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Segunda - 24 de Maio de 2010 às 09:09
Por: Raquel Ferreira

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A aparição do crack em Mato Grosso começa ser registrada de forma tímida e Cuiabá já tem um núcleo de consumo identificado na área central da cidade, localizado próximo à Rodoviária de Cuiabá e aos olhos de quem quiser ver. O enfrentamento a esta droga virou foco do governo federal, que lançou esta semana o Plano Nacional de Combate ao Crack, com liberação de R$ 410 milhões para o programa. Estima-se que em todo o país existam 1,2 milhões de usuários, porém não existem dados concretos e oficiais. Mas o crescimento do consumo é alarmante.

O baixo número de apreensões do crack em Mato Grosso mostra que o entorpecente ainda não é de grande circulação no Estado. Conforme a Polícia Civil, na última queima de drogas apreendidas em 2009 foram destruídos 255.173,37 quilos de entorpecentes sendo 138.033,11 quilos de cocaína, 94.987,09 quilos de maconha, 21.435,05 quilos de pasta-base e 434 gramas de crack, entre outras substâncias.

A gerente do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS-AD) de Cuiabá, Débora Canavarros, afirma o álcool e a pasta-base são as principais causas de internação na unidade de tratamento. "Estatisticamente, o número de usuários de crack é baixo. Alguns pacientes em tratamento contam que usavam o crack em outros locais, mas aqui passaram a usar a pasta-base porque é mais fácil de encontrar".

Débora aponta ainda que o crack é muito agressivo e letal. Assim, muitos viciados não chegam a ter tempo de procurar um tratamento para largar o vício. Tanto o crack quanto a pasta-base derivam da cocaína e têm efeitos arrasadores no organismo. Mas o crack é ainda mais tóxico. O entorpecente é o resto do refino da cocaína. Já a pasta-base é o que origina o pó.

Dados nacionais afirmam que os usuários de crack são geralmente adolescentes em torno de 13 anos. A jovialidade dos dependentes de pasta-base em Cuiabá também é apontada pela gerente. Ela destaca que os efeitos aparecem de forma muito rápida, diferente do álcool cujos efeitos vão se agravando com o tempo e os pacientes têm mais de 30 anos.

Para o senador Magno Malta (PR - ES) o crack é um problema sério que está se alastrando pelo país e se interiorizando. Ele comenta que uma geração já foi perdida para esta droga, que vicia em três "baforadas" e proporciona ao usuário uma destruição rápida. "O crack faz em 90 dias o que a cocaína demora 12 anos para fazer no organismo do usuário".

Plano - A ideia de interiorização do crack no Brasil também é defendida pela Presidência da República, que lançou o Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack na semana passada. O novo plano traz vários pontos em comum com o programa lançado em junho de 2009 pelo Ministério da Saúde para atuar de forma emergencial no controle do cenário da expansão do consumo de drogas diversas (álcool, crack, solventes e cocaína (pasta base, crack e merla), inalantes drogas sintéticas, entre outras). O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a semelhança, destacando que o programa não tem novidades, mas sim a intensificação de esforços e a destinação de recursos para fazer melhor o que já é feito.

Assim como no modelo lançado ano passado, o plano atual aposta na prevenção, combate e tratamento. Inicialmente, parte dos R$ 410 milhões, que serão investidos este ano serão destinados a ampliação de número de leitos para tratamento de dependentes químicos nos hospitais gerais do país, além de promover a transformação de 110 centros especializados em álcool e drogas (Caps-AD), em municípios com mais de 250 mil habitantes, em Caps III, que funcionarão 24 horas por dia.

Conforme o anúncio, o plano vai contar apoio da Polícia Federal e guardas municipais no combate e prevenção. A elaboração de estudos aprofundados sobre as consequências do uso do crack e o impacto econômico, além do mapeamento das rotas do tráfico também fazem parte desta estratégia. O plano foi elaborado em reuniões com a participação de diversos ministérios como os da Saúde, de Educação e da Justiça e do Gabinete de Segurança Institucional.

A gerente Débora destaca que a integração de ações e frentes de trabalho é a melhor forma de enfrentar o problema que vivemos. "Nenhuma ação de saúde mental sobrevive sozinha".

Família - O psicólogo Jair José Schuh afirma que o problema familiar é o principal motivo que leva a pessoa a usar drogas. Ele destaca que o entorpecente é o sintoma de um problema, que geralmente é provocado pelo comportamento familiar.

O psicólogo destaca que existe cura para a dependência, mas os métodos de tratamentos ainda são experimentais e individuais. Até mesmo porque as pessoas reagem de formas diversas a uma mesma situação. Apesar da complexidade do ser humano, Schuh garante que a participação da família é indispensável para a recuperação do usuário.

"Estatisticamente, o que vejo no consultório é um sucesso de 30% para o dependente que se trata sozinho e quase 100% dos que vêm acompanhados dos pais e irmãos. As vezes o paciente não deixa o vício totalmente, mas ele consegue se relacionar melhor".

Pela experiência das clínicas, o psicólogo destaca que a maioria dos pacientes mostra problemas não superados em relação aos pais. São vários os motivos que levam uma pessoa a procurar fuga nas drogas: a falta ou excesso de limites, violência, falta e excesso de atenção entre outras problemáticas.

O especialista orienta que os pais devem ficar atentos à educação dos filhos logo na primeira infância, que é o período de formação do indivíduo.

Débora concorda com Schuh e acrescenta que essa procura intensa pelas drogas é relacionada ao imediatismo da vida atual. "Todo mundo quer viver o agora, o prazer". Os riscos e conflitos também impulsionam os usuários.





Fonte: A Gazeta

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