Mato Grosso é o quinto maior produtor de pescado em águas continentais do país. Atratividade comercial do pintado em cativeiro é um dos potenciais a serem desbravados
Potencial para estar no topo da piscicultura brasileira
Mato Grosso é reconhecido por ofertar a maior produção de soja, algodão, girassol, milho de segunda safra do Brasil, além de ser detentor do maior rebanho bovino de corte do País. O que poucos sabem é que o Estado tem potencial reconhecido para conquistar mais um segmento da atividade primária: a aquicultura. Esta cadeia de produção pastoril está entre os destaques da sexta edição do Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária (Enipec 2010), que será realizado de 3 a 5 maio, no Centro de Eventos Pantanal, em Cuiabá.
A atividade caminha em direção à profissionalização de seus agentes e esbarra na falta de políticas sanitárias. Mas, mesmo com estes gargalos, a aqüicultura em Mato Grosso se posiciona hoje na quinta posição no ranking de pescado continental (água doce) do Brasil, perdendo apenas para o líder, Ceará, e para os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina.
“O potencial é gigantesco à aquicultura em Mato Grosso, estado que já é o maior produtor de espécies nativas do país”, frisa o Secretario de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura (Sepoa), do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Felipe Matias – que fala a partir de dados de uma estatística feita em 2007 pelo Ibama e disseminados pelo MPA. Números referentes a 2008 devem ser divulgados ainda neste primeiro semestre.
Em 2007, a produção de pescado continental no Brasil somou 210 mil toneladas, volume 10% acima do registrado no ano anterior. A região Centro-Oeste, no mesmo período, produziu 40,2 mil toneladas, sendo 17 mil ofertadas por Mato Grosso. A produção mato-grossense respondeu por 57% do total regional. “Lá atrás, ainda em 2007, Mato Grosso já ultrapassava o Paraná, estado com tradição na atividade”, completa Matias. O secretário lembra ainda que, desde 2007, Mato Grosso já se destacava como o maior produtor nacional de espécies nativas em água doce.
A análise da aquicultura brasileira foi o foco do secretário Felipe Matias ao elaborar sua tese de doutorado. Em outro estudo que será transformado em livro pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a ser lançado até junho de 2010, ele informa que a maior parte do pescado nativo de Mato Grosso é da espécie tambacu – híbrido da mistura entre tambaqui e pacu. Em 2007, os tambacus correspondiam a 5,9 mil toneladas das mais de 17 mil t produzidas naquele ano. Em seguida, vem o pacu, com 5,3 mil t, e o tambaqui, com 4,1 mil t.
Matias lembra que, em 2007, a criação da espécie pintado no Estado era embrionária, e, por isso, a estatística do Ibama apurou apenas a oferta de 214 toneladas. “Ainda hoje, a disseminação do pintado para criação, principalmente em tanques, é um trabalho que move a cadeia local. O pintado é uma espécie de maior aceitação e aproveitamento, e isso significa produção de maior valor agregado, ou seja, renda ao piscicultor”, avalia Matias.
Sanidade na pauta no Enipec 2010
O coordenador geral do Enipec 2010, Luiz Carlos Meister, observa que a aquicultura vive a expectativa da implantação de políticas específicas à defesa sanitária. “Mato Grosso tem grandes e inúmeros projetos para criação de peixes em tanques e de jacarés em cativeiro, mas é necessário estabelecer políticas sanitárias”. Como argumenta Meister, o vírus da influenza (gripe) impactou a produção chilena de salmão, reduzindo em dois terços o plantel, em função da alta mortandade. “O vírus da gripe é mutável e temos no Brasil espécie suscetível, como a peraputanga. Justamente pela resistência do vírus às mudanças do ambiente, nada garante que a influenza não possa acometer outras espécies, como as nossas”.
A diretora administrativa da Associação dos Aquicultores do Estado de Mato Grosso (Aquamat), Maria da Glória Bezerra Chaves, frisa que a sanidade das espécies é hoje o ponto de partida da organização desta cadeia. “Os assuntos que serão tratados pelo Enipec 2010 foram discutidos e referendados por membros da cadeia da aquicultura”.
Exemplo disso é que no dia 4 de maio, das 10h30 às 12h, o Enipec 2010 apresenta a palestra técnica “Doenças dos animais aquáticos e os impactos econômicos e de saúde pública”, com Gláucia Frasnelli Mian, pesquisadora do Laboratório de Doenças de Animais Aquáticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). À tarde, das 16h30 às 18h, a sanidade volta ao debate, desta vez sob o tema “Sanidade de Animais Aquáticos e as novas atribuições do Ministério da Pesca e Aquicultura”, com Henrique César P. Figueiredo, doutor em Ciências Biológicas, coordenador geral de sanidade Pesqueira do Ministério da Pesca e Aquicultura.
No dia 5, a partir das 10h30, o segmento se reúne para discutir a “Organização da cadeia e os seus entraves legais e ambientais”. A partir das 14h, os aquicultores assistem à palestra “Usando tecnologia e reduzindo riscos na piscicultura”, com Eduardo Akifumi Ono, engenheiro agrônomo mestre em aqüicultura pela Auburn University, e vice-presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O Enipec 2010 é realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), em co-realização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) e com a Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Em sua sexta edição, mantém a tradição de mesclar palestras técnicas e uma feira de relacionamento entre produtores, empresas e instituições.
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