Espetáculo ocorre no próximo dia 22 de abril, no Auditório do Instituto de Linguagens da UFMT
Roberto Victorio lança álbum de música contemporânea em Cuiabá
Inspirado pela multiplicidade de tempos e a diversidade da experiência humana na música, o compositor Roberto Victorio escreveu 10 peças para seu novo trabalho “Chronos”, cujo lançamento em Cuiabá ocorre no próximo dia 22, no Auditório do Instituto de Linguagens, na Universidade Federal de Mato Grosso. Em março, Victorio reuniu músicos experientes e em concertos com repertórios diferenciados mostrou sua produção ao público carioca e paulista. Agora é a vez de Cuiabá contemplar a recente obra deste estudioso da música contemporânea, num espetáculo com direito a lançamento mundial de peça musical e DVD compilando trechos dos shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em Cuiabá, o público poderá conferir três composições do CD e ainda “Três peças para Piano”, “Habacuque” e a inédita Na-yucat, que será interpretada por ele e por Teresinha Prada, em dois violões. O repertório conta com as faixas Chronos VI, executada por Ingrid Barancoski (piano); Chronos III, por Roberto Victorio; e Chronos IX, por José Feguri e Roberto Victorio, em dois violoncelos. Vale destacar que a entrada é gratuita.
Maestro, compositor, músico, pensador e agitador cultural, Roberto Victorio rompe com o convencional, se entrega a novos caminhos, apresentando um trabalho focado na experimentação e na simultaneidade de tempos heterogêneos. “Chronos” (que significa tempo terreno em grego) tem o tempo e a relação temporal interna como principais elementos direcionadores nas obras.
Dividido em dois CD’s, “Chronos” é um ciclo que reúne 10 peças para distintas formações instrumentais, criadas a partir da temática multiplicidade de tempo, numa introspecção na musicalidade. As obras foram concebidas num período de quatro anos.
Em algumas peças, o compositor inseriu elementos da pesquisa na etnia indígena Bororo, interior de Mato Grosso, onde ele ficou por três anos e meio vivenciando um contexto cultural singular. Esta experiência lhe permitiu escrever peças de música ritual, um conceito invisível que se transporta para o processo compositivo. “Sempre me interessei pela sonoridade dos Bororos, tanto assim quem em 1999, essa sonoridade virou minha tese de doutorado”, afirmou.
O instrumentista Pauxy Gentil-Nunes, do Amapá, que participa do CD, teve a experiência de manusear a flauta sagrada ou flauta das almas, como é chamada pelos bororos. “O uso de instrumentos de concerto misturados com instrumentos de outras culturas (como as flautas sagradas Bororo) evoca temporalidades construídas a partir de formas de vida antagônicas e muitas vezes incompatíveis”, descreve Pauxy, que aprendeu a manusear as flautas com um feiticeiro da etnia.
Surpreendente, a música contemporânea revela composições em que os instrumentos parecem se multiplicar, remetendo quem aprecia a obra a uma percepção complexa, em que a oscilação temporal parece ampliar as possibilidades da manifestação das sonoridades do tempo real.
Para materializar o projeto, Roberto Victorio contou com a participação de músicos experientes e premiados internacionalmente. São musicistas que executam de diversas maneiras os instrumentos, extraindo deles todo o seu potencial de existência. Um envolvimento intenso na interpretação da peça.
“Chronos” conta com patrocínio da Petrobras, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Trajetória - Carioca, Roberto Victorio conta que desde moleque já sabia que seria compositor. Seu pai apreciava música e sua mãe era pianista. Aos 15 anos compôs a primeira música.
Concluiu o curso Superior de Violão na FAMASF-Rio e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro obteve os títulos de Regência (bacharelado) e Composição (mestrado). Foi professor de composição e orquestração do Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro; regente e diretor musical da Orquestra de Câmara do Rio de Janeiro; regente do Grupo Música Nova da UFRJ, até 1993 ; e bolsista da Fundação Rio Arte e Fundação Vitae para os programas de composição, respectivamente em 1996 e 2000.
Prestes a completar 50 anos, acumula dez CD’s gravados e como compositor tem em seu catálogo mais de duas centenas de obras executadas nos principais eventos de música contemporânea fora do país, tais como: Festival de Música Nova de Zurique, Hamburgo, Nova Iorque, Budapeste, Bourges, Grösnjan, Montevidéu, Santiago, Genebra, Estocolmo, Tóquio e Cluj Napoca; além de ativa participação em todos os eventos ligados à música contemporânea no Brasil, como compositor e regente.
O artista tem um currículo invejável com incrível reconhecimento internacional. Recebeu o 1º Prêmio no Concurso Latino Americano de Composição para Orquestra em Montevidéu (1985); Menção Honrosa no Concurso Internacional de Composição de Budapeste (1989); 3° Prêmio no Concurso Nacional de Composição para Violão de São Paulo (1990); 2º Prêmio no Concurso "500 Anos das Américas", para orquestra (1992) e 3º Prêmio no Concurso de Composição Bahia Ensemble-UFBa (1996).
Representou o Brasil no Seminário "Time in Music" em Grösnjan/Yugoslávia (1988), na Tribuna Internacional de Composição da UNESCO em Paris (1995/97/99), na Tribuna Internacional de Música da América Latina e Caribe (1997) e no Festival da Sociedade Internacional de Música Contemporânea, na Romênia (1999).
Sempre com um forte teor de ruptura, em 1994 foi maestro da Orquestra Sinfônica da UFMT por um ano. Experimentalista, provocador, compôs e interpretou composições de sua autoria com poesias de Wladimir Dias Pino, Silva Freire e Manoel de Barros.
Há dezesseis anos em Cuiabá, Roberto é professor titular da UFMT, atuando no Departamento de Artes; regente e diretor musical do Grupo Sextante - música contemporânea; e membro da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea. Doutor em Estruturação Musical na Universidade do Rio de Janeiro(UNI-Rio) com pesquisa voltada para a música ritual dos índios Bororo de Mato Grosso.
Músicos convidados – “Chronos” tem a participação de importantes músicos da cena contemporânea, como Paulo Passos (clarinete e clarinete baixo), Joaquim Abreu (percussão múltipla e marimba solo), Marcos Suzano (eletrônica em tempo real), Dimos Goudaroulis (violoncelo solo), José Feguri ( violoncelo), Rogério Wolf (flaut), Eduardo Gianesella (bateria), Ingrid Barancoski (piano solo), Marcilio Lopes (bandolim), Mateus Ceccato (violoncelo). O Quarteto Aroe traz os flautistas Andrea Ernest, Odette Ernest Dias, Tina Pereira (que participou da gravação, mas morreu no ano passado) e Pauxy Gentil Nunes (flautas bororo).
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