Tiroteio e assalto nas escolas expõem alunos e professores
A violência aumenta dentro e ao redor das escolas de Cuiabá. Na terça-feira (23) à noite, um tiroteio aconteceu na frente de uma instituição municipal do Jardim Colorado. Enquanto isso, outra escola pública, no Santa Isabel, era assaltada pela segunda vez na semana. Como os vigilantes não podem usar armas e são facilmente rendidos pelos assaltantes, a Secretaria Municipal de Educação e o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT) cobram reforços policiais nas ruas e nas escolas de Cuiabá.
O tiroteio aconteceu às 17h, entre a escola municipal Nossa Senhora Aparecida e uma creche. Mesmo sendo horário de saída dos alunos, as gangues não ficaram intimidadas de iniciar o conflito. Segundo a diretora da escola, Dorami de Barros Lopes, a Polícia Militar foi acionada, mas chegou depois que o confronto havia acabado. Pais e alunos ficaram assustados e a diretora teme que isso prejudique a imagem da escola.
Com 1.286 alunos, a instituição de ensino foi assaltada diversas vezes, mas não está entre as escolas que vão receber a guarda municipal. Na tentativa de assegurar a integridade de seus alunos, Dorami afirma que vai encaminhar um ofício à Secretaria de Educação da Capital e à Secretaria de Estado de Segurança Pública argumentando a necessidade de uma guarda ao redor da unidade.
De acordo com o secretário adjunto de educação da Capital, Permínio Pinto Filho, é preciso que os órgãos de segurança pública prestem mais atenção nas instituições de ensino e reforcem as ações preventivas nos bairros. "Toda a vez que acontece algum roubo ou outra ação criminosa nas escolas, comunicamos automaticamente a Secretaria de Estado de Segurança Pública. Entretanto, não recebemos respostas efetivas".
O secretário utiliza como exemplo a escola Ranulpho Paes de Barros. "A base comunitária está a pouco mais de 300 metros da escola, mas não percebemos diferença".
A presidente da subsede do Sintep em Cuiabá, Helena Bortolo, lembra que a violência tem se destacado em diferentes bairros da Capital e que os criminosos são, geralmente, da própria comunidade. Para ela, a segurança pública não tem dado conta de coibir essas ações. Ainda que os guardas das escolas andassem armados, Helena afirma que isso não inibiria as ações porque o grau de violência a que a sociedade está submetida é muito maior do que se imagina.
Segundo Helena, esse problema que vai além do policiamento armado, pois o próprio judiciário, que deveria ser exemplo de respeito, está "desmoronando". "Assim, os jovens ficam sem perspectivas e deixam de respeitar as instituições públicas".
No domingo (21), 2 homens armados entraram à noite na escola e renderam o vigia. Os assaltantes tentaram entrar na sala da diretoria, mas como não conseguiram arrombar a grade de proteção, subiram no telhado, arrebentaram o forro e invadiram a sala. Eles levaram R$ 300 obtidos na venda de uniforme, uma filmadora e uma câmera digital.
De acordo com a diretora, Eby Regina de Araújo, em 2009, 3 professores foram vítimas de roubo e, em fevereiro desse ano, 2 professoras foram rendidas no estacionamento da instituição quando deixavam a escola à noite. Armados, os assaltantes levaram as professoras para uma região mais isolada do bairro e roubaram seus pertences.
Ainda segundo informações da diretora, os alunos contam para os professores que pessoas adultas da comunidade perguntam o que tem na escola e se lá são vendidos uniformes, o que indica que as ações não são realizadas por estudantes."Há 10 anos, eles (os bandidos) respeitavam a escola. Hoje, não dão mais valor nem a isso".
Desde que as aulas voltaram os alunos não podem mais ouvir a rádio da escola, pois em um dos assaltos a mesa de som foi levada junto com caixas amplificadas, microfones e outros aparelhos eletrônicos. Para não perder o que ainda resta, muitos equipamentos estão guardados em uma sala onde há grade até no teto. "Em reunião com o prefeito, a administração garantiu que nossa escola vai contar com a presença de três guardas municipais. Estamos ansiosos por isso".
Quanto ao trabalho preventivo da Polícia Militar, o coronel Joelson Sampaio explica que isso é efeito na Capital e que todo o efetivo disponível está nas ruas, dividido em turnos e jornadas de trabalho. Segundo ele, existem muitas escolas em Cuiabá e o problema de roubos e assaltos não acontece só nas instituições de ensino. Para Sampaio, essa é uma questão que vai além da atuação da PM, pois grande parte das pessoas que comete esses crimes já passou pela delegacia e deveria estar presa. Para tentar controlar o problema, o coronel sugere que as escolas procurem os respectivos comandos e tracem estratégias de atuação da PM nos arredores da instituição.
O policial militar Marcos Assunção, da base comunitária do bairro Santa Isabel, lembra também que a comunidade deve denunciar os criminosos ou pessoas com atitudes suspeitas, pois isso ajuda muito na atuação da Polícia. "Será que ninguém foi visto carregando 2 panelas de pressão grandes pela rua? As pessoas não podem se omitir".
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