Com o resultado, o Brasil tem presença assegurada na decisão da Libertadores-2010. Inter e São Paulo vão se enfrentar por uma das vagas na final. Os confrontos entre os clubes que decidiram o título em 2006 serão realizados em 28 de julho (Beira-Rio) e 4 de agosto (Morumbi). Curiosamente, as duas equipes duelam no próximo domingo, em Porto Alegre, pelo Campeonato Brasileiro.
O semifinal verde-amarela na competição continental terá Fernandão como o principal personagem. Capitão colorado nas conquistas da Libertadores e do Mundial da Fifa há quatro anos e maior ídolo recente do clube, o meia-atacante terá agora a missão de, com a camisa do Tricolor Paulista, tentar eliminar o ex-clube.
O jogo em Quilmes terminou em uma imensa confusão. Após o apito final, Desábato se desentendeu com o compatriota Abbondanzieri e, mesmo contido por Guiñazu, atingiu o goleiro com um chute. Pato se afastou, evitando o revide. Mas o seu reserva Lauro deixou o banco e agrediu o defensor do Estudiantes, ampliando o problema. O arqueiro suplente saiu correndo pelo campo, mas não escapou de pontapés. Desábato voltou a partir para cima de Abbondanzieri e o agrediu com uma cabeçada. A briga se estendeu para a entrada do vestiário colorado até que os policiais argentinos conseguissem serenar os ânimos.
O exército de um argentino só
De um lado, o Estudiantes. Do outro, D’Alessandro. E ninguém mais. O Inter foi tão pobre no primeiro tempo, foi de uma mediocridade tão incompreensível, que nem a atuação acima do normal do camisa 10 colorado foi suficiente para segurar o clube de La Plata. O time de Jorge Fossati não teve ousadia, infiltração, características que marcam as equipes que querem vencer seus jogos. Pior: o Inter foi a campo adormecido. Só acordou porque levou duas pancadas na cabeça, uma depois da outra, quase um nocaute.
A primeira chance de gol do Colorado só foi acontecer aos 30 minutos de jogo. Aí está a melhor comprovação de que o Inter foi inferior a seu tamanho habitual no primeiro tempo em Quilmes. Pato Abbondanzieri, com uma trapalhada atrás da outra, só complicou a situação. Com nove minutos, ele mandou uma bola no pé de Verón. Não podia ter feito escolha pior. O craque emendou direto para o gol, mas o goleiro se recuperou. Três minutos depois, Verón tentou outra vez, de fora da área. Pato espalmou bem.
O Estudiantes avançou como um exército com passos matematicamente coordenados. Quando o Inter percebeu, estava sendo eliminado da Libertadores. González, aos 20 minutos, recebeu belo lançamento em profundidade. A zaga ficou pensando na vida. Abbondanzieri saiu no adversário de qualquer jeito e foi encoberto. A bola viajou por alguns segundos que duraram a eternidade. E entrou. Verón, no meio do campo, ergueu os braços para uma torcida enlouquecida. O lançamento, de antes da linha divisória, havia sido dele, o dono do clube, uma divindade para os torcedores.
Ruim, não? Pois ficou muito pior. Mais um minuto, mais um gol. Enzo Pérez pegou na esquerda do ataque e resolveu que faria o gol. Mandou dali mesmo, como quem não quer nada. A bola fez uma curva e entrou no ângulo esquerdo de um Abbondanzieri surpreso. Golaço.
Vale repetir: foi só depois disso, aos 30 minutos, que o Inter teve uma chance de gol. Andrezinho, pela direita, mandou na área para Alecsandro pegar de primeira. Orión defendeu. Foi um lance emblemático, porque o Colorado cresceu a partir dele. A equipe gaúcha avançou, passou a ter alguma triangulação na frente, pelo menos cercou a área do Estudiantes, mesmo que não tenha alcançado grandes oportunidades. Já foi um início. O problema é que ter só um início é muito pouco contra um oponente do tamanho do Estudiantes. Era preciso ter começo, meio e fim. Era preciso ter um time inteiro, não só um argentino.
Gol salvador no final
E, por um desses mistérios do futebol, foi sem o argentino que o Inter acabou encontrando o caminho da salvação e da vaga. Com o 2 a 0 que lhe servia, o Estudiantes voltou do intervalo diferente. Saiu o atacante González, entrou o lateral Angeleri. E o time argentino mudou de sistema, adotando o mesmo 3-6-1 colorado. O jogo se tornou mais lento, mas o clube da casa não perdeu o controle, mantendo por mais tempo a posse de bola. Pato Abbondanzieri salvou o Inter em pelo menos dois lances, defendendo arremates de Boselli e Sanchéz aos dez e 17 minutos, respectivamente.
Diante da clara falta de força ofensiva do time, Jorge Fossati decidiu mexer, fazendo o inverso do que o colega Alejandro Sabella adotou no Estudiantes: colocou um atacante (Walter) no lugar de um lateral (Nei). O Colorado conseguiu as primeiras conclusões a gol na etapa final aos 26 e 29: um chute de longa distância de Sandro e uma cobrança de falta de Andrezinho. Ambas defendidas por Orión.
Diante da clara ameaça de eliminação, Fossati arriscou tudo aos 31 minutos ao tirar D"Alessandro, que caiu de produção na segunda etapa, e mandar Guiliano a campo. Oito minutos depois, o time criou uma chance clara. Andrezinho tabelou com Alecsandro e acionou Walter. O atacante invadiu a área pela esquerda e chutou cruzado, por cima de gol. O erro levou os colorados ao desespero. Seria a chance de ouro jogada fora?
Não. O milagre colorado aconteceu aos 43, em meio à fumaceira causada pelos fogos de artifício lançados pela torcida do Estudiantes. Guiliano recebeu lançamento de Andrezinho pela direita, invadiu a área e chutou cruzado, vencendo o goleiro Orión.
O Estudiantes não teve forças para reagir ao golpe tardio, que encerrou sua esperança de ganhar o torneio pela segunda vez seguida. Só encontrou ânimo para a confusão em campo pós-jogo. Que não impediu o Inter de comemorar a classificação milagrosa na Argentina.
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