O Departamento de Estado americano confirmou nesta quinta-feira que um cidadão americano foi morto no ataque do Exército de Israel à frota de seis navios comandada pela Turquia que tentava levar ajuda humanitária à faixa de Gaza.

Segundo o porta-voz do departamento, P.J. Crowley, o jovem Furkan Dogan, 19 --que tinha cidadania americana e turca-- foi morto a tiros na ação militar israelense.

Após a confirmação, ele disse também que os Estados Unidos irão investigar as circunstâncias das mortes dos ativistas a bordo do comboio. Além de Dogan, ao menos outras oito pessoas --todas de nacionalidade turca--foram mortas pelos soldados.
 

Oliver Weiken/Efe
Embarcações israelenses retornam ao porto de Ashdod; EUA prometem investigar ação
Embarcações israelenses retornam ao porto de Ashdod; EUA prometem investigar ação



"Analisaremos com cautela as informações que foram recebidas sobre as circunstâncias da morte [do americano]", disse Crowley. "Nós levamos muito a sério a saúde dos cidadãos americanos em qualquer parte do mundo", disse ainda o porta-voz.

Interrogado sobre se agentes do FBI [polícia federal americana] ficarão a cargo das investigações, Crowley afirmou: "Nesse momento, não".

Anteriormente nesta quinta-feira, após sofrer pressão da ONU por uma investigação internacional sobre o ataque, Israel propôs que o inquérito seja conduzido pelo próprio país, mas com a participação de observadores estrangeiros.

"Não há por que temer uma comissão de investigação. Disse ao primeiro-ministro (Binyamin Netanyahu) que deveríamos criar uma comissão de investigação que seja aberta e transparente", destacou o chanceler Avigdor Lieberman em entrevista à imprensa local.

O chanceler afirmou que Israel não tem "nada a esconder" sobre a abordagem à expedição marítima em águas internacionais efetuada pelo Exército israelense contra o comboio de seis navios com 750 pessoas a bordo.

"Temos excelentes juristas, alguns dos quais poderia se incumbir do tema. Se querem incluir um membro internacional de algum tipo no comitê, também está bem", apontou.

Oposição

Mas também houve manifestações contrárias. Dois ministros israelenses se declararam nesta quinta-feira que vão fazer oposição à criação de uma comissão internacional de investigação sobre a operação.

"Àqueles que pedem que seja criada uma comissão internacional de investigação precisamos responder que Israel é um Estado democrático independente e não uma república das bananas", disse o vice-primeiro-ministro encarregado de Assuntos Estratégicos, Moshé Yaalon, em declarações a uma rádio.

"Nós mesmos somos capazes de investigar, de tirar as lições e de aplicá-las. Mas durante este processo não temos que nos entregar à autoflagelação", acrescentou.

O ministro das Finanças, Yuval Steinitz, também rejeitou a ideia de uma investigação internacional e propôs, em troca, que a Comissão de Defesa e de Relações Exteriores do Parlamento israelense forme uma "comissão de investigação".

Brasileira
 

31.mai.2010/Divulgação
A cineasta brasileira Iara Lee, que estava no comboio atacado em Israel
A cineasta brasileira Iara Lee, que estava no comboio atacado em Israel




Em entrevista à BBC Brasil, a cineasta brasileira Iara Lee disse que os israelenses teriam jogado corpos no mar.

Detida por tropas israelenses na ação militar, Lee relatou à BBC Brasil ter visto "muito sangue" e que começou "a passar mal" quando subiu ao convés do barco em que viajava.

Ela disse ainda que os atiradores de elite do Exército de Israel entraram no principal navio da frota, o Mavi Marmara, "atirando para matar".

"Era muito sangue, eu comecei a passar mal, tive ânsia de vômito e até desisti de procurá-lo." Iara disse à BBC Brasil que não testemunhou as mortes, mas que ""outras pessoas que estavam no barco contaram ter visto soldados atirando corpos no mar".
 

  Arte/Folha