Há pelo menos cinco anos a produção mato-grossense não apresentava tanta desigualdade. Rentabilidade e produtividade afetadas por todos os lados
Safra 09/10: A mais díspare de todas
A disparidade de resultados na safra da soja, em Mato Grosso, nunca se mostrou tão imperativa quanto o observado no ciclo 09/10. O balanço da temporada revela perdas de produtividade e de rentabilidade que levam cerca de 65%, de um universo de 225 produtores, a afirmarem que terão dificuldades em quitar compromissos em 2010. Nove cenários de resultados foram traçados no Estado e em apenas três deles há perspectiva de um retorno de pelo menos R$ 100, para um investimento mínimo de R$ 1,250, cifras necessárias para o cultivo da soja por hectare na atual safra.
De um lado houve quem colheu apenas 40 sacas e do outro, quem colhesse 55 sacas, acima da média de 50 sacas. Quem teve melhor performance na etapa poderá contabilizar lucro de R$ 255 por hectare cultivado. Quem não obteve este êxito pode ter perdas de R$ 255 por hectare. O radar do produtor, em alerta desde a safra 04/05, já detectou mais um momento de extrema atenção: a safra 10/11 vai começar com a certeza de que o preço da saca desvalorizou 30% e que as cotações dos insumos permanecem no mesmo patamar. Foi assim que a crise de renda no campo teve início no segundo semestre de 2004, quando houve desequilíbrio entre receita e despesa.
O balanço da safra de soja 09/10 no Estado foi feito pelo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, ao abrir a quinta edição do Circuito Aprosoja, que neste ano percorrerá 15 mil quilômetros no Estado e 19 cidades-polos do agronegócio – que darão uma abrangência de 70 cidades - com o tema ‘Agronegócio no Novo Contexto Político e Econômico’. “Foi a safra mais preocupante dos últimos cinco anos, pelo menos. Aconteceu de tudo, de oscilações de mercado, às climáticas e a incidência de doenças como a ferrugem. Foi uma temporada que começou preocupante desde o princípio”, resumiu.
A recomendação que a entidade fez no ano passado, há exatamente um ano, como lembrou, para o produtor ter “planejamento, cautela e controle, o PCC, permanece válida para nova temporada. Há um cenário de preços ruins, pressionados pela maior oferta do grão e sem previsão de recuo nos preços dos insumos. Mais uma vez, teremos de rever posturas no campo e cortar tudo que for possível. Travar preços sempre para não ficarmos à mercê do mercado de clima”.
GESTÃO – Plantar certo é uma atitude que depende apenas do produtor, porém por mais que haja mudanças na atuação do sojicultor há fatores que gerem a atividade da porteira para fora e que minam as perspectivas de alguns em fechar a safra no ‘azul’. “Há dez anos plantávamos 800 toneladas de milho, agora estamos próximos de um recorde de mais de 9 milhões de t. Com a soja atingimos recorde em área, e graças às dessemelhanças em produtividade não teremos um recorde de produção na mesma proporção. Mesmo assim, mostramos a cada safra que somos o celeiro do mundo, mas a falta de investimentos em logística sufoca o segmento”, discursou Silveira, que teve na sua platéia diretores do Ministério da Agricultura, do Banco do Brasil e autoridades políticas.
Neste claro recado, Silveira reforçou as perdas de cotação que impuseram menos R$ 10 por saca ao produtor, o que numa média de 50 por hectare são R$ 500 perdidos diretamente por hectare plantando. “Renda baixa em função do frete que é o mais caro do Brasil. Se tivéssemos a BR-163 pavimentada - porque a saída para o Norte do país é comprovadamente a mais viável ao Estado -, teríamos uma economia de R$ 100. Com a hidrovia Teles Pires/Tapajós, por exemplo, um frete saindo de Sinop, ao invés de R$ 220 por tonelada, pagaríamos R$ 60. Cobram uma atividade sustentável, mas transportar sobre uma matriz rodoviária não é nada sustentável, e isso precisa ser considerado também”.
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