O consumidor que pensa em reformar a casa, equipá-la com eletrodomésticos ou comprar um carro novo se surpreendeu nos últimos meses com o aumento dos preços de material e serviços de construção civil e de produtos fabricados com aço.

Tais reajustes ocorrem por dois motivos: o aumento de mais de 90% do minério de ferro, insumo básico do aço; e o aquecimento da economia -que permite repasses mais altos de custo da indústria para o varejo.

De quebra, o fim da redução do IPI para automóveis e eletrodomésticos de linha branca também fez os preços desses itens subirem.

O resultado, dizem economistas, é que esses aumentos tornam ainda mais turvas as perspectivas para a inflação em 2010, cujas taxas já foram contaminadas pelo choque dos preços dos alimentos.

Segundo a FGV, os custos de material, serviços e mão de obra da construção civil subiram 3%, em média, de janeiro a maio. Tijolo, concreto, projetos de engenharia, cimento e condutores elétricos estão entre as altas de destaque.

O reajuste do minério já rebateu na indústria: Usiminas e CSN anunciaram alta de 10% a 15% no preço do aço.

Segundo a FGV, os produtos siderúrgicos subiram 4,22% no atacado de janeiro a maio. Para o consumidor, subiram com força os preços de geladeiras (3,98%), máquinas de lavar (6,18%) e automóveis novos (2,77%).

Nesses casos, o efeito do fim do IPI reduzido prepondera, mas há também a pressão do custo do aço.

"Há espaço para aumentos da construção e do aço porque existe demanda. O perigo é que o crescimento intenso poderá exigir uma desaceleração [da economia via juros] mais vigorosa para que se contenha a inflação", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Vale ressalta que, no caso da construção, é evidente a "inflação de demanda", com mão de obra cara e escassa num período em que o setor cresce sob o impacto de programas de moradia e financiamentos mais baratos.

Os reajustes chamam mais a atenção porque o setor foi o único que obteve o benefício da desoneração ou redução de IPI estendido até o final deste ano, apesar dos aumentos de preço.

Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ, os aumentos do aço e dos itens da construção são dois "complicadores" do cenário já turbulento de inflação para este ano. Ainda assim, o consumo de ambos segue aquecido.

O peso maior do aço no custo de produção está nos bens duráveis (carros, eletrodomésticos, alguns tipos de móveis) e na construção civil -os metais para instalações hidráulicas, por exemplo, subiram 2,20% no ano.