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Agronegócios
Terça - 30 de Março de 2010 às 19:41

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Depois de quase dez anos sendo o principal produtor de algodão do Brasil, Mato Grosso começa a se fortalecer como um importante polo têxtil e de fiação. Atraídas por matéria-prima de qualidade e em grande escala, três indústrias tocam investimentos no Estado, sendo dois para implantação de fábrica e um de ampliação de capacidade já existente. Juntos, os investimentos somam R$ 550 milhões e estão sendo feitos pelas empresas de índigo e jeans Santana Textiles e Vicunha Têxtil e pela de fiação Têxtil Bezerra de Menezes (TBM).

As três têm em comum a forte atuação no Nordeste e o fato de, com o declínio do cultivo de algodão local, terem tido de aumentar os esforços para buscar matéria-prima fora da região. Atualmente, entre 30% e 70% do algodão que usam nas fábricas nordestinas são trazidos de Mato Grosso, que fica a 2 mil quilômetros de distância.

Por isso, os planos de expansão dessas fábricas tradicionalmente instaladas no Nordeste não estão ocorrendo nessa região e sim, migrando para terras mato-grossenses. Mais próximas da matéria-prima, as indústrias conseguem elevadas economias com frete. "Não somente de transportar o algodão de Mato Grosso para o Nordeste, mas também de encurtar a distância ao levar o produto final para os principais mercados consumidores, o Sul e o Sudeste", diz Marcel Imaizumi, diretor-superintendente da Vicunha Têxtil, que anunciou neste mês a construção de sua primeira fábrica no Centro-Oeste, em Cuiabá, capital de Mato Grosso.

Juntas, as três unidades cearenses da Vicunha consomem 100 mil toneladas de algodão por ano, dos quais 30% vêm de Mato Grosso. Isso significa percorrer por rodovia longas distâncias, diz Imaizumi.

Implantar uma unidade em Mato Grosso, em vez de no Nordeste, significará para a empresa uma economia de frete da ordem de R$ 150 a R$ 200 por tonelada de algodão consumido. Assim, quando a unidade estiver operando com capacidade total, ou seja, processando 65 mil toneladas de pluma, a economia em um ano será da ordem de R$ 9 milhões a R$ 10 milhões, segundo o executivo.

A fábrica, com capacidade para fabricar 72 milhões de metros de tecido (índigo e jeans) por ano tem previsão de ser inaugurada em 18 meses e demandará recursos de R$ 350 milhões. Será uma indústria de fiação, tinturaria e tecelagem.

Apesar da competitividade mato-grossense, Imaizumi deixa claro que não há planos de desativar ou transferir os ativos do Nordeste para o Centro-Oeste. "As fábricas de lá têm localização estratégica para operações de mercado externo, que já foram de 35% até antes da crise, e agora estão em 15%".

O foco para o Nordeste, segundo ele, é modernizar as fábricas localizadas no Ceará e no Rio Grande do Norte, que têm mais de 15 anos de implantação e capacidade para produzir 14,5 milhões de metros de tecido. Esse projeto deve demandar mais R$ 115 milhões em investimentos neste ano.

Além de estar mais próximo dos mercados consumidores de tecido, Mato Grosso - que disputou com a Bahia os planos de expansão da Vicunha - também ajudará a empresa a se expandir no Mercosul. "Somos fortes na Argentina, apesar das barreiras comerciais. A partir de Mato Grosso, podemos transportar produto via hidrovia e nos tornar mais competitivos", afirma o executivo. O market share da Vicunha é de 35% a 40% do mercado brasileiro de índigo e jeans, segundo estimativas da própria empresa.

A Têxtil Bezerra de Menezes (TBM), que tem nos fios de algodão seu carro-chefe, decidiu se instalar em Mato Grosso pelo mesmo motivo das outras empresas do setor: disponibilidade de matéria-prima. Norberto Neves, gerente industrial do grupo e responsável pelo projeto no Estado, diz que a decisão foi tomada há dois anos, mas o projeto voltou para a gaveta com a crise mundial. O algodão, continua ele, representa de 60% a 80% do custo do produto final.

As obras da TBM em Rondonópolis começaram em outubro de 2009 e a previsão é que sejam concluídas em julho deste ano. A unidade terá capacidade para produzir até 600 toneladas de fio por mês e consumirá de 600 a 700 toneladas de pluma mensalmente.

No Nordeste, a empresa tem quatro unidades industriais que somam capacidade para produzir 2,5 mil toneladas de fio por mês. Para isso, consomem em torno de 30 mil toneladas de algodão por ano, dos quais entre 60% e 70% são trazidos de Mato Grosso. "Às vezes, conseguimos comprar algodão de qualidade equivalente ao de Mato Grosso em outros Estados, no entanto, não no volume que precisamos", afirma Neves.

Assim como a Vicunha, a TBM também vê como vantagem de Mato Grosso a proximidade dos maiores centros de consumo de fios, as regiões Sul e Sudeste. "Vamos deixar de percorrer 6 mil quilômetros para percorrer 2 mil", compara Neves, referindo-se à economia com frete ao deixar de buscar matéria-prima de Mato Grosso até o Nordeste e depois, "descer" com o produto final até os mercados do Sul do País, que consomem cerca de metade da produção do grupo. A fábrica está recebendo recursos de R$ 30 milhões para a primeira etapa. "Mas temos planos de dobrar essa capacidade [para 1,2 mil toneladas] após o fim dessa fase", antecipa Neves.

A Santana Textiles foi a primeira empresa de maior porte a se instalar no Estado. O investimento ocorreu há cinco anos e o objetivo era ficar mais perto do algodão e também do mercado consumidor, conta Antônio Ricardo Fonseca, responsável pela unidade mato-grossense da Santana, atualmente com capacidade para produzir 35 mil toneladas de fio e 30 milhões de metros de tecido por ano. Desde julho de 2008, a empresa vem aplicando recursos em um projeto de ampliação que, ao fim, somará investimentos de R$ 176 milhões.

A capacidade de fabricação de fios será ampliada para 62 mil toneladas e a de tecido, para 40 milhões de metros anuais. A planta, que consome hoje 30 mil toneladas de algodão por ano, vai passar a consumir 62 mil toneladas da pluma. "Estar próximo da matéria-prima e dos mercados consumidores nos traz uma redução de custo da ordem de 8% na comparação com as unidades do Nordeste que precisam ser abastecidas, em parte, por algodão de Mato Grosso", diz Fonseca.






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