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Agronegócios
Quinta - 22 de Abril de 2010 às 10:58

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O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Glauber Silveira, prevê que 30% dos agricultores devem vender ou arrendar suas terras nos próximos anos, em virtude das dificuldades financeiras para pagar as dívidas que vencem neste ano e continuar bancando o plantio da safra. A afirmação foi feita na noite da última terça-feira, em Rondonópolis (210 quilômetros ao sudeste de Cuiabá), durante o primeiro evento do Circuito Aprosoja, que até o dia 7 de maio irá percorrer mais 18 polos agrícolas de Mato Grosso, levando aos produtores informações para o planejamento da safra 2010/11.
 
No ano em que colhem uma safra recorde de 18,7 milhões de toneladas de soja, os produtores de Mato Grosso demonstram confiança no cenário de longo prazo, com a perspectiva de expansão da demanda mundial, mas estão preocupados com a sobrevivência no curto prazo. O primeiro evento do Circuito Aprosoja refletiu esta preocupação, pois os destaques nas discussões foram o alto nível de endividamento dos agricultores, a baixa rentabilidade enfrentada por muitos nesta safra - em virtude de problemas de clima, doenças e falha no planejamento -, e as incertezas em relação ao próximo plantio.
 
Na análise de Silveira, o alto do custo do transporte da safra de grãos de Mato Grosso, por causa das deficiências logísticas, exigirá uma escala de produção cada vez maior, o que irá provocar o desaparecimento de muitos pequenos e médios produtores. Na opinião de Silveira, a solução está no investimento em logística, principalmente a conclusão das obras da BR 163, que permitiria o escoamento da soja pelos portos da Região Norte. Ele defende também os investimentos em hidrovia e criticou o fato de a America Latina Logística (ALL) cobrar no transporte ferroviário da soja até os portos US$ 100 por tonelada, o mesmo valor do frete rodoviário, "quando poderia trabalhar com US$ 60/tonelada".
 
Silveira diz que a tônica para a próxima safra será a cautela e melhor planejamento, pois nos últimos anos os agricultores têm sido vítima do "efeito manada", como ocorreu nesta safra em que a maioria optou por antecipar o plantio da soja, a fim de garantir tempo para plantar na sequencia o milho, uma estratégia para diluir o custo fixo, que é alto.
 
O analista Fernando Pimentel, da Agrosecurity, um dos palestrantes do Circuito Aprosoja em Rondonópolis, disse que muito produtores poderiam ter optado por plantar apenas a soja de ciclo médio, em vez de tentar cultivar duas safras (mais uma de milho), o que poderia render uma produtividade na oleaginosa de mais 5 sacas por hectare. Na opinião de Pimentel, a crescente expansão no plantio de milho em Mato Grosso deve ser revista na próxima safra, principalmente no norte do Estado, onde os problemas de falta de armazenagem e alto do custo frete têm maior impacto na atividade.
 
O presidente da Aprosoja atribui o aumento da área plantada em Mato Grosso à ânsia do agricultor de gerar receita para pagar as contas. Em virtude do excesso de chuvas durante a colheita e da alta incidência de ferrugem, que provocaram queda de produtividade e perda da qualidade do grão em algumas regiões, muitos agricultores terão prejuízo neste ciclo. Segundo Silveira, para a próxima safra, além de cautela nos investimentos, tanto no plantio da soja como do milho, o agricultor deve procurar vender antecipadamente pelo menos o porcentual que cubra o custo de produção.
 
Um estudo feito pelo Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que o agricultor que colheu 45 sacas por hectare e deixou para vender toda soja após a colheita teve um prejuízo de R$ 170 por hectare. Na média, com produtividade de 50 sacas e venda de metade da produção, a rentabilidade ficou em R$ 35 sacas por hectare. Silveira diz que levando em conta a área média cultivada de 1.500 hectares, o produtor do norte de Mato Grosso tem um patrimônio de R$ 12 milhões (preço da terra), gasta R$ 1,8 milhão para plantar e no fim obtêm um rendimento de R$ 52 mil, que é insuficiente para pagar as parcelas das dívidas neste ano.
 
O consultor Fernando Pimentel concorda que o endividamento não cabe no fluxo de caixa dos agricultores. Ele estima que o agricultor que deixou para vender de 15% a 25% da safra agora, após a colheita, irá obter uma renda de R$ 150 a R$ 180 por hectare na região Sul de Mato Grosso e apenas R$ 50 no norte do Estado. Pimentel considera o investimento em logística fundamental para sobrevivência dos pequenos e médios produtores, pois "Mato Grosso deixaria de ser a fronteira e se tornaria a saída da produção de grãos da Região Centro-Oeste".






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