Henry e Riva resolvem encarar Julier
Mesmo sob tensão, os principais caciques do PP, deputado federal Pedro Henry e o estadual José Riva, que preside a Assembleia pela quarta vez, decidiram partir para o enfrentamento ao juiz Julier Sebastião da Silva, um dos magistrados mais destemidos, corajosos e polêmicos da Justiça Federal. Eles buscam possíveis falhas nas sentenças, martelam a tese de que Julier, que antes de ingressar na magistratura fora militante do PT e ligado aos movimentos de esquerda e que estaria fazendo uso da toja para decretar prisões com viéis político e afirmam ainda que a classe política está sendo vítima de judicialização do processo eleitoral num momento de pré-campanha.
Quem lidera o movimento anti-Julier é Henry, que está com mandato cassado e se sustenta no cargo por força de liminar e já esteve envolvido em escândalos, como do mensalão e da máfia das sanguessugas. Na Assembleia, Riva reforça o movimento, com discursos duros da tribuna, principalmente por causa da decretação da prisão de sua esposa Janete, do genro Carlos Antonio Azoia e do irmão Rogério Riva, embora todos já estejam em liberdades (Rogério nem chegou a ser detido). Riva é outro que está "enrolado" com a Justiça. Responde a diversas ações por atos de improbidade, seus bens estão bloqueados e está afastado das funções administrativas do Poder Legislativo. Deputado de terceiro mandato, Henry acabou atraindo para si a classe política. Quer conseguir o máximo de assinaturas de lideranças de diferentes partidos e grupos para denunciar o juiz no Conselho Nacional de Justiça e em outros órgãos. Vai incluir na denúncia o procurador da República Mário Lúcio Avelar. Chegam a dizer que há conluio para "destruí-los".
Eles ignoram o conteúdo das denúncias e ligam Julier ao ex-procurador da República Pedro Taques, pré-candidato do PDT a senador. Sem entrar no mérito das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, a quem cabe, por exemplo, denunciar para, somente a partir daí, a Justiça decidir, Henry e Riva afirmam que Julier está tentando matar a classe política. É que nos últimos anos cada operação da PF que se deflagra em Mato Grosso, acaba levando para a cadeia personalidades dos meios político, empresarial e de outros segmentos. Isso destrói socialista os acusados. O curioso e intrigante é que quase todos conseguem habeas corpus com, no máximo, uma semana depois.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com os 92 que tiveram mandados de prisão decretados por crimes ambientais na operação Jurupari. Todos foram libertados, mediante decisão do desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Ele já travou embates, até de cunho pessoal, com Julier. No HC extensivo a todos envolvidos, Tourinho reforçou a "choradeira" da defesa, que acusa o juiz de tomar decisões com interesses políticos, e solicitou que Julier se explique num prazo de 24 horas. E, assim, seguem os embates e capítulos sincronizados de uma novela tantas vezes repetidas em Mato Grosso com seis protagonistas: o Ministério Público e a Polícia Federal, que oferecem denúncias e solicitam prisões; o juiz que manda os acusados para a cadeia; a classe política e outros que se dizem vítimas que partem para o protesto e, por fim, o TRF da 1ª Região, que manda abrir a porta da cadeia e, às vezes, até anular todos os processos.
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