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Economia
Segunda - 24 de Maio de 2010 às 06:51

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A indefinição sobre as barreiras tarifárias ao etanol brasileiro em mercados como o dos Estados Unidos e da Europa é apontada pelos usineiros como um dos motivos para a letargia dos investimentos no aumento de produção no setor sucroalcooleiro.

 

Um estudo feito pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) mostra a dimensão da queda no número de novos projetos no setor. De acordo com o levantamento, de 2005 a 2009, o Brasil viu a abertura de 102 usinas ? uma média de 20,6 unidades por ano.

Neste ano, a previsão da Unica é de que sejam inauguradas apenas dez usinas, concentradas na região Centro-Sul. Para 2011, o número deve cair à metade ? somente cinco plantas.

Os investimentos na ampliação da produção não ganharam força nem mesmo com a onda de fusões e aquisições no setor sucroalcooleiro nos últimos meses, marcada pela participação mais expressiva de grandes grupos. A Shell se juntou à Cosan, a Petrobrás anunciou uma parceria com o grupo francês Tereos para investir em conjunto na Açúcar Guarani e a multinacional Bunge comprou a Moema. Embora as empresas tenham comprado fatias nesses negócios, pouco se fala sobre novas usinas.

Além das barreiras tarifárias no exterior, os usineiros reclamam da ausência de regras que indiquem o rumo a ser tomado pelo mercado nacional do álcool obtido da cana.

"Falta por parte do governo uma definição que garanta ao setor o crescimento contínuo do etanol. Precisamos de medidas que reduzam a volatilidade do preço e do consumo. Países como os Estados Unidos têm clareza do que será a matriz energética e como vão se inserir os combustíveis não fósseis nos próximos anos. Mas aqui, onde o etanol é tão representativo, o mesmo não acontece", critica Marcos Jank, presidente da Unica.

Mercado externo. Para voltar a investir em grande escala, o setor torce principalmente pelo corte das barreiras tarifárias no mercado internacional. Sobretudo nos Estados Unidos, onde a Unica aproveita cada oportunidade para convencer os congressistas dos pontos benéficos da queda da taxa de 54 centavos de dólar por galão (leia mais acima) de etanol importado do Brasil.

"Aquele boom que se viu entre 2005 e 2007 pode não se repetir. Só com a abertura do mercado internacional podemos ver um movimento semelhante de investimento em novas usinas", avalia José Rezende, sócio da PricewaterhouseCoopers.

Apesar dos planos de expansão engessados, o especialista acredita que o setor sucroalcooleiro continuará a atrair competidores, como as empresas petroleiras, e a fomentar negócios que tenham como objetivo a consolidação da atividade.

Sergio Leme, presidente da Dedini, fabricante de equipamentos para usinas, diz que a demanda por orçamentos para projetos de usinas é maior do que se viu em 2009 ? ano de crise ?, mas inferior a anos anteriores. "Já houve euforia maior. Muitos grupos estão de olho mesmo é na possibilidade de exportação de etanol", diz o empresário.

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e professor da Fundação Getúlio Vargas, é claro na avaliação sobre o etanol. "Nenhum desses grandes grupos vem fazer álcool no Brasil por causa do mercado interno. Quando os gigantes se mexem é porque estão olhando o mercado global. Com o crescimento previsto para mercados automobilísticos como o chinês e o indiano, é inevitável pensar que não haverá petróleo para tantos carros. É aí que entra o etanol", explica Rodrigues.

Foi o que motivou a associação entre Shell e Cosan, no início do ano. "A Shell, nossa parceira, tem 14 mil postos nos Estados Unidos. Mas precisamos que o processo de internacionalização do etanol se acelere", diz Pedro Mizutani, presidente da Cosan. A empresa é líder no processamento de açúcar e etanol de cana-de-açúcar. Na safra 2008/2009, a empresa moeu 52,6 milhões de toneladas de caca.

Outro grupo em ritmo de espera é o Cerradinho, dono de três usinas no Centro Oeste. "Não estamos projetando novas unidades ou mais investimentos. Ainda temos de consolidar os investimentos feitos no passado", explica Luciano Sanches Fernandes, presidente da empresa.

Empecilhos. Para Alexandre Figliolino, executivo do Itaú BBA da área de agronegócio, a dificuldade mais imediata a ser resolvida está no mercado interno. Neste ano, 90% da frota de novos modelos será flex. Para ser escolhido pelo consumidor, o etanol precisa custar no mínimo 70% menos que a gasolina.

Como o motorista, inevitavelmente, compara os dois combustíveis, o preço do etanol acaba ficando amarrado ao da gasolina ? que, por sua vez, tem seu valor está atrelado a decisões políticas da Petrobrás. "O etanol é uma commodity, mas o preço da gasolina para o consumidor cria um teto que impede que ele oscile de preço como deveria. Para investir com segurança, os produtores precisariam ter uma visão clara de que o cenário é positivo e de que vão ser remunerados adequadamente", diz.

Contramão. A Brenco (do Grupo Odebrecht), que em fevereiro passado anunciou a compra da ETH, foge ao clima de espera. Com a pretensão de atropelar a Cosan e se tornar a líder do setor, a empresa terá até 2012 nove usinas ? parte delas já está em operação.

José Carlos Grubisich, presidente da Brenco, diz que, para desafiar a concorrência, lançará mão da tecnologia da Odebrecht para construir usinas modernas e das pesquisas com cana-de-açúcar no setor petroquímico por meio de outra companhia do grupo, a Braskem.

Mas falta à Brenco e a outras empresas instaladas no Centro-Oeste o investimento em um álcoolduto. A construção de uma estrutura para transportar o combustível reduziria os custos com a logística.

Especula-se que a Petrobrás poderia ser um parceiro estratégico no álcoolduto, mas até agora nada saiu do papel. "O setor vai exigir cada vez mais competitividade, seja na operação, seja no capital. Por isso acredito na consolidação também entre os grandes grupos para ganhar escala na produção e no mercado", analisa Grubisich.






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