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Domingo - 16 de Maio de 2010 às 02:50
Por: Caroline Rodrigues

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Pacientes ficam nos corredores à espera de UTI; foto flagra parte do teto despencando
Pacientes ficam nos corredores à espera de UTI; foto flagra parte do teto despencando

As obras no Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) atrasaram e os problemas continuam. Faltam equipamentos, servidores, medicamentos e a estrutura está caótica. Os pacientes chegam a ficar 17 dias em uma poltrona porque não existem leitos disponíveis. Os medicamentos não são suficientes e pessoas ficam dias nas salas vermelhas (uma espécie de semi-UTI) e de animação à espera de uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Alguns, morrem no local sem conseguir o recurso. Os familiares reclamam do descaso e humilhação. Já os servidores reivindicam estrutura para poder atender a demanda.

Iolanda Xavier da Mata, 33, acompanhava a mãe, que tem 78 anos e estava na sala vermelha. Ela disse que a paciente começou a sentir dores na quinta-feira (6) e, depois de uma consulta na Policlínica do Planalto, foi encaminhada para o Pronto-Socorro com indicação para UTI. Ao chegar no local, foi levada para a sala vermelha e quando os familiares foram pedir para o médico a vaga, foram tratados com descaso.

"O profissional falou em tom de deboche: vocês acham que chegar aqui com um papelzinho da policlínica garante vaga na UTI. Metade das pessoas que chegam precisam de vaga, mas não tem".

A mãe de Iolanda ficou 2 dias na sala vermelha, mas foi encaminhada para os leitos coletivos, o que surpreendeu a família porque um dos pulmões dela não estava funcionando e o outro tinha apenas 15% em atividade.

No mesmo dia da transferência, a mulher recebeu alta e, na primeira noite em casa, voltou a passar mal e retornou para a sala vermelha, desta vez com paradas cardíacas sucessivas. Na tarde de quarta-feira (12), os médicos desenganaram a paciente.

Sem espaço - No box de emergência, as pessoas ocupam os corredores. Doentes, acompanhantes e enfermeiros chocam-se uns nos outros devido a falta de espaço. A dona-de-casa Deise Maria, 24, está em uma sala improvisada junto com mais 3 pacientes. Ela está há 17 dias no local, acomodada em uma poltrona, aguardando por uma cirurgia.

O ambiente tem um ar condicionado instalado, mas o aparelho não funciona e Deise pediu para parentes levarem um ventilador. A mulher conta que quando equipes de jornalismo aparecem, vários pacientes são espremidos na sala para que a situação não chegue ao conhecimento público. Em um dos casos, ela afirma que colocaram um paciente com tuberculose na sala sem ventilação, o que poderia ter contaminado os demais, que já estão com a saúde debilitada.

A falta de UTI faz com que nem as liminares judiciais sejam respeitadas. Maria Aparecida da Costa conseguiu uma liminar para o atendimento do pai dela, Eronildes Nogueira da Costa, 71. Ele é de Barra do Bugres (168 km ao médio-norte de Cuiabá) e ficou ferido numa explosão. No acidente, um parafuso entrou no olho do paciente, que está no corredor do box de emergência há 4 dias esperando cirurgia.

Eronildo sente muitas dores e foi medicado, mas está sem comer e nem beber desde a internação. Ela conta que cada hora é um obstáculo diferente. Primeiro, precisa de exames, depois de especialista e leito na UTI.

Estrutura - Onde era uma garagem, foram instalados leitos de maneira precária. A sala de enfermagem não tem piso e a mobília está toda enferrujada. As macas lotaram o espaço e os enfermeiros têm dificuldade em transitar.

Os servidores, quando viram a equipe de reportagem, pediam ajuda para resolver o problema. Uma funcionária falou que a enfermaria foi invadida pela água durante uma chuva. O nível de alagamento chegou até metade da canela dos enfermeiros, que não sabiam o que fazer com os pacientes.

A situação está mais grave na área do box de emergência onde existem vários buracos no forro, que é de gesso e está caindo devido a infiltrações e a trepidação da obra, que acontece no andar de cima.

Servidores dizem que um dos blocos de gesso quase atingiu um enfermeiro e o paciente que ele estava atendendo. Junto com o forro, caiu também um escorpião. O bloco caiu a cerca de 20 centímetros de uma maca.

O motoqueiro Eduardo França, 27, também está a espera de uma cirurgia para colocar pinos na perna. Ele conta que chegou até o centro cirúrgico, mas não haviam parafusos suficientes para o procedimento.

Os atendentes do Serviço Móvel de Urgência (Samu) também estão com dificuldades de trabalhar devido a "bagunça". Um dos trabalhadores resumiu o problema como uma verdadeira confusão.

A equipe de reportagem flagrou, na manhã de quarta-feira (12), 2 técnicos de enfermagem discutindo por causa das macas. Eles pegaram 3 unidades para levar um paciente para um exame e todas estavam com a base quebrada. Um deles argumentava: "Não tenho condições de pegar uma criança de 10 anos assim. Ela vai cair".

Reforma - As pessoas tentam garantir um lugar em meio a lotação dos ambientes, enquanto o pronto-atendimento e a recepção do Pronto-Socorro estão em reforma, a situação do que sobrou é precária.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o prazo para conclusão é 15 dias, mas servidores acham impossível concluir a tempo. A obra começou no dia 10 de outubro de 2009 e foi dado um prazo de 6 meses para conclusão, que não foi cumprido.

A reportagem esteve no local, onde encontrou apenas 3 trabalhadores, em uma ação "tartaruga". O cômodo, onde será a sala verde (enfermaria), ainda está no contrapiso e agora que começaram a fazer a instalação elétrica.

Outro lado - O secretário Municipal de Saúde, Maurélio Ribeiro, diz que a estrutura do hospital é improvisada devido a reforma. Ele diz que os pacientes precisaram ser distribuídos e com a inauguração a situação vai melhorar. "Toda fase de transição é traumática".

Ele avalia que o Pronto-Socorro está distante do ideal de atendimento, mas já melhorou muito. Ele alega que quando recebeu a instituição, várias pessoas ficavam acomodadas no chão e hoje é difícil encontrar alguém assim. O secretário argumenta que muitas denúncias não são verdadeiras e são realizadas por pessoas que "estão abaladas emocionalmente", falando o que melhor convém.

Quanto a reforma, Ribeiro explica que o compromisso da empresa responsável é entregar em 15 dias e é preciso manter a negociação porque a mudança de empreiteira pode atrasar ainda mais a entrega, por causa das questões administrativas.

O secretário argumenta que acontece uma reformulação de todo o sistema de atendimento e o Pronto-Socorro ficará apenas para os casos de urgência e emergência.

Os demais serão encaminhados para as Policlínicas e postos de saúde. O novo programa está em fase de implantação e a população ainda não foi conscientizada das mudanças.





Fonte: A Gazeta

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