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Saúde
Domingo - 28 de Julho de 2013 às 21:58
Por: LISLAINE DOS ANJOS

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Doença considerada silenciosa pelos médicos, o diabetes foi responsável pela morte de 4,8 milhões de pessoas em 2012 – sendo que metade das vítimas tinham menos de 60 anos.


 
Em Cuiabá, o número de pessoas portadoras de diabetes vem crescendo a cada ano. Dados da última pesquisa feita pela Federação Internacional de Diabetes (FID), em novembro de 2012, revelam que, atualmente, a estimativa é de que 36,4 mil pessoas sejam diabéticas na Capital.


 
O número é ainda maior do que a estimativa apontada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) em 2011, quando a estimativa era de que ao menos 28 mil pessoas tivessem a doença.


 
Segundo a pesquisa da FID, mais de 371 milhões de pessoas possuem diabetes no mundo, com idade entre 20 e 79 anos.


 
"O diabetes não é uma doença que simplesmente mata, mas ela deixa a pessoa inválida, vai mutilando o paciente aos poucos" Desse total, 13,4 milhões residem no Brasil, o que corresponde a 6,5% da população da faixa etária analisada e faz com que o país ocupe a 4º posição no ranking dos países com maior prevalência de diabetes no mundo.


 
A pesquisa ainda aponta que 50% dos diabéticos não sabem que possuem a doença, o que pode agravar ainda mais o seu quadro de saúde e inclusive levar à morte, uma vez que diabetes não tem cura e apenas pode ser diagnosticada e controlada por meio de tratamento.


 
Em entrevista ao MidiaNews, a endocrinologista Cristina Pizarro, 43, salientou os perigos da doença, principalmente nos casos em que ela não é diagnosticada cedo ou o tratamento não é feito de maneira adequada pelo paciente.
 


“A diabetes não é uma doença que simplesmente mata, mas ela deixa a pessoa inválida, vai mutilando o paciente aos poucos. As principais complicações da doença são crônicas, como a cegueira, a necessidade de fazer hemodiálise, problemas na circulação do sangue, lesões nos pés ou nos dedos que levam à amputação e o risco de infarto agudo que, aliás, é a causa de morte mais frequente no diabético”, afirmou.


 
A doença


 
Segundo Pizarro, há quatro tipos de diabetes que existem atualmente no mundo, mas todas tem a mesma definição: excesso de glicose no sangue (hiperglicemia).


 
A diabetes pode ser causada por dois motivos distintos: quando o pâncreas da pessoa para de produzir insulina ou quando a insulina produzida não age nos órgãos, o que também é chamado de resistência insulínica.


 
Reprodução


 
Bárbara Mamede, 17 anos: jovem diabética mudou de vida e se tornou um exemplo “O tratamento é controlar a glicose que está alta no sangue. Então, tem que cuidar para não engordar, não ingerir muito carboidrato e nem muito açúcar”, disse.


 
A diabetes “tipo 1”, explicou Pizarro, é autoimune, ou seja, quando o pâncreas deixa de produzir a insulina e o tratamento é somente à base de injeção do referido líquido no corpo – comprimidos via oral não surtem efeito.


 
“O tipo I acontece mais em crianças e jovens e não tem tanta ligação com um histórico familiar positivo. Apesar de ser mais raro, a incidência do tipo I está aumentando mundialmente. Se o paciente tiver outras doenças autoimune, como vitiligo ou ligadas à tireoide, por exemplo, ele pode desenvolver a diabetes tipo I”, disse.


 
A diabetes “tipo II” normalmente é ocasionada pelo excesso de peso e pelo forte histórico familiar, aparecendo, normalmente, depois dos 40 anos de idade. O tratamento normalmente é à base de comprimidos e de mudança de hábitos de vida. Em casos extremos, quando o tratamento oral não é o suficiente, a insulina também pode ser adotada.


 
“O tipo II é o mais comum, responsável por 80% dos casos, e aquele ocorre mais com os obesos, por exemplo, que é quando o seu pâncreas produz insulina, mas ela não age nos órgãos, ou seja, a causa é resistência insulínica. Por trás dessa obesidade está o sedentarismo, a má alimentação”, explicou a médica.


 
“Apesar de ser mais comum em pessoas com mais de 40 anos, nós temos visto esses casos aumentarem em pessoas mais jovens, principalmente crianças e adolescentes, por causa da obesidade e da qualidade de vida que essa pessoa tem”, acrescentou.


 
Os dois últimos tipos de diabetes são as “passageiras”, segundo a médica. O terceiro tipo é chamado de “secundário”, por ser ocasionado por outro tratamento.


 
“É o caso de quem usa corticoide em altas doses, por exemplo”, disse Pizarro.


 
Já a diabetes tipo IV é a chamada “gestacional”, ocorrência comum em mulheres grávidas e que, após terem o filho, desaparece – apesar de ser um indicativo de pré-disposição a apresentar a doença anos mais tarde.


 
“Em todos os casos, o paciente pode tentar um mudança de hábito e de vida, praticando atividades físicas e mudando sua alimentação, que deve ser não apenas diet (sem açúcar), mas também light (sem gordura), porque o diabético normalmente já tem colesterol alto. E os alimentos dietéticos são altamente calóricos. Então ele precisa equilibrar, porque não é porque é sem açúcar que ele não engorda. Tudo tem que ser ingerido de forma moderada”, disse.


 
De acordo com Pizarro, o diabetes pode aparecer de maneira silenciosa na vida das pessoas, mas há fatores de risco que, se observados, auxiliam na identificação rápida da doença e em um tratamento mais precoce, aumentando a qualidade de vida do paciente.


 
“Se você tiver sobrepeso, que é o IMC [índice de massa corporal] acima de 28, já aumenta em 10 vezes a sua chance de ter diabete. O avanço da idade deve ser levado em conta [acima de 40 anos] e o parentesco de 1º grau com alguém que tenha diabetes, também. Se a pessoa teve um bebê com mais de 4 kg ou tiver uma furunculose que demora a se tratar, são fatores de risco que são sintomas, mas pode significar que ele está desenvolvendo diabete”, disse.


 
No entanto, os principais sintomas apresentados pelas pessoas que possuem diabetes são a sede intensa e as várias idas ao banheiro para urinar – principalmente durante a noite –, sentir muita fome, comer muito e emagrecer demais, simultaneamente.


 
“Nos casos do tipo 1, por exemplo, se não tratar logo, o paciente pode acabar entrando em coma e falecendo”, disse Pizarro.


 
Todos esses sintomas foram apresentados pela adolescente Bárbara Mamede, 17, há pouco mais de um ano.


 
Ela mora em Cuiabá e foi diagnosticada em abril de 2012 com diabetes tipo 1, a jovem, então com 16 anos, mudou completamente de vida e hoje é referência nas redes sociais para milhares de pessoas que buscam levar uma vida saudável.


 
“Tive todos os sintomas possíveis: emagreci 7 kg em um mês, comecei a sentir muita sede, bebia litros e litros de água por dia, tinha tontura e fraqueza. Teve um dia que eu não conseguia levantar da cama que tudo rodava. Foi quando me levaram para o hospital e o médico de plantão pediu exames e constatou a doença”, contou.


 
Bárbara levava uma vida comum, até então. Comia de tudo, admite que era sedentária e até mesmo tinha uns quilinhos extras.


 
"Eu tomei insulina por apenas três meses. Como o diabetes foi diagnosticado ainda bem no início, deu tempo de salvar meu pâncreas, que não parou de funcionar. De lá para cá, já estou há um ano sem insulina"" Depois de ser diagnosticada com a doença, ela passou a ser dependente de altas doses de insulina, que aplicava até seis vezes por dia; precisou mudar a alimentação e começar a praticar atividades físicas; e viu seu índice de glicemia atingir 535 mg/dl – sendo que o índice normal, em jejum, é de até 99 mg/dl.


 
“Era para eu estar internada já. Passei por uns cinco médicos para ver se realmente não existia nenhuma cura, se era somente insulina mesmo e a resposta era sempre a mesma. Até que um médico aqui em Cuiabá me ofereceu um tratamento diferenciado”, disse.


 
Bárbara passou a tomar uma medicação oral, normalmente indicada para diabete tipo II, começou a fazer reposição de vitamina D, passou a tomar remédio homeopático e a praticar muito exercício físico.


 
O psicológico também teve um fator muito importante no tratamento da jovem.


 
“Ele me falou da importância de viver tranquila, sem me estressar, porque tudo isso causa alterações”, disse.


 
Exemplo de vida


 
Aos poucos, Bárbara assistiu à diminuição das doses de insulina que precisava injetar a cada dia, até que um dia o medicamento não foi mais necessário e o médico autorizou a retirada das injeções do seu dia a dia – algo raro para alguém diagnosticado com o tipo I da doença.


 
“Eu tomei insulina por apenas três meses. Como a diabete foi diagnosticada ainda bem no início, deu tempo de salvar meu pâncreas, que não parou de funcionar. Por eu não estar tomando insulina, meus cuidados com alimentação dobraram. De lá para cá, já estou há um ano sem insulina, tomando apenas os remédios orais para auxiliar no controle”, disse.


 
A adolescente, que agora sonha em cursar Nutrição e leva uma vida comum, mas saudável, diz que o início de mudança de vida não foi fácil.
 
“Tudo o que me falavam para fazer, eu aceitei, mas era forçado. Fazia porque eu precisava e tinha consciência disso, mas não porque eu queria. Eu sabia que ou eu fazia o que me mandavam ou eu ia acabar me matando”, contou.


 
Incentivada pelos benefícios que o novo estilo de vida passou a lhe trazer, Bárbara decidiu ir à uma nutricionista para montar uma dieta balanceada e começou, como ela mesmo diz, a dar valor à academia.


 
Farmácia oferece tipos variados de produtos alimentícios para diabéticos em Cuiabá “Hoje eu amo esse estilo de vida. Sigo por prazer mesmo”, afirmou.


 
A adolescente passou a postar fotos de seus pratos e exercícios na academia na rede social Instagram – primeiro, de forma anônima e depois revelando sua identidade e sua história – e viu, em poucos meses, seu estilo de vida se tornar um exemplo para mais de 44 mil pessoas no país inteiro. Hoje ela também mantém uma conta com dicas no Facebook.


 
“Eu seguia alguns instagrams de dieta e de alimentação saudável e como eu gostava de criar as coisas em casa também, decidi criar o @dietasemsofrer. Não imaginava que teria tanta repercussão. Pretendo manter o perfil ativo e ele me ajuda a me manter focada”, ressaltou.



Mercado carente


 
Manter uma alimentação saudável – e ao mesmo tempo gostosa – não é fácil, principalmente para os diabéticos.


 
Na Capital, o farmacêutico Flávio Afanaci notou a carência de mercado para esse segmento e resolveu abrir uma franquia da Farmácia Dia a Dia, cujo principal foco é atender ao público diabético em todas as frentes: desde o diagnóstico até a alimentação.


 
“Nós atendemos aos diabéticos em todas as necessidades: a parte de medicação oral e de insulina para quem faz uso; a parte de diagnóstico e controle, que são os aparelhos de glicemia (glicosímetros); material para cuidados dos pés diabéticos, com curativos, linha de tratamento e a meia especial; e a parte de alimentação, dos adoçantes à parte dos doces em si, incluindo sorvetes e bebidas em geral”, disse.


 
A loja abriu em 24 de outubro de 2011 e funciona de segunda a sábado no Shopping Três Américas. Afanaci diz que o principal impulso para abrir a farmácia foi verificar, pessoalmente, que o paciente diabético não tinha muitas opções na Capital.


 
"Nós atendemos os diabéticos em todas as necessidades [...] A maior surpresa do diabético ao chegar à farmácia pela primeira vez é a diversidade de produtos" E se engana quem pensa que apenas chocolates dietéticos e adoçantes podem ser encontrados na unidade. A parte voltada à alimentação é o grande diferencial e o que mais atrai clientes na loja, conta o farmacêutico.


 
“A maior surpresa do diabético ao chegar à farmácia pela primeira vez é a diversidade de produtos. Ao todo são mais de 2,5 mil itens. Nós temos de chocolate, que é o mais tradicional, até bolos, sorvete, paçoca, pé de moleque, arroz doce, doces em geral”, afirmou.


 
No local, o MidiaNews constatou não apenas a existência dos produtos descritos como também balas, chicletes, biscoitos, ingredientes para bolos e sobremesas e até mesmo ketchups e mostardas dietéticos – confira na galeria de fotos.


 
Os preços dos produtos alimentícios variam de R$ 0,10 a R$ 19, segundo Afanaci, e podem ser consumidos por pessoas que buscam uma alimentação saudável, não apenas diabéticas.


 
“O foco é para pacientes diabéticos, mas conseguimos atender pacientes celíacos, ou seja, pessoas com intolerância ao glúten, pessoas com intolerância à lactose, pessoas que estão fazendo dieta com algum tipo de restrição alimentar ou preferem alimentos orgânicos e integrais”, disse.





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