A capital da Jamaica, Kingston, chega ao quarto dia de confrontos entre soldados e policiais contra supostos apoiadores armados do narcotraficante Christopher "Dudus" Coke, 42, que as autoridades querem prender para extraditar aos EUA, onde ele é acusado por tráfico de drogas e armas. Segundo a polícia, nesta quarta-feira o total de mortos chegou a 49.

A capital da ilha caribenha, que costuma ser uma atração turística, ficaram praticamente desertas, com poucos carros e a maioria das escolas e lojas de portas fechadas. Soldados e policiais faziam patrulhas em veículos armados.

Tiros podiam ser ouvidos nesta quarta-feira na região de Waltham Park, ao norte de Tivoli Gardens, e de Rockfort, no caminho para o aeroporto internacional de Kingston.

A maioria dos mortos eram jovens, supostos membros da gangue que apoia Coke. Eles foram mortos quando as forças de segurança fortemente armadas invadiram a favela Tivoli Gardens na segunda-feira (24). Promotores americanos alegam que o local é um forte dos apoiadores do narcotraficante.

As forças de segurança declararam ter dominado a favela nesta quarta-feira, mas os confrontos contra defensores do narcotraficante continuavam em Tivoli Gardens, segundo o ombudsman da Jamaica. Porém, Coke ainda não foi capturado.

O primeiro-ministro da Jamaica, Bruce Golding, declarou estado de emergência no domingo em dois distritos de Kingston, após supostos apoiadores de Coke atacarem delegacias com tiros e bombas, e disse que a ordem permanece em vigor por um mês.

A polícia estava investigando as recentes mortes de até 19 outras pessoas em Spanish Town, 22 quilômetros a oeste de Kingston, para ver se elas têm alguma ligação com a crise para extradição de Coke.

Chacina?

Autoridades do governo disseram a jornalistas que todos os civis mortos eram homens. Mas alguns moradores das favelas disseram a rádios locais que houve tiroteio aleatório durante a invasão da polícia na segunda-feira.

O ombudsman político Herro Blair disse que, segundo suas contas, 44 civis foram mortos em Tivoli Gardens. Ele foi enviado ao local pelo primeiro-ministro da Jamaica em uma missão de inspeção nesta terça-feira, junto com o defensor público, Earl Witter.

A polícia informou que ao menos quatro soldados e policiais foram mortos nos confrontos na capital jamaicana.

"Nós agora sabemos que com certeza há 35 corpos de civis no necrotério, e quando estávamos saindo, na noite passada, haviam outros nove para serem buscados", disse Blair, que é um bispo evangélico.

Witter disse estar preocupado com a diferença entre o alto número de civis mortos no ataque a Tivoli Gardens e o baixo número de armas apreendidas por soldados e policiais --apenas quatro, incluindo um rifle automático AK-47. "As forças de segurança têm sua própria explicação. Se eles não acham particularmente curioso, eu certamente acho", disse o defensor público.

O premiê prometeu uma investigação independente sobre os mortos durante as operações. Golding disse que "as mais completas investigações" vão examinar todas as mortes causadas pelas forças de segurança, que têm uma reputação de fazer investigações desleixadas e de serem muito rápidas no gatilho.

Muitos moradores apoiaram a invasão. "Esse país foi tomado por criminosos e tivemos 1.800 assassinatos no ano passado. Tivoli Gardens é um dos piores lugares na Jamaica e é hora de que algo seja feito pela comunidade. É como um reino dentro de uma ilha", disse a moradora Jennifer Baker.

Consequências

O governo declarou que o país está em "estado de sítio" sob domínio dos grupos criminosos, e pediu uma resposta dura contra o crime. No passado, esse tipo de medida já prejudicou a imagem da Jamaica como popular destino turístico para americanos e europeus.

A Jamaica tem uma das taxas mais altas de assassinato do mundo.

Os confrontos dos últimos quatro dias afetaram os voos de e para o aeroporto de Kingston. Também levaram o Departamento de Estado dos EUA a alertar para que os americanos não viajem para a cidade e seus arredores.

Alguns empresários reclamaram de uma queda brusca no turismo, mas autoridades disseram que a violência ainda não teve nenhum impacto na produção de banana, açúcar e bauxita da ilha.

"Dudus" Coke

Moradores dizem que Coke é temido por suas táticas linha-dura, mas que também é conhecido por ajudar moradores das favelas com contas de supermercado, empregos e taxas escolares.

Os EUA pediram a extradição de Coke em agosto do ano passado, mas a Jamaica inicialmente negou o pedido, alegando que as provas contra ele tinham sido reunidas por meio de grampos telefônicos ilegais.

Um pedido de prisão para começar o processo de extradição de Coke foi finalmente divulgado na semana passada.

Ele foi indiciado em Manhattan em 2009 sob acusações de conspiração para o tráfico de drogas e armas, acusações que têm pena máxima de prisão perpétua.

Ele é acusado de manter uma base de contrabando que exporta cocaína e maconha para Nova York e manda armas de volta para a Jamaica. Os EUA indiretamente acusam Coke de ter controlado a comunidade de Tivoli Gardens desde o começo dos anos 1990 como um "forte".

O premiê classificou como "ofensivas" algumas reportagens veiculados nos EUA e no Reino Unido ligando ele ao chefe do tráfico, informou o Serviço de Informações Jamaicano. Coke apoia o governista Partido Trabalhista, e exerce influência política no distrito eleitoral que o premiê representa.

Promotores americanos descreveram Coke como o líder do "Shower Posse", grupo que matou centenas de pessoas a tiros durante as guerras do tráfico de cocaína nos anos 1980.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS