Edson Alves Delfino pode acumular 86 anos e 8 meses de prisão; julgamento ocorre no Fórum de Cuiabá, a alguns metros de onde estudante foi violentado e assassinado
Caso Kaytto: Maníaco será julgado quinta-feira
O maníaco Edson Alves Delfino enfrenta o júri popular nesta quinta-feira (25) pela morte do estudante Kaytto Guilherme Nascimento Pinto, 10. O julgamento acontece 19 dias antes de completar 1 ano da violência sexual e assassinato do estudante. A pena pode chegar a 40 anos pelo homicídio qualificado (de 12 a 30 anos) e pelo abuso sexual (6 a 10 anos). Com os 46 e 8 meses que ele já foi condenado, o maníaco pode acumular 86 anos e 8 meses de prisão.
O réu, hoje com 31 anos, é considerado um homem frio e que já interrompeu a vida de 2 crianças quando elas tinham a mesma idade. Dois crimes iguais, separados por 231 quilômetros e 10 anos e 4 meses.
Kaytto tinha 1 ano e 4 meses quando Anderson Costa da Silva, com 10 anos e 6 meses, deixou a família dele em Primavera do Leste (231 km ao sul de Cuiabá). Anderson foi violentado e assassinado pelo maníaco Edson Alves Delfino, que naquela época tinha uma trajetória ainda desconhecida. Anderson foi encontrado pela família agonizando em um matagal e morreu poucas horas depois no colo da mãe Maria Aparecida Silva Oliveira. Era 19 de novembro de 1999.
Quando a família, em Primavera do Leste foi destruída pelo pedófilo assassino, em Cuiabá a alegria aumentava na casa de Kaytto. O menino já dava os primeiros passos e começava a falar. Sempre sorridente, com o passar dos anos surgiu o grande sonho, ser promotor de Justiça.
Mas este sonho e esta família também foram destruídos no dia 13 de abril de 2009, exatamente 10 anos, 5 meses e 2 dias depois da primeira, e pelo mesmo criminoso. Apenas uma diferença. A história do maníaco já era conhecida e ele já tinha sido condenado a 46 anos e 8 meses de prisão, mas foi colocado em liberdade 4 meses antes deste novo crime.
A crueldade e frieza se repetiram, conforme afirmam as pessoas que acompanharam de perto o primeiro caso. Até as declarações foram as mesmas: em 1999 o criminoso afirmou que se voltasse às ruas, cometeria o mesmo crime. Foi o que fez. Ao ser preso novamente, disse a mesma coisa, em abril de 2009.
Agora, na quinta-feira, este homem será novamente julgado.
A única certeza para o pai de Kaytto, Jorgemar Luís Silva Pinto, é que o criminoso destruiu 3 famílias. A dele, a da mãe de Anderson e a de outro garoto que também foi violentado em Primavera do Leste antes dele ser descoberto. Neste caso, o menino fingiu que estava morto e conseguiu sobreviver. A família saiu de Primavera e ninguém teve mais notícias.
Tanto Jorgemar como Maria Aparecida enfrentam a dor da perda do filho. A reportagem esteve em Primavera do Leste no ano passado e conversou com Maria Aparecida e nesta sexta-feira com Jorgemar. A tristeza no olhar, a cabeça baixa e a dificuldade em falar são as mesmas. Hoje, Jorgemar espera por Justiça, a mesma que Maria Aparecida tanto lutou há 10 anos. "Enquanto eu estiver vivo, vou ficar de olho nele, para que não volte para rua. Com 3 famílias ele já acabou. Tudo o que fez foi com requinte de crueldade", afirma Jorgemar.
A lembrança do filho é diária. Muitos momentos marcaram o tempo que passaram juntos, entre eles uma semana antes do crime, quando o menino, ao ser chamado a atenção pelo pai, disse "mas pai, você sabe quanto é o meu amor por você".
Jorgemar guarda todas as reportagens sobre o desaparecimento do filho, da prisão de Edson e o acompanhamento do caso. Da mesma forma que Maria Aparecida fez até o dia que Edson foi julgado.
A dor é expressada, em ambos os casos, em pedaços de papel. Maria Aparecida fez um diário até o julgamento. Jorgemar escreve menos e mostra apenas uma carta enviada a um programa de televisão. Ele começa o texto assim: "Hoje, 27 de janeiro de 2010 às 21h, aqui estou eu sentando em minha cama pensando o que aconteceu comigo há 10 meses. Eu não sei como estou vivo. A vida perdeu o sentido. O que eu tinha de mais precioso na minha vida foi arrancado, dilacerado, a vida do meu querido inesquecível Kaytto Guilherme".
Mais adiante, o pai continua: "eu estou chorando e escrevendo essas lindas frases para que meu coração não fique mais angustiado do que já está".
Destruição - Jorgemar e o filho sempre almoçavam juntos e conta que no dia do crime sentiu uma angústia muito grande e queria ligar para casa. Conseguiu fazer isso às 11h, mas Kaytto já não atendeu. Ele foi correndo para o prédio onde moravam e como não encontrou o filho, achou que o estudante já havia ido de ônibus ao encontro dele. Mas Jorgemar só ficaria sabendo do filho 4 dias depois, quando Edson foi preso tentando fugir de Cuiabá e confessou ter sequestrado o menino no ponto de ônibus, levado a criança para um matagal em frente ao Fórum de Cuiabá, praticado a violência sexual e matado Kaytto enforcado. O corpo foi encontrado em avançado estado de decomposição.
Nos dias de buscas, Jorgemar recebeu muitas ligações, trotes, mas foi atrás de todas as informações. Chegou até numa casa que estava cheia de viciados e revirou todos os cômodos. Mas o filho já estava morto. "Sexta-feira encontrei meu filho, como se fosse um cachorro jogado no mato. Passei 5 dias angustiado, meu coração já estava cansado e muito triste e no fundo sabia que aquela criança, a quem dei todo meu amor, não existia mais", diz em outro trecho da carta.
Jorgemar conta que nos dias de buscas não comeu e só chorava. "Kaytto era muito especial. Eu colocava ele nos melhores colégios para ser o que queria. Não éramos pai e filho, éramos amigos".
O pai conta ainda da disposição do filho para esportes, do primeiro campeonato de natação que ganhou e dos jogos na escola. "Parecia que fazia para mim. Quando eu chegava, ele começa a jogar bem".
Violência continua - A dor da perda do filho, Jorgemar afirma que nunca será amenizada. "Ele não volta, não volta mais".
Só que a continuação dos crimes de pedofilia o revolta ainda mais. "Parece que todo mundo está vendo mas ninguém está enxergando. Ficamos indignados, mas não podemos fazer nada porque a lei é branda", desabafa.
Julgamento - O júri popular de Edson Alves Delfino está marcado para 8h de quinta-feira (25). Os ex-pistoleiros Hércules de Araújo Agostinho e Célio Alves de Souza seriam os réus julgados neste dia por 2 homicídios, mas uma decisão do Tribunal de Justiça anulou parte da tramitação do processo contra eles e o júri foi adiado. Com isso, entrou na pauta o julgamento do maníaco. O julgamento pode ser acompanhado por toda sociedade.
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