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Educação/Vestibular
Segunda - 03 de Maio de 2010 às 00:25

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Em Maringá, no Paraná, três jovens de famílias que moram em bairros nobres da cidade ganharam um benefício que é o sonho de milhares de estudantes: a bolsa integral do Prouni - o programa federal para universitários carentes.

As três alunas que estudam Medicina na Uningá de graça desde 2008 com bolsa do Prouni deixaram de pagar, juntas, quase R$ 300 mil em mensalidades. A mensalidade custa R$ 3.200.

As jovens moram em casas confortáveis, com vários carros  na garagem: um deles vale R$ 55 mil. O patrimônio pertence a três famílias conhecidas de Maringá, no norte do Paraná.

Belisa Stival, Camila Colombari Medeiros e Milena Lacerda Colombari estão no quarto ano de Medicina na Uningá, uma faculdade particular com sete mil alunos.

Mas como isso é possível?  A reportagem do “Fantástico” passou duas semanas em Maringá, investigando esse escândalo.

Segundo o Ministério da Educação, Milena Colombari começou a receber bolsa integral do Prouni em 2005, quando fazia Biomedicina na Uningá. Em 2008, foi para Medicina e continuou estudando de graça.

Milena mora com os pais e o irmão numa casa com piscina. O pai dela é dono de um bufê, inaugurado em outubro do ano passado. Apuramos que, para uma festa de quatro horas com 200 convidados, o pai de Camila cobra R$ 7 mil, valor que seria suficiente para pagar com sobras dois meses de faculdade da filha.

Procuramos a estudante de Medicina. Ela acha justo receber o Prouni.

“Esse ano até a gente passou por certas dificuldades. Nem viagem pra praia a gente não foi. Antes era comum de ir”, comenta Milena.

Existem regras rígidas para conseguir a bolsa integral do Prouni, como ter cursado o ensino médio em escola pública ou ter sido bolsista integral em colégio particular. E o principal: comprovar que a renda mensal familiar, por pessoa, não passa de um salário mínimo e meio: R$ 765.

Por telefone, o pai de Milena Colombari reconhece que atualmente a família ganha mais que esse valor.

“Minha renda hoje está um pouco acima disso. Nunca mais ninguém pediu pra gente estar fazendo isso ou aquilo, apresentando esse ou aquele documento”, diz o pai.

Camila Colombari Medeiros, que também estuda Medicina de graça na Uningá com verba do Prouni, vive num sobrado com a mãe e uma irmã. Segundo o MEC, ela começou a receber bolsa em 2008.

Encontramos Camila indo pra faculdade num carro que o km custa pelo menos R$ 30 mil.

Repórter: Você tem bolsa do Prouni?
Camila: Tenho.
Repórter: Fala um pouquinho.
Camila: Eu tô com pressa, eu tenho médico agora.
Repórter: Não tem problema algum de ter bolsa e ter carro?
Camila: Esse aqui foi presente do meu pai.
Repórter: Não fecha a porta na minha mão.
Camila: Então dá licença, que eu tô atrasada.

Belisa Stival, que desde 2008 também estuda sem pagar nada, geralmente anda de carro popular. Mas o pai é dono de veículo zero quilômetro, avaliado em R$ 50 mil. A família, de quatro pessoas, mora numa casa de dois andares.

Repórter: Você tem bolsa do Prouni?
Belisa: Tenho.
Repórter: Você estudou em escola pública?
Belisa: Não, não estudei. Mas fui bolsista.
Repórter: Em escola particular?
Belisa: Sim.

Parentes na seleção
É a própria instituição de ensino que decide quem recebe a bolsa do Prouni e que encaminha a lista para o Ministério da Educação.

As três jovens de Maringá - que ganharam bolsa integral mesmo não sendo pobres - têm parentes em cargos importantes na faculdade.

Belisa é filha de Ney Stival, o diretor de ensino da Uningá. Camila é filha de Vânea Colombari, coordenadora de cursos profissionalizantes. Já Milena é sobrinha de Vânea.

As três universitárias têm ainda outro benefício do Prouni: a chamada bolsa permanência. É uma espécie de mesada, de R$ 300 por mês. O dinheiro vai para a conta de alunos com bolsa integral de cursos que tenham seis horas ou mais de aulas por dia.

Segundo o MEC, Milena, que tem pai dono de bufê, recebe os R$ 300 desde abril de 2008. Belisa e Camila, desde agosto de 2008.

Por telefone, a coordenadora da Uningá Vânea Colombari se defendeu.

“Dependo exclusivamente desse rendimento que eu tenho dentro da instituição, não tenho condições financeiras nenhuma de bancar a mensalidade da minha filha”, argumenta Vânea.

A própria faculdade informou que Vânea Colombari ganha R$ 2.900 por mês. Com essa renda, a filha dela - Camila - não poderia ter bolsa integral do Prouni.

O salário de Ney Stival não foi divulgado. O  pai de Belisa e diretor de ensino da Uningá, diz que não há irregularidades.

Repórter: Por que elas têm bolsa do Prouni?
Ney: Tinha bolsa sobrando.
Repórter: Ah, tava sobrando? Remanescente?
Ney: E tem ainda.

Ricardo Benedito de Oliveira, diretor geral da faculdade, deu a mesma justificativa.

Ricardo: A única procura que teve foi dessas duas moças, que casualmente são filhas de funcionários.
Repórter: Mas não poderia ficar sem as bolsas? Era obrigado a oferecer as bolsas?
Ricardo: Mas qual é o prejuízo das bolsas? Tem outra pessoa prejudicada por elas terem as bolsas? O fato é esse.
Repórter: Mas é dinheiro público.

O diretor alegou ainda que a documentação apresentada pelas bolsistas atendia aos requisitos do MEC.

“A instituição não tem uma equipe de investigação pra saber se o fulano que há um tempo morava de aluguel, hoje mora num palacete”, diz o diretor.

Pelas regras do Prouni, a faculdade tem obrigação de pedir ao aluno que reapresente - pelo menos uma vez por ano - a documentação comprovando a baixa renda.

Investigação e punições
Na sexta-feira, um dia depois da entrevista do diretor geral, a Uningá enviou uma retificação dizendo que Belisa e Camila não tiveram o benefício mantido pelo Prouni em 2010, por não apresentarem a documentação necessária. O Ministério da Educação desmentiu essa informação: a faculdade cancelou as duas bolsas apenas na sexta-feira, depois de saber que o "Fantástico" preparava esta reportagem.

“Se for constatada a irregularidade, a instituição vai ser desvinculada, podendo inclusive responder judicialmente e até criminalmente pelos fatos”, afirma Simone Horta, coordenadora de supervisão do Prouni.

O futuro de todos os alunos de Medicina da Uningá é incerto. O MEC considera que o curso - criado em 2007 - é deficiente e não pode funcionar. Apesar disso, a faculdade conseguiu um mandado de segurança. Mês passado, a Justiça decidiu pelo fechamento do curso de Medicina. A faculdade recorre.

Atualmente, 450 mil estudantes fazem faculdade graças ao Prouni. Ano passado, devido a irregularidades, 1.700 bolsas foram canceladas e 15 instituições desvinculadas do programa.

Quanto às três jovens de Maringá, o MEC avisa: além de não estudar mais de graça, elas podem perder outras mordomias.

“Elas devem responder judicialmente, devendo inclusive ressarcir os cofres públicos durante o período que estiveram com a bolsa. Se for constatada má fé, elas podem responder criminalmente por esses atos”, avisa Simone Horta.






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