Os 80 mil brasileiros que pegam tuberculose no Brasil a cada ano sofrem, além da doença, estigma e preconceito de parte da sociedade.

O resultado é de uma pesquisa nacional encomendada pelo projeto Fundo Global TB e realizada pelo instituto DataUFF, da Universidade Federal Fluminense.

O relatório completo será apresentado no 4º Encontro Nacional de Tuberculose, que começa hoje, no Rio.

Segundo o levantamento, as reações mais comuns das pessoas próximas a alguém que teve a doença foram separar talheres, pratos e objetos pessoais (34% das respostas) ou evitar falar, tocar e se aproximar dela (30%).

Apenas 27% disseram que nada mudou. A maioria (53%) acredita ainda ser necessário internar alguém com tuberculose.

A doença não é transmitida pelo uso dos mesmos pratos, talheres ou roupas. Quando diagnosticada precocemente, não há necessidade de internação e, após 15 a 30 dias de tratamento, não há risco de contágio.

"O preconceito ajuda a afastar o paciente do posto de saúde. Mas a tuberculose é uma doença normal. Se não houvesse tanto estigma e medo de se sentir isolada, a pessoa certamente cumpriria melhor o tratamento", afirma a coordenadora do projeto, Cristina Boaretto.

Segundo ela, esse preconceito contribui para diminuir a taxa de cura da doença no Brasil. "Ainda temos um percentual de cerca de 70% de cura, quando o desejável é que essa taxa fosse de 95%."

Além do diagnóstico tardio, contribui para o percentual de cura aquém do desejado o fato de muitos pacientes abandonarem o tratamento no meio, após os sintomas terem desaparecido, mas antes de completarem seis meses de medicação.

Para Boaretto, uma das dificuldades para mobilizar a população em relação à doença é que ela demora mais tempo para matar.

"A doença não gera aquela situação imediata de que é preciso fazer algo logo. Por isso, muitos deixam de procurar o posto de saúde e, só quando a situação está mais grave, recorrem a hospitais."

A incidência da tuberculose é maior entre portadores de HIV e pessoas expostas a situações insalubres, como domicílios em áreas de alta densidade demográfica e com pouca ventilação.
 

  Arte/Folha