Prepare-se para entrar em um território restrito. Em Tarrytown, no estado de Nova Iorque, em uma conferência reúne 800 pessoas de todas as partes dos Estados Unidos, abrir um saquinho de amendoim pode provocar um choque anafilático. Um perfume francês pode desencadear um ataque de asma. O que o público desse encontro tem em comum? Alergia severa.
Aos 17 anos, Carlo tem muito o que ensinar, até mesmo como enfrentar situações difíceis para um alérgico. “Eu lutei muito para me adaptar. Eu me sentia isolado, quando tinha 10 ou 12 anos. Os amigos me provocavam, diziam assim: ‘esse sorvete é tão bom, pena que você não pode comê-lo’".
Orientação é fundamental. Nos Estados Unidos, os alérgicos são aconselhados a levar sempre uma injeção de epinefrina, a adrenalina sintética. Aplicar a injeção é uma medida extrema, em caso de uma reação grave. A injeção é vendida vazia, para que o alérgico possa treinar como usá-la em caso de emergência.
O alergista Scott Sicherer, do Instituto Jaffe de Alergia Alimentar em Nova York, explica que 12 milhões de americanos são alérgicos a algum tipo de alimento.
Algumas pesquisas indicam uma relação entre o que mais se come em um país e o que mais provoca alergia. Na Ásia, é mais comum alergia a arroz. Nos Estados Unidos, os vilões são o leite e o amendoim, a base da famosa manteiga de amendoim americana.
Um programa com os amigos para o fim de semana, jantar em um restaurante, pode virar um pesadelo para quem sofre de alergia alimentar. Como saber se entre tantos pratos saborosos não há uma pitada de farinha, castanhas picadas? Em Nova Iorque, esse não é um problema. Existem vários restaurantes especializados em comidas para alérgicos.
O pedido chega à cozinha com uma etiqueta, avisando que a cliente é alérgica. A chef Meghan adapta a receita do prato mexicano. A tortilha é feita com milho, e não com trigo. O molho é sem glúten. E a cozinheira elimina também o amendoim. Outro adesivo é colado no prato, assim que a comida fica pronta. "É uma dupla checagem", explica a chef.
A americana Sloane é uma alérgica tarimbada. “Sou alérgica a nozes, castanhas, salmão, berinjela, melão, capim limão e tomate", revela a jovem.
Sloane conheceu um rapaz. O primeiro jantar romântico foi cercado de cuidados, sem qualquer ingrediente que pudesse provocar alergia.
"As coisas ficaram quentes. Ele começou a me beijar, mas eu comecei a sentir a minha pele formigando, coceiras onde ele tinha me beijado, o rosto ficou quente e inchado. Fiquei com dificuldade para respirar, corri para o espelho e vi que estava coberta de manchas”, conta a jovem. "Ele me contou que, antes do jantar, resolveu fazer um lanche e comeu um saquinho de castanhas de caju”.
O beijo poderia ter sido fatal, mas Sloane diz que a sorte foi ter avisado o candidato a namorado sobre a alergia, sem medo ou vergonha. Ele a ajudou com os primeiros socorros e, no dia seguinte, a convidou para um novo encontro, mantendo distância de castanhas de caju.
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