Filha de desembargador confirma assédio em esquema
A filha do desembargador Manoel Ornellas, corregedor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Maisa Izabel Saddi Ornellas de Almeida, revelou, em depoimento na Polícia Federal, já ter recebido propostas para influenciar decisões proferidas pelo pai, porém negou ter cedido às pressões e adiantou que o magistrado não tinha conhecimento do assédio.
Durante o depoimento, Maisa admitiu ainda que algumas pessoas levavam petições para ela analisar e, como tinha conhecimento acerca do entendimento adotado por seu pai, fornecia sugestões e orientações para que, eventualmente, os pedidos fossem deferidos ou não.
A filha do magistrado confirmou conhecer Ivone Reis de Siqueira, apontada como braço-direito do advogado Max Weytzer de Mendonça, líder do esquema de venda de sentença em Mato Grosso, conforme aponta inquérito da Polícia Federal. Segundo Maisa, sua relação com Ivone iniciou em 2003, mas apenas "como vínculo profissional".
No entanto, Maisa confessou que Ivone lhe ofereceu dinheiro ou vantagem para que fizesse o direcionamento de decisões judiciais. A filha do desembargador informou à PF que, por pelo menos três vezes, Ivone teria lhe oferecido cerca de R$ 10 mil ou R$ 20 mil para que ela confeccionasse decisões em determinado sentido, principalmente, para favorecer clientes da advogada Célia Cury, esposa do desembargador José Tadeu Cury, presa durante a Operação Asafe.
A filha do desembargador garantiu que o pai não tinha conhecimento de que Ivone fazia tais solicitações e nem que já havia lhe oferecido dinheiro. Ela afirmou ainda que o magistrado tivesse recebido vantagens indevidas para proferir sentenças favoráveis às determinadas partes.
Durante o depoimento, Maisa Izabel confessa ter mantido diálogo com Ivone Reis e até ter ido à residência da mesma. Ela admitiu ainda que a intermediadora solicitava que ela fosse até determinados desembargadores solicitar que acompanhassem o voto do relator ou direcionassem os votos.
Em um dos diálogos interceptados pela Polícia Federal, Ivone queria saber quando o desembargador Ornellas estaria de plantão, pois gostaria de ingressar com determinada medida judicial no plantão dele. Maisa admitiu que ao ir à residência da mulher, a mesma lhe propôs cerca de R$ 10 mil ou R$ 20 mil para que fosse proferida decisão favorável.
No entanto, Maisa Izabel disse que não se recorda quem era a parte interessada, mas acredita que fosse um habeas corpus, pois seria interposto em regime de plantão. Ivone disse à filha: “se seu pai entrar no plantão tem dinheiro para nós”. Porém, Maisa informou que o pai não entrou no plantão na época e que não foi proferida nenhuma decisão favorável em tal caso.
Maisa alegou receber um bom salário, cerca de R$ 15 mil, e por isso não tinha motivos para ceder aos pedidos e assédios de Ivone.
Em uma das conversas entre Maisa e Ivone surgiu o nome do advogado Zaid Arbid, que é advogado de João Arcanjo Ribeiro, ex-capo do crime organizado em Mato Grosso, preso em 2002. A filha do desembargador informou que Ivone queria que fosse proferida uma decisão favorável em HC de João Arcanjo e ainda alegou que a quantia a ser paga seria "muito boa".
Maisa admitiu ainda que uma vez chegou a mostrar uma petição ao pai a pedido de Ivone, mas Ornellas nada informou sobre a decisão que seria tomada. Segundo ela, o magistrado leu toda a ação, mas não deu nenhuma posição e sequer sabia que se tratava de pedido de Ivone. Ela também garantiu que o pai não conhece Ivone.
Numa das conversas, Ivone comenta com Maisa de que uma “amiga estaria apavorada” e ainda usa os termos “quietinho, paradinho”. Porém, a filha de Ornellas disse que Célia Cury seria a pessoa “apavorada”, porém sobre os termos informou não se lembrar do que se tratava.
Pressionada, Maisa informou que Ivone queria que um HC não fosse julgado no mérito para que ela pudesse ter tempo de ingressar com outro, e assim seria distribuído a outro relator, com o qual, possivelmente, teria acertado o direcionamento da decisão.
A filha do desembargador é servidora concursada do Tribunal de Justiça desde 1998, porém há 15 anos trabalha no órgão. Maisa prestou esclarecimentos no dia 18 de maio, data em que foi deflagrada a Operação Asafe, que investiga um esquema de venda de sentença no Poder Judiciário no estado.
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