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Internacional
Segunda - 19 de Abril de 2010 às 10:18
Por: Assimina Vlahou/De Roma

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Bento 16 completa nesta segunda-feira cinco anos de papado
Bento 16 completa nesta segunda-feira cinco anos de papado

O papa Bento 16, que fez 83 anos na semana passada, completa nesta segunda-feira cinco anos à frente da Igreja Católica.

Em entrevista concedida à BBC Brasil em Roma, o vaticanista defende Bento 16 de algumas das críticas e afirma que o pontífice fez, antes e depois de sua eleição, "mais do que qualquer dirigente de seu nível na Igreja para responder bem a esta crise".

Confira abaixo a entrevista:

BBC Brasil: Quais as conseqüências que a crise provocada pelo escândalo da pedofilia pode ter para o pontificado de Bento 16?

John Allen: Se o Vaticano não desenvolver uma capacidade mais articulada para comunicar e governar, há um sério perigo que este pontificado fique paralisado por meses e anos, em tentativas constantes de responder apenas à crise do momento, invés de prosseguir. Aos olhos do mundo, este pontificado é associado a uma cadeia de crises, isto porque o Vaticano não é capaz de comunicar bem com a realidade.

A Igreja Católica agora não tem credibilidade para pregar a moralidade ao mundo, se não é capaz de praticá-la dentro de sua casa.

BBC Brasil: De quem é a responsabilidade por isso?

Allen: O problema é a falta de competência dos colaboradores de Bento 16 em comunicar e em ajudar direito o papa. No caso dos abusos sexuais, os comentários do pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa (que comparou os ataques ao papa por causa dos abusos à perseguição contra os judeus), do cardeal Angelo Sodano (que na Missa de Páscoa manifestou solidariedade ao papa criticando o "falatório" sobre os abusos sexuais) do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano (que disse existir uma relação entre homossexualismo e pedofilia), queriam ser úteis. Eles não tinham consciência de que iriam enfraquecer a Igreja e o papa, que é seu representante.

BBC Brasil: Esta crise então enfraqueceu Bento 16?

Allen: Do ponto de vista da imagem, sem dúvida enfraqueceu. Todos estes escândalos, crises e controvérsias, de certa forma escondem do mundo os aspectos positivos deste pontificado e do papa, cujo ensinamento é elogiado até por pensadores leigos. Isto demonstra uma crise de governo neste Pontificado, porque o trabalho desenvolvido pelo papa não chega às pessoas.

BBC Brasil: Depois dos escândalos da pedofilia de sacerdotes, a igreja ainda tem credibilidade moral?

Allen: A Igreja Católica agora não tem credibilidade para pregar a moralidade ao mundo, se não é capaz de praticá-la dentro de sua casa. Nos Estados Unidos, os bispos contam que quando falam publicamente sobre aborto, homossexualismo ou outro tema moral, abordado pela igreja, os fiéis respondem que não vão ouvi-los enquanto não for resolvida a crise moral dentro da própria Igreja.

Não há o menor grau de dúvida que este papa, antes e depois de sua eleição, fez mais do que qualquer dirigente de seu nível na Igreja para responder bem a esta crise.

BBC Brasil: Nos Estados Unidos, onde esta crise começou, os fiéis deixaram de frequentar as igrejas?

Allen: Quando os casos começaram a surgir nos Estados Unidos, houve a previsão de que os católicos deixariam de ir a missa e de fazer doações econômicas à Igreja Católica, mas isto não ocorreu. A frequência e as doações permaneceram estáveis. Os católicos de qualquer lugar sabem distinguir entre o fundamento verdadeiro de sua fé, isto é, Deus, Jesus Cristo, e a instituição Igreja, e seus dirigentes.

BBC Brasil: Por que, em sua opinião, os casos de abusos praticados por sacerdotes eram ocultados? Havia uma norma que obrigava a manter sigilo?

Allen: Os jornalistas estão à procura da "prova do crime", um documento ou uma lei que explique porque a Igreja Católica manteve os casos de abusos cometidos por religiosos contra menores acobertados durante tanto tempo. Mas isto é perda de tempo. Não há uma ordem de Roma obrigando a manter o sigilo, mas uma cultura do silêncio criada em séculos, da qual todos eram cúmplices, bispos, papas e todos os católicos. Roma não ordenou o silêncio, mas nem a transparência. É isto que precisa ser mudado, com leis e colaboração com a Justiça Civil . A cultura do silêncio, no entanto, é muito mais profunda e mais difícil de mudar do que uma lei.

Não há uma ordem de Roma obrigando a manter o sigilo, mas uma cultura do silêncio criada em séculos.

BBC Brasil: O que o papa fez até agora para combater a pedofilia na Igreja é suficiente?

Allen: Posso dizer, como vaticanista, que não há o menor grau de dúvida de que este papa, antes e depois de sua eleição, fez mais do que qualquer dirigente de seu nível na Igreja para responder bem a esta crise. Embora a opinião geral sobre Bento 16 seja negativa, devido ao escândalo dos abusos, ele é um renovador porque abateu o muro de silencio do Vaticano sobre este tema. Criou um novo sistema, mais rápido e eficaz, para disciplinar os padres que abusaram, foi o primeiro papa a encontrar as vitimas e adotou a política da tolerância zero. Agora, se estas reformas são suficientes, se tem ainda caminho a ser feito, isto é outra questão e há opiniões diferentes a respeito.

BBC Brasil: Depois dos escândalos a Igreja pode rever sua posição em algumas questões morais?

Allen: Acredito que não haverá mudanças no ensinamento da Igreja Católica com relação a temas como aborto e homossexualismo. O papa e os cardeais estão mais determinados do que nunca a manter o conteúdo deste ensinamento. A consequência da crise, dentro da Igreja, não é favorecer um clima mais flexível e mais aberto a mudanças, mas ao contrario, será mais rígido, controlado e disciplinado.

BBC Brasil: Dois advogados querem pedir a prisão do papa quando ele visitar a Grã-Bretanha em setembro por causa do envolvimento de sacerdotes com abusos a menores. Outras pessoas pediram que o papa renuncie. Isto é possível?

Allen: Estas não são propostas serias. Teoricamente, é possível que um papa se demita, o cânone 332 (do código de direito canônico) contempla esta possibilidade. Mas não acontece com freqüência. Houve cinco, seis ou no máximo sete casos, em mais de dois mil anos de história. Não é uma hipótese a ser levada em consideração.






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