motores bicombustíveis, com uso difundido do álcool combustível.

Flex

O MDIC quer que o programa do carro elétrico considere a tecnologia do motor flex no desenvolvimento de propulsão híbrida (motores elétrico e a combustão com tecnologia bicombustível).

É, por exemplo, o que pensa a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). A entidade afirma que não foi convidada a discutir o assunto, mas decidiu agora observar que tipo de benefício o carro elétrico receberá.
Segundo Alfred Szwarc, consultor de emissões e tecnologia da Unica, o carro elétrico não representa ameaça ao setor nos próximos 15 anos. Para ele, o país deve criar um híbrido nacional.

"Um carro elétrico com motor flex teria a cara do Brasil. No mundo, os híbridos são combinados com motores a gasolina ou a diesel. Acho que o Brasil pode ter uma solução melhor", diz.

Não é o que pensa a Fiat. Líder do projeto do carro 100% elétrico, a montadora acha que o país deve perseguir o desenvolvimento de um carro "puro sangue", com tecnologia brasileira.