Criminosos agem com truculência e atiram mesmo quando não há reação das vítimas
Assaltos estão mais violentos na Grande Cuiabá
Cuiabá e Várzea Grande registram 7.517 casos de roubos e furtos, além de 6 casos de latrocínio (roubo seguido de morte) de janeiro a 23 de maio deste ano. Os dados da Polícia Civil mostram que houve uma queda de 14,7% nesses crimes em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 8.819 casos de assaltos a pessoa e residência e 7 latrocínios. Porém, a estatística da Polícia Civil mostra um acréscimo de 23% nos roubos e furtos de veículos nas duas cidades. Os dados de janeiro a abril de 2010 mostram 955 casos, contra 772 ocorrências no mesmo período do ano anterior.
O diretor metropolitano de Polícia Civil, Marcos Veloso, afirma que estatisticamente o número de ocorrências caiu, mas a forma de atuação dos assaltantes está mais violenta. Ele destaca que os casos de roubos são mais frequentes nos últimos anos. Na década de 90, para cada 10 furtos, existiam 2 roubos. Atualmente, a proporção fica em torno de 50%. Os dados da Polícia Civil comprovam a afirmação. Este ano foram 3.675 furtos e 1.887 roubos em Cuiabá. Em 2009, ocorreram 4.023 e 2.668, respectivamente. "Hoje, qualquer adolescente tem uma arma na mão. A situação de violência chega numa esfera que antes não chegava".
O roubo de motocicletas em Várzea Grande lidera o ranking com 290 casos este ano, contra a metade em 2009. A modalidade atual das quadrilhas é tomar este tipo de veículo em assalto para pedir resgate posteriormente.
O vendedor A.M., 20, já foi vítima 7 vezes de bandidos em ocasiões diversas. No último assalto, em Várzea Grande, ele reagiu para que a motocicleta não fosse levada e foi alvejado por 2 tiros, que acertaram a perna e o capacete.
"Eu estava voltando do trabalho e 2 homens, numa outra moto, me abordaram, mas consegui dar a volta e quando estava de costa senti os tiros. A sorte foi que a bala prendeu no capacete".
Em outras 5 situações, A.R. foi surpreendido por bandidos dentro de empresas em que trabalhava. "Três vezes aconteceram na loja da minha sogra, uma vez quando ajudava a minha mãe na lanchonete e outra numa distribuidora de frutas, onde foram bastante violentos com todos os funcionários".
O vendedor conta ainda que nos últimos 15 dias as 2 irmãs também foram assaltadas. "Minha irmã mais velha teve a casa invadida por 2 homens durante a madrugada. Ameaçaram ela e os meus 2 sobrinhos que são crianças de 6 e 1 ano. Um dia depois que levei os tiros, minha irmã mais nova chegou em casa depois do serviço e tinham entrado na casa dela e levado o notebook. Meu pai está desesperado para ir embora daqui. Ele não aguenta mais essa violência".
Por conta da quantidade de assaltos que sofreu, a comerciante S.A.D.M., 42, também pretende ir embora de Cuiabá. Ela foi assaltada 12 vezes dentro do mercado da família no bairro Santa Amália. No último roubo, os bandidos feriram a mulher no pescoço com uma faca. "Eles chegaram drogados querendo o cofre, falando que sabiam que eu tinha dinheiro e colocaram a faca no meu pescoço".
Depois dessa ocorrência, ela fechou o comércio e vendeu pela metade do preço. "Não tinha mais como trabalhar ali. Estou me organizando e vou mudar para o interior. Eu não consigo nem sair de casa, entro em pânico".
S. toma medicamentos para controlar a ansiedade e o medo que vivenciou nas ocorrências. Ela conta que os assaltos eram praticados por grupos diferentes e que, em uma das vezes, quase a estupraram dentro do mercado. "Todas minhas filhas e genros foram vítimas ali dentro. Nenhum comércio da região era tão assaltado como o meu".
Violência - A forma violenta de atuação dos grupos que agem assusta a população. No bairro Jardim Guanabara os moradores espalharam faixas pelas ruas pedindo por segurança e atenção das autoridades de segurança. Lá, a Polícia registrou 1 dos 3 latrocínios ocorridos em maio na Capital.
O motorista Sezernandes Rodrigues Portela, 51, foi morto à tiros dentro da casa que foi invadida por 2 homens, que renderam o filho da vítima, Lucas Silva Soares Portela, 19, que abria o portão. Depois de atirar em Sezernandes, o mesmo bandido atirou contra o jovem, que não havia esboçado qualquer reação. Lucas foi atingido de raspão, mas o pai morreu na hora.
O vigilante José Ronivon de Araújo, 30, também foi morto de forma covarde com um tiro na cabeça. Depois de rendido e amarrado por ladrões que invadiram a empresa onde ele trabalhava, Araújo foi executado.
O último registro de latrocínio ocorreu essa semana, quando o trabalhador Aluizio Chagas dos Santos, 56, foi executado com um tiro no peito por 2 ladrões que invadiram a casa dele, no bairro Novo Terceiro, na Capital. Ele e a esposa foram atingidos por disparos e, mesmo ferido, Aluizio foi obrigado a entrar na casa e mostrar onde estava o dinheiro. O roubo aconteceu às 5h e as criminosos já haviam passado pelo Centro de Saúde do bairro onde renderam o vigilante e roubaram R$ 160 e 1 par de tênis. Um dos criminosos foi identificado como Scheiton, que em dezembro do ano passado foi preso depois de uma troca de tiros com a Polícia Militar.
Mudanças - O diretor metropolitano Marcos Veloso explica que a Polícia Civil está passando por uma reestruturação e os números de ocorrências deve cair ainda mais. Ele explica que a partir de 1º de junho será desenvolvido o "choque de gestão" e "choque de ordem". A iniciativa apresentará uma mudança comportamental, focada na melhoria no atendimento e ações. "A população sentirá mais a presença da Polícia Civil nas ruas".
Veloso comenta que haverá uma mudança com reforço nas delegacias de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), de Repressão ao Entorpecentes (DRE), Repressão a Roubos e Furtos de Veículos (Derrfva) e na Especializada do Adolescente (DEA).
O trabalho na DEA será intensificado por conta da quantidade de jovens envolvidos na criminalidade. Veloso garante que a incidência de pessoas com mais de 24 anos que entram na criminalidade é baixíssimo. "É grande a porcentagem de pessoas que entraram no crime durante a adolescência".
Entre as ações que serão tomadas pela Polícia Civil, está uma voltada para os receptadores de produtos roubados, que incentivam os crimes de assaltos e furtos. "Não existe roubo se não existir quem compra".
Veloso destaca ainda que o problema de segurança pública não é de responsabilidade exclusiva das polícias, lembrando que o país vive problemas nos setores de saúde pública, educação, além da desestrutura familiar, entre outros problemas que terminam refletindo na violência. "Temos uma cadeia de situações. Mas no final, a responsabilidade recai na Polícia".
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