Superintendente afastado da Fiemt rebate à imprensa acusações de ter tramado contra Fábio e se diz vítima
Pai diz que prisão foi armação do filho
O superintendente afastado da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Francisco Serafim de Barros, 60 anos, rebateu ontem pela primeira vez desde sua prisão, no dia 28, a acusação de que teria encomendado a morte do próprio filho, Fábio Cezar Barros Leão, 40, por causa de um prêmio de R$ 28 milhões que o herdeiro ganhou na Mega-Sena em 2006. Serafim revelou detalhes de sua relação com o filho após a loteria, mencionou a violência de Fábio, que já o teria ameaçado, e apontou indícios de que ele mesmo teria orquestrado a prisão do pai.
Serafim e seus advogados convocaram a imprensa a fim de apresentar sua versão dos fatos após o drama familiar ter ganhado repercussão nacional. Até o momento, o que se sabe é que investigações da polícia sul-mato-grossense desvendaram um esquema de contratação de quatro pistoleiros, supostamente chefiados por Serafim, para executar Fábio e encerrar a disputa em torno do prêmio multimilionário. A disputa, até então, limitava-se ao campo jurídico: o prêmio da loteria teria sido depositado na conta de Serafim e, quando Fábio quis reavê-lo, o pai teria se recusado, o que motivou um longo processo judicial.
De acordo com a versão de Serafim, o próprio Fábio quis que o pai administrasse o dinheiro. Serafim foi, durante 38 anos, funcionário do Banco da Amazônia S.A (Basa), tendo saído de faxineiro e passado a presidente interino. Quando Fábio ganhou o prêmio, fez com que o pai se aposentasse precocemente, deixando o cargo de diretor na unidade em Belém (PA) para administrar o dinheiro. Serafim conta que, na época, o próprio Fábio fez questão de que o prêmio fosse usufruído pela família toda – e toda a fortuna passou a constituir um caixa único, com o qual a família obteve rendimentos, comprou gado e fazendas.
A situação – harmônica - perdurou até janeiro de 2008. Fábio convocou uma reunião da família em sua casa com a participação de Serafim, a mãe Maria Aparecida Leão Barros, 57 anos, e os dois irmãos, Laura e Fabiano, que integraria junto ao pai o suposto plano de execução desvendado pela polícia sul-mato-grossense.
“Eu quero tudo”, teria dito Fábio, acompanhado de três seguranças armados por cujas atitudes não responderiam caso a família não aceitasse assinar uma procuração atribuindo-lhe toda a fortuna de até então. “Vocês não podem imaginar a humilhação que ele fez comigo e o irmão”, conta a mãe, que ainda acredita na conciliação.
Segundo Serafim, logo em fevereiro Fábio mudou de idéia. Talvez por “um momento de sanidade”, como ele cogita, seu filho de repente decidiu por assinar uma escritura pública de revogação de poderes, anulando a procuração. Em seguida, ainda em fevereiro, propôs à família a assinatura de um contrato de partilha para dividir o patrimônio que antes queria somente para si. Mas não parou por aí. Serafim conta que Fábio insistiu em outro documento depois, um aditamento de contrato que revisava a partilha e, entre outros, mantinha “plena e irrestrita” a autonomia da família sobre uma das fazendas, a Oriente II, com 2.003 hectares. Segundo Serafim, o aditamento culminou na devolução a Fábio de uma quantia superior a R$ 29 milhões – em moeda e em bens adquiridos.
BLOQUEIO – A família acreditava que, com o aditamento assinado, Fábio estava finalmente satisfeito. Porém, em abril Serafim se surpreendeu quando a Justiça bloqueou todos os seus bens. A partir de uma contabilidade controversa, Fábio alegou que o pai lhe tinha repassado apenas R$ 17 milhões do total devido. Serafim apresentou ontem, junto a seus advogados, documentos e uma lista de todos os bens e quantias em dinheiro repassadas para Fábio. Até o momento, tal documentação não foi suficiente e o bloqueio dos bens de Serafim continua, mas ele sugere que mesmo a decisão judicial possa ter sido armada.
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