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Domingo - 16 de Maio de 2010 às 05:02
Por: Ana Rosa Fagundes

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A senadora Serys Slhessarenko (PT) parece inconformada com ideia de não poder ser candidata à reeleição. Única senadora do PT que disputou uma prévia dentro do próprio partido para poder tentar a reeleição, perdeu para o presidente da sigla, deputado federal Carlos Abicalil, que será o candidato ao Senado pelo Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso este ano.

Desde que foi derrotada nas prévias, realizadas no dia 18 de abril, a parlamentar não tem deixado barato. Quer causar desconforto aos que lhe imputaram o fato de ser “jogada de escanteio”. Está revidando de todas as formas possíveis. Faz discursos inflamados e emotivos no Senado, conquistando, por onde passa, adeptos à sua causa perdida.

Logo depois das prévias, Serys surpreendeu ao dizer que vai apoiar Mauro Mendes (PSB) como governador. Até então todo o PT estava praticamente selado com o projeto de reeleição do governador Silval Barbosa (PMDB).

Nesta entrevista ao Diário, uma das mais contundentes, apesar de se dizer tranquila com a situação, Serys foi ácida com seus colegas de partido. O tom de revolta é o que mais se nota em sua fala. Motivos para isso ela despeja. Serys é uma senadora atuante, com destaque nacional. É, inclusive, vice-presidente do Senado. Tem grandes bandeiras pelas quais é reconhecida, como a luta pela defesa da mulher e questões ambientais, mas sem deixar de lado atenção para problemas pontuais, como a falta de creche numa cidade do interior, por exemplo. “Querem me usar como escada. Onde está a ética?”, reclamou a senadora.

Diário de Cuiabá - As disputas internas no PT sempre foram consideradas normais dentro da trajetória do partido, que tem, inclusive, várias correntes. Mas a senhora não acha que os embates de seu grupo com o do deputado Carlos Abicalil prejudicaram de alguma foram a sigla? Essas divergências podem se refletir nas urnas, com perdas para o partido?

Serys Slhessarenko - Eu temo muito pelo partido em Mato Grosso por causa da forma como o deputado e presidente do PT está agindo. Nós estamos vivendo uma situação diferente e única dentro do PT. Nunca um senador do PT deixou de disputar eleição na história democrática desse país. Se ele buscasse participar, participaria. Isso é uma coisa natural, ainda mais porque o meu mandato é bem avaliado. Estou entre os melhores senadores avaliados dentre de uma série de critérios, em nível de Brasil. Não existe um motivo com a menor consistência para o deputado Carlos Abicalil ter cassado a minha possibilidade de candidatura. Ele não tem justificativa para isso, a não ser a ganância. Eu não tenho diferenças políticas e ideológicas com ele. Tenho até um bom relacionamento. Eu o acho um bom deputado, mas a nossa diferença é de princípios éticos. Eu não consigo trabalhar com os mesmos princípios com os quais ele trabalha: da ganância, da busca de cargos, de interesses diversos e principalmente a forma de agir, usando a máquina. Eu não tenho esse tipo de procedimento. Não sei trabalhar assim e nunca vou trabalhar assim. As pessoas estão sendo coagidas. Estão oferecendo cargos para quem me apoiava na tentativa de conquistar apoio. Não sei agir dessa forma. Por isso eu temo muito pelo partido em Mato Grosso, pela forma como Abicalil está agindo. Isso, sem dúvida, não vai fortalecer o PT. É mais grave ainda porque deveríamos estar todos unidos neste momento em que temos a campanha com vistas à eleição da ministra Dilma Rousseff. A ganância dele está colocando em risco muita coisa. Seu interesse pelo poder é maior que o próprio PT de Mato Grosso. Eu não sei que futuro está reservado ao meu partido sob a presidência dele. Acho que a linha divisória entre a ambição e ganância é muito tênue. Ambição pode ser saudável, a pessoa que galgar novos postos; outra coisa é você não ter uma coisa e roubar do vizinho. Agora ele está até me chamando de desequilibrada emocional.

Diário - A senhora fala das declarações dele, mas também partiu para o ataque.

Serys - Não, eu parti para revelar verdades.

Diário - Quais verdades são essas?

Serys - Por exemplo: eu que sempre tratei Mato Grosso por inteiro, nunca fiz distinção entre siglas, não olhava se um prefeito é do partido x ou y. Eu procuro saber a necessidade daquele município e busco ajudar, sem distinção. Eu também não divido o partido em grupelhos. Eu era presidente do partido quando o grupo dele – Abicalil, Ságuas [Moraes] e Alexandre [César] – buscou ir para o governo Maggi. Naquela época, eu convoquei o partido e não fiz nenhum ato rasteiro. Muito pelo contrário, coloquei as coisas democraticamente e ainda deixei que eles fizessem as indicações de secretarias. Nessa situação eu podia ter pedido que as indicações fossem minhas. Mas não, deixei tudo para o grupo dele e estou pagando o preço hoje, porque eles foram para dentro da Educação, da Funasa, do Incra, se cacifaram e vieram me enfrentar nas prévias. Nunca pensei que pudesse ver esse tipo de atitude. Para se ter uma ideia, eu avaliei a ficha de filiação do Abicalil no partido. Estou há muito mais tempo que ele no PT. No entanto, ele não tem nem a atitude de dizer que o meu mandato é um dos melhores da história de Mato Grosso.

Diário - A senhora declarou que ele usou a máquina nas prévias, com a ajuda das indicações políticas que tem na Secretaria de Educação e chegou a ligá-lo ao aloprado Valdebran Padilha...

Serys - Ligação dele com Valdebran não foi eu quem fez! Isso já vem sendo feito há muito tempo. Isso é com a Justiça. Mundo do crime não é comigo. Inclusive, fui premiada por apresentar um dos melhores projetos da última legislatura que é o que trata da tipificação do crime organizado.

Diário - Ainda há alguma chance de entrar na disputa como senadora? Ainda faltam dois meses para a convenção. E se houver um movimento nacional a seu favor e Abicalil recuar...

Serys - Eu não acredito... Isso tudo devia ter sido resolvido antes das prévias. Não poderíamos ter dado margem para essa disputa. Mas elas aconteceram e para mim ficou uma série de interrogações. Quero deixar claro que eu não faço o jogo dele. Enquanto eu estava trabalhando no Senado, arcando com as responsabilidades que se exige de um senador, ele estava articulando isso. Perdi por uma pequena diferença de votos, mas ganhei nos maiores colégios eleitorais. Em 2002, quando a causa era dada como perdida, eles me obrigaram a ser candidata a senadora. Eu só queria ser deputada estadual mais uma vez. Porque não ele não quis naquela época? Agora, que aparentemente está mais fácil, eles me descartaram. Usaram-me de escada. Mas nenhuma eleição se ganha de véspera. Pelo menos eu, que acredito que é o eleitor quem elege o candidato, não acho que eleição se ganha de véspera. Gostaria de saber a que interesses ele está servindo, o porquê desse desespero, o que está por trás disso. Não deve ser só para beneficiar o grupo dele, seria muito feio. Para eleger Alexandre, ter que tirar o Ságuas; para eleger o Ságuas, ter que tirar o Abicalil; para eleger o Abicalil, ter que tirar a senadora. Me jogaram fora, me usaram de escada. Pergunto: além de transformar Ságuas, Alexandre e Abicalil nos todo-poderosos do PT – o trio parada-dura -, o que mais há por trás disso? Deve haver mais coisa que a gente desconhece. Ele nunca quis o entendimento e por isso eu não consigo entender que projeto é esse. Sei que não é do PT.

Diário - Até há pouco tempo a senhora era uma defensora da aliança com o PMDB e PR, tendo o governador Silval Barbosa como candidato à reeleição. Por que só depois das prévias a senhora mudou de posição e quer apoiar o candidato Mauro Mendes?

Serys - O PT não tem candidatura própria. Já foi discutido dentro do partido que vamos apoiar candidatura de partidos que fazem parte da base aliada. Em Mato Grosso temos duas opções: o Silval Barbosa do PMDB e o Mauro Mendes do PSB. Esses dois podem ser apontados pelo PT de Mato Grosso nas convenções no dia 23. Com certeza, vamos apontar o nome de Mauro, mas vamos esperar o que o partido vai decidir por maioria. Eu não decido nada, será a maioria do partido quem vai definir isso.

Diário - Convidada recentemente para ser candidata a vice-governadora na chapa de Silval, a senhora não aceitou. Na atual situação, não seria um projeto político interessante?

Serys - Isso é uma coisa que não está na pauta de discussão hoje porque o partido ainda não decidiu quem vai apoiar. Como podem dizer que eu seria boa candidata a vice? De quem eu seria vice? O PT ainda não decidiu quem vai apoiar. Essa questão é muito séria e importante para ser decidida antes da convenção. Depois da decisão a gente começa a discutir isso.

Diário - Antes de ser derrotada nas prévias, a senhora disse que não se candidataria a nenhum cargo eletivo, porém isso significa sair da vida política.

Serys - Sim, claro. Você pode não ser candidato na eleição desse ano e fazer política em Mato Grosso, no Brasil. A política não é só eleitoral, existem muitas formas de se fazê-la. Não preciso de mandato para discutir, participar das discussões em beneficio do país.

Diário - Como está o seu ritmo de trabalho agora que não será candidata à reeleição? A senhora tem uma longa trajetória política e foi uma senadora com muita representatividade. Quais as principais bandeiras de Serys Slhessarenko?

Serys - Estou me dedicando ainda mais, tenho mais tempo. Nos próximos dias vou para Londres para participar de um grupo de discussão sobre meio ambiente, que é uma das minhas especialidades. De lá vou ao Canadá para um debate internacional sobre a questão da mulher, e também já tenho viagem agendada para China e México. Eu sempre sou convidada para representar o Senado internacionalmente nessas questões. O mandato de senador tem que cuidar do Estado, do Brasil e de relações internacionais. Diferente de um mandato de deputado, que tem que cuidar das questões relativas ao Estado. E eu, nesse aspecto, cumpro muito bem a função, tanto que sou chamada de ‘senadora que faz tudo’. É lógico que eu priorizo questões pontuais, como emenda para um asfalto, uma escola, hospital, mas também olho macro, participo e sou atuante em assuntos de relevância nacional. Entre os principais, a defesa do fim da discriminação contra a mulher. Nós não queremos ser mais que os homens, mas também não queremos ser menos. As mulheres têm nível de instrução maior que os homens, no entanto na hora de assumir topo de carreira não são a maioria. Por que isso? Isso tem que ser conquistado e pela política podemos fazer. O [Barack] Obama, quando foi eleito, falou que nenhuma mulher ganharia menos que o homem pelo mesmo trabalho. Quando eu vi isso, falei: “eu tenho um projeto assim, há dois anos está parada no Senado da República”. Apesar de tudo, o assunto ainda é difícil. Agora esse meu projeto está andando, devagar ainda, mas caminhando.

Diário - No quadro atual, em quem a senhora vai votar para senador?

Serys - Ah, o voto é secreto! Eu achei até estranhas declarações de que liberaram meu voto. Ora, como assim? O voto é meu e secreto.






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