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Internacional
Segunda - 17 de Maio de 2010 às 05:39
Por: Roberto Simon

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O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou ontem, em Teerã, que um acordo sobre o programa nuclear iraniano foi alcançado nas negociações da qual o Brasil participou. O anúncio atropelou autoridades brasileiras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma agenda cheia em Teerã, mas não mencionou o entendimento em seus discursos.

Segundo Erdogan, que só confirmou sua visita a Teerã ontem, os iranianos aceitaram trocar seu urânio por material nuclear após 18 horas de negociação, na prática, abrindo mão de avançar no processo de enriquecimento no país. Até ontem à noite o Itamaraty não havia confirmado a informação. Mas Erdogan, seu chanceler, Ahmet Davutoglo, e fontes turcas que falaram ao Estado em condição de anonimato garantiram que o pacto já está selado.

A ideia é formalizar o acerto na reunião de hoje do G-15 (17 países em desenvolvimento) em Teerã. O texto do novo acordo foi montado em cima de uma proposta debatida em outubro na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

O plano prevê que o Irã entregue 1.200 quilos de urânio e receba em troca o material nuclear (enriquecido a 20%) equivalente para seu reator de pesquisas médicas. Até agora, temendo ser enganado, o Irã insistia que a troca tinha de ser feita no seu território, mas alguns países não concordavam.

As três partes envolvidas na negociação concordaram ontem que a troca ocorrerá em território turco. Não está claro se já foi definido o prazo entre a entrega do urânio e o recebimento do material nuclear. Em outubro, os EUA não aceitavam uma troca imediata, como exigia o Irã, porque, na prática, isso aceleraria o programa nuclear iraniano.

"Amanhã teremos boas notícias", disse ontem o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. "Estamos com algo no forno", completou o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, passou o dia reunido com Mottaki e Davutoglu. O negociador-chefe do Irã para assuntos nucleares, Saeed Jalili, também conversou com Amorim.

Valores morais. Qualificando Lula de "bom amigo" e "irmão", Ahmadinejad afirmou que Brasil e Irã compartilham "valores morais". "Somos contra a discriminação, o preconceito, a agressão e a tirania", disse o iraniano.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da República Islâmica, também reuniu-se com Lula. "Os EUA se revoltam com países independentes, como o Irã e o Brasil", disse Khamenei a Lula. "Por isso eles fizeram esse estardalhaço antes de sua visita."

 

PONTOS-CHAVE

Proposta da AIEA
Em outubro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) propõe ao Irã enviar urânio para França e Rússia, que o devolveriam enriquecido o suficiente para pesquisas

Condenação

Em novembro, a AIEA condena o Irã por manter segredo sobre estação de Qom. Teerã diz que motivação é política e anuncia construção de dez novas instalações nucleares

Pressão americana

O presidente americano, Barack Obama, diz que a única forma de frear o programa nuclear iraniano é a adoção de novas sanções pela ONU ao país. Grã-Bretanha, e França reforçam esta posição

Defesa brasileira

Contrariando os EUA, o presidente Lula afirma que sanções prejudicariam somente o povo iraniano e defende o direito do Irã de levar adiante um programa nuclear pacífico

Antecipação turca

Depois de 18 horas de negociação em Teerã, a chancelaria turca anunciou ontem um
acordo, confirmado logo depois pelo premiê turco, Recep Tayyip Erdogan (foto)

PARA ENTENDER
Viagem tem caráter decisivo

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é apontada como a última oportunidade para o Irã chegar a um acordo com a comunidade internacional sobre seu programa nuclear. Embora considerem a visita uma perda de tempo, países como EUA, Grã-Bretanha e a França aproveitam a ocasião para enviar um novo ultimato aos iranianos.






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