Apesar de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) concluir que não faltam mamógrafos no país, as brasileiras encontram dificuldade para fazer exames de mamografia pelo sistema público de saúde.
“Nós temos aproximadamente 1,6 mil mamógrafos espalhados em todo o Brasil através do sistema SUS, mas aproximadamente 900 e poucos mamógrafos estão em funcionamento”, disse o ministro do TCU, Valmir Campelo.
O "Fantástico" foi a quatro estados para ver o que aconteceu neste um ano. A ronda começou por hospitais do Rio de Janeiro. Em todos, a mesma resposta.
“A gente não está marcando, sem previsão porque está em obras”, diz uma atendente. “Mamografia não está marcando. Está em obra e o aparelho está quebrado”, conta a atendente de um outro hospital.
Pelo visto, a lei ficou só no papel. A autônoma Alvina do Carmo foi a um posto de saúde na Baixada Fluminense para um tratamento de rotina. “Eu sabia que eu estava com um caroço na mama, mas para mim era dos socos da capoeira”, comentou.
O ginecologista pediu que ela fizesse uma mamografia imediatamente. “Marquei mamografia e não tinha aparelho, estava quebrado. Uma hora não podia fazer, porque o aparelho estava ruim. Outra hora o médico não estava, não ia”, diz Alvina do Carmo.
Foram seis meses de tentativas até que, preocupadas, a irmã e a mãe de Alvina juntaram dinheiro e pagaram para que ela fizesse o exame em uma clínica particular. Ela estava com câncer de mama.
“Não me parece adequado que uma pessoa aguarde seis meses para realizar uma mamografia”, afirma a mastologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Célia Costa.
Mas para muitas brasileiras que não podem pagar cerca de R$ 185 por um exame em uma clínica particular, não há outra alternativa: tem de esperar. Se no Rio de Janeiro, onde há 140 mamógrafos do Sistema Único de Saúde, as pacientes esperam meses para serem atendidas, o que dirá da situação de mulheres em estados como o Acre, onde os únicos dois aparelhos instalados estão quebrados?
“Já tentei fazer a mamografia duas vezes e não consegui”, disse a diarista Maria de Lurdes Costa da Rocha. Ela mora na zona rural do estado. Para fazer o exame, viaja uma hora de ônibus até uma cidade próxima. De lá o governo paga um voo até Rio Branco.
“Você tem que esperar de dois a quatro meses para chegar a passagem para você poder fazer esse exame. Quando foi agora, a última vez, eu queria fazer uma mamografia e não consegui. Agora eu vim e também não consegui, porque o aparelho está quebrado”, comentou a dona de casa.
“Da última vez, o conserto custou R$ 20 mil. O aparelho funcionou uma semana e parou novamente. A gente pediu para a fábrica vir, e eles falaram que não iam mandar o técnico”, afirmou Síglia Souza de França, coordenadora do Centro de Controle em Oncologia do Acre (Cecon-AC).
No Amazonas, a situação é a mesma. Em Parintins, o mamógrafo quebrou. Quem precisa de um diagnóstico tem que ir a Manaus.
“Aqui em Parintis é um problema, porque não temos máquina. Todas as vezes que vamos ao médico, eles encaminham a gente para Manaus, mas nem todo mundo tem condições”, comentou a dona de casa Auzilene de Oliveira.
“Tem que ser resolvido, dar um jeito de a máquina voltar de novo a funcionar. A gente é mulher e precisa”, disse a dona de casa Mairlza Pereira.
O outro mamógrafo do estado fica em Coari, mas lá também não há como fazer o exame. “O mamógrafo não está funcionando. Ele está desativado há aproximadamente dois anos”, afirmou Gígio Sposina, diretor geral do Hospital de Coari.
No Ceará, a Associação de Mastologia diz que seriam necessários 50 aparelhos para atender à população, mas só há 29 espalhados pelo estado – e alguns estão quebrados. “Uns quatro ou cinco meses que eu esperei para fazer esse exame, e o caroço doendo no meu seio”, comentou a aposentada Francisca Alves.
O Instituto Nacional do Câncer, que dá apoio ao Ministério da Saúde na política de controle da doença, diz que a responsabilidade é dos estados e dos municípios.
“O Ministério da Saúde disponibiliza um sistema para ser usado pelos estados e pelos municípios, mas muitas vezes faltam técnicos e falta capacitação do nível local para implementar até mesmo soluções tecnológicas existentes”, afirma o diretor geral do Inca, Luiz Antônio Santini.
“Precisamos de uma vontade política muito maior dos municípios, através das secretarias da Saúde, e também uma cobrança do Estado e do Ministério da Saúde”, defende Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama).
“Eu vou voltar sem fazer. Eu não vou ficar aqui esperando muito tempo, sem ter condições de esperar. De jeito nenhum”, disse a diarista Maria de Lurdes Costa da Rocha.
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