Baixa visão é confundida com cegueira e prejudica desempenho de alunos
A descoberta precoce fez com que Dandara aprendesse a usar a visão que tem e a desenvolver o sentido. Mas nem todos alcançam esse objetivo.
"De 70% a 80% das crianças diagnosticadas como cegas têm alguma visão útil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)", alerta a médica Luciene Fernandes, coordenadora do Serviço de Visão Subnormal do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
Leticia Moreira/Folha Imagem |
Dandara Sousa da Costa, 7, com a mãe, Giselda Sousa Nascimento |
Confundida com a cegueira, a descoberta da baixa visão cabe aos pais e também aos professores, diz Fernandes. "Toda criança tem que fazer exames de visão com 1, 2, 4, 7 e 10 anos de idade. As escolas deveriam cobrá-los", diz.
A Santa Casa de SP capacita professores de escolas municipais regulares a oferecer condições adequadas ao aprendizado de crianças com baixa visão. O workshop já passou por Barueri e Mairiporã e chegará a Itaquaquecetuba e Piracicaba neste semestre.
"Estamos visitando os municípios em parceria com as prefeituras", diz Ana Lucia Rago, fisioterapeuta e psicopedagoga do Setor de Visão Subnormal da Santa Casa de São Paulo.
O Ministério da Saúde está implantando unidades de reabilitação visual para tratar desde o diagnóstico até o fornecimento de recursos ópticos de reabilitação. O serviço pode ser encontrado em unidades do SUS (Sistema Único de Saúde).
Números
Dos alunos matriculados no ensino regular no ano passado, 398,2 mil tinham algum tipo de necessidade educacional especial. Desse total, 14,2% com baixa visão e 1,3%, cegos, segundo dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira).
Em São Paulo, ao menos 10,8 mil estudantes sofrem de visão subnormal, número que pode ser maior. "Conheço crianças que tinham alguma condição de enxergar, mas foram diagnosticadas cegas e educadas como cegas. Infelizmente não é raro", afirma a coordenadora do Serviço de Visão Subnormal do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
Para Ana Lucia Rago, ainda há muito despreparo por parte dos professores para entender o comportamento desses alunos especiais e identificar a baixa visão.
"Quem tem esse problema coloca o objeto perto dos olhos para conseguir ver. Já vi professor falar que isso é errado. É, porém, o jeito da criança enxergar", exemplifica Rago. Ela diz que a deficiência não tem cura, mas a criança "pode aprender a usar a visão que tem da melhor forma possível."
A professora Ivonete Rodrigues fez cursos para aprender a lidar com Dandara e identificar outros casos. "Temos que suspeitar das dificuldades e comunicar aos pais. A baixa visão é mais comum do que a gente imagina", diz. Ela ainda fez adaptações, como aumentar o as letras escritas e usar cores.
Saiba mais
Eu tenho baixa visão?
A pessoa com baixa visão é aquela que mesmo após tratamentos ou correção óptica apresenta diminuição considerável de sua função visual. A maior parte da população considerada cega tem, na verdade, visão subnormal e é, a princípio, capaz de usar sua visão para realizar tarefas. Já o paciente com cegueira é aquele que perde totalmente a visão. Para cada pessoa cega há em média, 3 ou 4 com baixa visão.
Quais são os sinais?
Alteração na aparência dos olhos: estrabismo (olhos não alinhados), nistagmo (tremor nos olhos), movimentos irregulares, pupila com mancha branca, alteração na coloração da córnea. Há também alguns comportamentos diferenciados: fotofobia (hipersensibilidade à luz), posição da cabeça para olhar (aproximar o rosto muito perto do objeto para ler), dificuldades na coordenação motora.
Como lidar com a baixa visão na sala de aula?
Colocar o objeto perto dos olhos é permitido e deve ser incentivado. Ao aproximar, a imagem fica maior e mais nítida. Pode-se usar apoio de livro, suporte para folha, lupa, telescópio, óculos com lentes de magnificação (ampliação das imagens), lápis 4B ou 6B (aumenta o contraste). Evitar superfícies com brilho.
Fonte: Santa Casa de SP e Perkins
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