Tabaco na infância é perigoso porque pulmão e cérebro ainda estão em formação
Criança que fuma vai mal na escola e sofre mais infecções
Não é apenas o ato de fumar ativamente, como no caso do garoto indonésio que consome 40 cigarros por dia, que afeta a saúde da criança. O fumo passivo, ou seja, o contato com a fumaça do produto de forma indireta, por causa da mãe ou do pai, por exemplo, também pode ser bastante prejudicial para a formação física e intelectual da criança.
De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), em filhos recém-nascidos de mães fumantes de 40 a 60 cigarros por dia, observa-se acidentes mais graves como palidez, cianose, taquicardia e crises de parada respiratória, logo após a mamada.
Pessoas com sete anos de idade nascidas de mães que fumaram dez ou mais cigarros por dia durante a gestação apresentam atraso no aprendizado quando comparadas a outras crianças: observou-se atraso de três meses para a habilidade geral, de quatro meses para a leitura e cinco meses para a matemática. E quanto maior o número de fumantes no domicílio, maior o percentual de infecções respiratórias, chegando a 50% nas que vivem com mais de dois fumantes em casa.
Segundo o pneumologista José Miguel Chatkin, membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia, a mãe que fumou durante a gravidez ou que fuma depois de a criança nascer, mesmo que não ao lado do filho, prejudica seu desenvolvimento como um todo, atrapalhando o rendimento escolar.
- Os filhos de mães fumantes durante a gravidez ou logo no início da vida da criança têm o desenvolvimento escolar mais baixo e média de QI menor. Isso porque a nicotina e outras substâncias do cigarro produzem vasoconstrição, ou seja, o fluxo de sangue que vai ao cérebro diminui e isso afeta o desenvolvimento do sistema nervoso central, alterando o desenvolvimento neuropsicomotor. Por isso ela demora mais até para andar.
Entre as crianças que fumam, o risco desta alteração é ainda maior, segundo o especialista.
- A concentração desta substância na fumaça que ela [a criança] está inalando é ainda maior, porque não vem de outra pessoa, de longe. O risco de adquirir uma bronquite crônica no futuro é muito grande. Essa criança também está mais exposta a também ter problema de irrigação cerebral, porque o cérebro também está em formação.
Até os oito anos de idade, os alvéolos pulmonares, áreas do pulmão responsáveis pela troca de oxigênio e gás carbônico presentes no sangue, estão se desenvolvendo de modo muito acelerado. E fumar ou ser submetido à fumaça do cigarro pode atrapalhar bastante o desenvolvimento do órgão na criança.
De acordo com Clóvis Eduardo Tadeu Gomes, pneumologista pediátrico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o tabagismo aumenta o risco de o pequeno contrair doenças complicadas, como asma, bronquite e infecções pulmonares.
Gomes conta que nunca atendeu em seu consultório uma criança que fumasse. Ele diz conhecer casos de pessoas que começaram a fumar precocemente, por volta dos dez anos, mas que é incomum ouvir notícias de crianças em idade pré-escolar que tenham desenvolvido esse hábito. Para o médico, o fumo está mais ligado mesmo ao mundo dos adultos.
– Quando você começa a fumar, o gosto e o cheiro da fumaça não são legais. Começa a ficar melhor quando você se sente mais adulto e cria rituais para o cigarro, como tomar aquela cerveja ou depois daquilo que você sabe o quê [fumar após o sexo].
Entretanto, segundo a American Heart Association (Associação Norte-americana do Coração), cerca de 60% das crianças norte-americanas entre 4 e 11 anos estão expostas ao fumo passivo em casa. Estudos mostram que as crianças de pais que fumam têm mais problemas de pulmão, como bronquite e pneumonia e podem desenvolver asma. E, por causa de pais fumantes, estão mais suscetíveis a ter tosse e disseminar mais germes, além de desenvolver mais problemas cardíacos.
Ainda segundo a associação, há evidências que estas crianças que começam a fumar antes dos 20 anos têm maior incidência de doenças coronárias e de aumento da pressão sanguínea. Estudo de autópsias de fumantes suscitaram questões sobre os efeitos do fumo na infância e na adolescência no acúmulo de gordura nas artérias na idade adulta.
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