Pesquisa, feita com casais africanos, mostrou que homens ficam 2 vezes mais expostos
Estudo diz que gravidez aumenta risco de infecção pela Aids
Pesquisas anteriores já mostravam que as mulheres têm maior risco de contrair a doença durante a gravidez. No entanto, um novo levantamento, realizado por pesquisadores da Universidade de Nairóbi, no Quênia, e da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, revelou que os homens têm duas vezes mais chances de se infectar quando a sua parceira portadora do vírus está grávida.
De acordo com os pesquisadores, ainda não é possível dizer exatamente qual é o motivo desse fenômeno. Uma das hipóteses é o fato de, durante a gravidez, haver maior quantidade de células imunológicas na região vaginal, situação que pode tornar homens e mulheres mais suscetíveis ao vírus durante esse período. As células imunológicas são aquelas utilizadas para a defesa do organismo.
Segundo o médico infectologista Esper Kallás, da USP (Universidade de São Paulo), o vírus da Aids se multiplica nessas células de defesa e, por isso, pode haver uma quantidade de vírus maior na mucosa da vagina. Segundo ele, pode haver ainda a influência de hormônios ou uma inflamação na vagina, o que atrairia as células de defesa.
Além do aumento da carga viral, outra possibilidade é que a gravidez e a alteração hormonal facilitarem a ocorrência de lesões na região genital, tornando a mucosa mais sensível. Kallás apresenta ainda uma última hipótese, porém menos provável, de que a mulher grávida esteja mais exposta ao vírus porque praticaria mais relações sexuais.
Richard Beigi, obstetra e professor da Universidade de Pittsburgh, disse ao R7 que a descoberta indica que os homens devem redobrar os cuidados ao se relacionar com grávidas. Entretanto, ele espera que isso não seja motivo de preconceito contra essas mulheres.
– Usar camisinha já é uma ótima medida de prevenção que todos os homens deveriam seguir. Além disso, outra forma de prevenção é os portadores do vírus seguirem corretamente o tratamento contra o HIV, o que diminui a carga viral de seus organismos.
Pesquisa foi realizada em casais africanos
No estudo, os pesquisadores acompanharam, por dois anos, 3.321 casais, em que um dos parceiros estava infectado pelo HIV e o outro não. Desse total, em 1.085 dos casos o homem era soropositivo, enquanto em 2.236 dos casais a mulher estava infectada. Durante esse período, foram registradas 823 gestações nesse grupo.
Os voluntários analisados moravam em países africanos como Botsuana, Quênia, Ruanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia.
Entretanto, para o especialista da USP, é preciso ter cautela com o resultado da pesquisa, já que foi realizado em países que tratam a Aids de uma forma diferente daquela adotada no Brasil.
- Essa realidade é aplicada para a região onde foi feito estudo e não dá pra transpor [o resultado] para a realidade brasileira.
Kallás justifica que, além das diferenças étnicas, biológicas, sociais e econômicas entre o Brasil e aqueles países africanos, é preciso levar em conta que as brasileiras portadoras do HIV que ficam grávidas são colocadas em tratamento, o que afetaria as conclusões do estudo.
- Se essas mulheres portadoras [avaliadas] que ficaram grávidas seguissem as normas brasileiras, elas entrariam em tratamento no mínimo a partir da segunda metade da gravidez, o que diminuiria a quantidade de vírus.
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