Orientação pela internet depende da idoneidade do psicólogo e do cliente para não fugir à lei
Pouca fiscalização torna terapia online arriscada
A prática não pode ser confundida com a psicoterapia, de caráter longo e presencial.
Segundo o CFP, o profissional que ultrapassar esse prazo e desrespeitar as regras, como a de não manter o sigilo da conversa, por exemplo, pode responder a um processo ético e, em último caso, ter seu registro cassado.
Embora a prática ainda seja tímida no Brasil - dos 65 websites cadastrados no CFP, 30 estão proibidos de "clinicar", seis esperando pela renovação e 29 autorizados até esta sexta-feira (19) - deixa dúvidas quanto a sua segurança e rigor. Como o cliente pode ter a certeza que é um psicólogo que fala do outro lado da tela? E o psicólogo, de que fala com um maior? Como ter certeza de que sua orientação não vai "vazar" pela internet? É possível fiscalizar o número exato de sessões realizadas?
O caminho para fazer a consulta online é bem simples: acesse o site do profissional, preencha um cadastro com os dados, espere a resposta do site, faça o pagamento e adicione o profissional em sua rede de contatos do Skype ou do MSN. O uso da câmera pode ajudar no processo, mas não é tudo.
Os que já expiraram ou estão em renovação não podem operar, segundo a conselheira do CFP, Andrea dos Santos Nascimento. Mas, conforme foi observado pela reportagem, alguns que estão com o selo expirado ou em renovação continuam oferecendo o serviço na internet.
Controle frágil
A conselheira do CFP admite que é difícil controlar o serviço.
- São coisas muito difíceis de controlar, não têm restrições. Só pedimos para o psicólogo informar que o Skype, o Google Talk e o MSN (também conhecido como Windows Live) não são ferramentas seguras. Pedimos aos clientes que não salvem a conversa em lugares públicos ou que não façam consultas em lan houses, para não ficarem expostos.
Para a conselheira, uma das maneiras de fiscalizar é confiar na conduta do profissional e do cliente que procura o serviço.
- Quem procura é que está fiscalizando, as pessoas não têm medo de denunciar. Todos os sites têm que ter informações sobre denúncia.
O trabalho de fiscalização do CFP só se limita a observar os sites que oferecem o serviço: ver se estão operando com o registro em dia e se o material divulgado está de acordo com o código de ética da profissão.
Depois de adquirir o selo, o psicólogo que fizer a orientação psicológica pela internet pode cobrar pelo serviço, optar em fazê-lo por chat, e-mail ou correspondência, e só atender menores de idade com autorização de algum responsável. Não há uma tabela fixa de preço para cada sessão de orientação psicológica, nem um tempo definido, mas a maioria dos profissionais cobra de R$ 40 a R$ 50 por cada sessão de 50 minutos.
A conselheira enfatiza que este tipo de serviço não pode ser confundido com uma terapia online, atividade não reconhecida pelo CFP. O profissional que pretende adotar este procedimento e lançar um site deve fazê-lo em caráter experimental. Traduzindo: só pode usá-lo para fins de pesquisa, depois de ser analisado pelo conselho federal e com base em critérios do CNS (Conselho Nacional de Saúde). Nesse caso, o serviço deve ser gratuito, dando o direito ao cliente de desistir do tratamento quando quiser.
De olho na câmera
Pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, demonstraram que o tratamento da depressão via internet tem resultados parecidos com as terapias presenciais. Em um estudo realizado no ano passado com 45 pessoas diagnosticadas com depressão, ao fim do programa de oito semanas, depois de seis sessões semanais online com um psicólogo, 34% delas pessoas tinham deixado de apresentar os sintomas da doença.
Segundo a psicóloga carioca Luciana Nunes, no ramo da orientação psicológica há mais de dez anos, estudos como esse são comuns nos Estados Unidos, país onde ela se especializou em Psicoterapia Breve, feita pela internet. Na volta ao Brasil, ela montou o Instituto PsicoInfo, que estuda o método. Baseada no Rio de Janeiro, Luciana faz sessões virtuais duas vezes por semana por MSN, Skype e e-mail. Nos outros dias, trabalha em seu consultório "real" no Rio de Janeiro. A especialista cobra R$ 100 por 50 minutos de orientação pelo MSN e R$ 80 por e-mail, com direito a quatro trocas de mensagens: duas perguntas do cliente para duas respostas suas.
Segundo ela, a demanda no mundo virtual é quase a mesma da presencial: pessoas com problemas de autoestima, insatisfação, que sofrem processo de separação. Entre suas clientes, a maioria é de mulheres de classe média e média alta que sofrem de transtornos emocionais, problemas de relacionamento, depressão e compulsividade.
- É um atendimento mais pontual. Só dou consulta para problemas que funcionam melhor no computador. Não atendo pessoas com depressão grave, anorexia, bulimia e pessoas com pensamentos suicidas.
Para a psicóloga, a orientação psicológica online pode ser útil para pessoas que moram em regiões com pouca assistência médica ou que estão morando em outros países.
- Às vezes a gente se esquece que o Brasil é enorme, de que há brasileiros fora do Brasil em todos os lugares do mundo. É difícil fazer um aconselhamento em lugares que têm poucos psicólogos à disposição, como uma cidadezinha do interior, ou que não falam a sua língua. Com isso, a orientação fica extremamente viável. O computador preenche esse vazio.
Para saber se está agradando, Luciana faz pesquisas de opinião com as pessoas que procuram seus serviços. Segundo ela, a taxa de aprovação é de 87%.
O também psicólogo Anderson Xavier, responsável-técnico do Insca (Instituto de Saúde Cognitiva Aplicada), que oferece a orientação psicológica pela internet, costuma atender, com ou sem câmera, executivos, profissionais liberais, dekasseguis (trabalhadores brasileiros de origem japonesa, residentes no Japão) e celebridades, em especial músicos que vivem viajando. A maioria tem idades entre 25 e 40 anos e sofre de problemas de relacionamento, sexualidade e fobia social.
Trabalhando pela internet desde 2006, Xavier aposta na orientação online como uma ponte para o tratamento presencial.
- Os clientes que se sentem satisfeitos com o atendimento querem continuar quando acabam as sessões, e, então, indicamos outros terapeutas.
Xavier conta que eles só não aceitam pessoas com transtornos mais graves de personalidade por causa da limitação de sessões determinadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Segundo ele, transtornos de ansiedade, estresse, depressão, timidez, problemas de casais e de comportamento são os mais frequentes.
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