Em ano eleitoral, políticos armam palanque até para asfaltar uma rua
Uma pequena estrutura improvisada com algumas caixas de som e uma cobertura contra o sol acolheu sete políticos de distintos partidos no início da semana durante o lançamento de obras de pavimentação no bairro Florianópolis, em Cuiabá. O palanque estava montado para uma verdadeira ‘festa eleitoral’, entretanto, apenas uma rua será pavimentada naquela região, apesar de tantas outras estarem tão esburacadas e produzirem tanta poeira quanto à escolhida.
Entre os políticos presentes no lançamento da pavimentação de ‘uma rua só’, estavam o governador e pré-candidato à reeleição Silval Barbosa (PMDB), o prefeito Chico Galindo (PTB) e o presidente da Assembléia Legislativa, José Riva (PP).
Respectivamente: o escolhido pela situação do governo para encabeçar as eleições majoritárias em 2010; o antigo vice e um dos fiadores da candidatura de Wilson Santos (PSDB) pela oposição em um bloco que ainda conta com o DEM e o nome forte do Partido Progressista, uma das siglas mais cortejadas por todos os blocos na disputa ao governo de Mato Grosso.
Também estava presente o deputado federal Eline Lima (PP), o parlamentar estadual Sérgio Ricardo (PR), os vereadores Toninho de Souza (PP) e Domingos Sávio (PMDB).
Curiosamente, os expectadores mais atentos aos discursos das três ‘estrelas’ eram as câmeras de emissoras de TV, as máquinas fotográficas dos jornais e o presidente do bairro, José Lázaro, popularmente conhecido como Negão. Mas não eram os únicos. Além deles, uma platéia com cerca de 30 pessoas também se fez presente e aproveitou a oportunidade na qual foram visitados por aqueles que elegeram para representá-los e os cobraram:
“O asfalto pelo menos vai chegar lá embaixo (o fim da rua), ou pára aqui na esquina (onde estava montada a estrutura)?”, questionou uma das moradoras a Silval Barbosa logo que ele chegou. Assim como a maioria ali presente, ela calçava chinelos ‘vermelho poeira’ e roupas sem etiquetas de grife. Os políticos, por mais que tivessem escolhido deixar de lado o paletó e a gravata, ainda usavam camisas, calças sociais e sapatos. Um contraste evidente de realidades.
Barbosa respondeu durante seu discurso. “O asfalto vai sim até o fim da rua”, garantiu. Ele ainda fez questão de explicar como vai funcionar o asfaltamento, que será realizado com verbas de emendas do deputado federal Eliene Lima. No total, serão asfaltado mais de 700 quilômetros, cerca de 10% de todas as ruas sem pavimentação. Entretanto, essa ‘porção’ de asfalto será fatiada entre vários bairros da capital. Ao Florianópolis coube uma rua, apesar de tantas outras serem tão problemáticas como à beneficiada.
De acordo com Negão, os serviços de coleta de lixo e de policiamento estão comprometidos em decorrência do estado das vias do bairro. Os caminhões de coleta e as viaturas simplesmente não conseguem trafegar pelas ruas da região. “Meu amigo, olha esses buracos”, disse o presidente de bairro, apontando para valas na rua a ser asfaltada. “Acha que algum carro consegue passar?”, completou.
E esse não é o único problema do bairro, conforme diz o líder comunitário. Além disso, uma fábrica de leite que abastecia as escolas, creches e servia os lares das 750 crianças do bairro, além de vários bairros vizinhos – e nem tão vizinhos, como o Pedra 90-, a “Vaca Mecânica”, está fechada desde quando Wilson Santos (PSDB) assumiu a Prefeitura de Cuiabá, em 2005.
Negão diz que o prefeito reclamava da falta de parcerias para tocar a fábrica. O governador aproveitou a visita ao bairro para prometer a mão-de-obra para a Vaca Mecânica voltar a funcionar. Muitos aplaudiram a ação que demorou aproximadamente cinco anos para ser tomada.
Acabados os discursos, os políticos seguiram para o próximo bairro, onde repetiram o processo. A estrutura com proteção para o sol e caixas do som é desfeita num piscar de olhos. Os moradores voltam às atividades cotidianas. Da visita sobra apenas a poeira, levantada pela partida dos carros que levavam os ‘representantes’ daquele povo.
Comentários