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Quinta - 18 de Março de 2010 às 03:30
Por: Alecy Alves

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Jovens são levados à invalidez devido a ritmo intenso, carga excessiva, repetição e desrespeito a intervalos
Jovens são levados à invalidez devido a ritmo intenso, carga excessiva, repetição e desrespeito a intervalos

Em Mato Grosso, nenhuma atividade produtiva causou tantos acidentes e doenças aos trabalhadores quanto a indústria frigorífica. Em três anos, entre 2006 e 2008, pouco mais de 5,6 mil funcionários de frigoríficos sediados no Estado tiveram de se afastar do trabalho por causa de lesões sofridas durante o exercício das funções, distúrbios osteomoleculares e transtornos mentais.

Em 2006, os traumas físicos e doenças adquiridas motivaram 1.293 afastamentos. No ano seguinte, a incidência praticamente dobrou, chegando a 2.246 casos. Já em 2008 as estatísticas apontaram uma leve queda, fechando com 2.122 notificações, conforme o serviço de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). O levantamento dos dados referentes a 2009 ainda não são de conhecimento público.

Ontem, essas estatísticas e o que fazer para mudar essa realidade cruel vivida pelos trabalhadores foram temas da audiência pública intitulada “Condições de Trabalho no Setor Frigorífico em Mato Grosso”.

O evento, realizado por iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), reuniu, no auditório Milton Figueiredo, na Assembleia Legislativa, juízes, procuradores, representantes da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego (DRTE), dos trabalhadores e donos de empresas frigoríficas.

A procuradora do Trabalho Virginia Leite Henrique disse que como esse é um setor que emprega pessoas de faixas etárias relativamente baixas, os jovens são as maiores vítimas das doenças ocupacionais do setor.

Conforme Virgínia, chega a ser assustador o número de jovens incapacitados para o trabalho por causa dos acidentes, assim como a quantidade de ações na Justiça trabalhista buscando indenizações por acidentes ou doenças adquiridas e o pagamento de direitos trabalhistas e adicionais de insalubridade.

O MPT concluiu que vários fatores contribuem para os altos índices de acidentes e doenças. Entre os citados estão ritmo intenso, carga excessiva, repetição de movimento, desrespeito à exigência legal de intervalos (20 minutos de descanso a cada 2 horas de trabalho) e a temperatura no ambiente de trabalho.

Atualmente no cargo de subcoordenadora da Coordenadoria de Regularização do Meio Ambiente do Trabalho, Virgínia disse que percebeu a necessidade de fazer algo urgente na tentativa de minimizar a situação.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação (CNTA), entidade sediada em Brasília, Artur Bueno de Camargo, esteve ontem em Cuiabá especialmente para a audiência. Conforme Camargo, o que vem acontecendo com os trabalhadores desse setor em Mato Grosso é extremamente preocupante.

Aqui, disse, 30% dos empregados dos frigoríficos sofrem algum acidente ou apresentam doenças laborais. Esse índice seria divido em 12% de acidentes e 18% de doenças mentais e LER/DORT (lesões por esforço repetitivo e distúrbios osteomoleculares). A média nacional, observou, é de 25%.

Além de não dispor de políticas preventivas, tanto nas empresas quantos no setor público do trabalho, Artur Camargo reclamou que o quadro se agrava cada vez que uma máquina mais moderna chega ao frigorífico. “As máquinas novas trabalham numa velocidade maior para produzir mais, exigindo um ritmo mais intenso do homem”, completou.

Transformar os debates em propostas de reforma das leis que regem as relações de trabalho, começando pela redução da jornada semanal de trabalho de 44h para 36 horas, é um dos objetivos de discussões como a que aconteceu ontem em Cuiabá. Artur Camargo disse que iniciativas semelhantes estão acontecendo em todo o país.

O sindicato patronal dos frigoríficos participou da audiência. Os representantes de empresas que acompanhavam as discussões preferiam não se pronunciar à reportagem. O Diário ainda procurou, via telefone, o presidente do sindicato, Luis Antônio Freitas, mas o telefone celular dele estava na caixa postal e até o fim do dia ele não respondeu o recado.






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