Serys trava "briga" e manda aviso a todos os opositores
É com esse espírito que ela trava agora a maior disputa interna do PT, desde a fundação do partido em Mato Grosso. A senadora luta contra o deputado federal Carlos Abicalil, presidente estadual do partido, pelo direito de ir à reeleição.
Abicalil colocou sua candidatura ao Senado e propôs à senadora que ela fosse candidata a deputada federal, com o intuito de abrir vaga para o deputado estadual Ságuas Moraes, que pretende ser candidato a federal. Ságuas, por sua vez, puxaria a candidatura do suplente Alexandre Cesar à Assembleia Legislativa. Ságuas e Alexandre são do grupo de Abicalil, que detém a maioria no Diretório estadual.
O racha já mobilizou o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e chegou ao Palácio do Planalto, que está preocupado com o possível enfraquecimento do palanque da presidenciável Dilma Rousseff em Mato Grosso. Serys e Abicalil dizem que vão buscar o consenso, mas, até o momento, nenhum dos dois admite a possibilidade de recuar. No dia 18 de abril o PT deve realizar as prévias, quando os filiados vão decidir quem será o candidato ao Senado. Mas Serys já deixa o aviso: se perder, abandona a política.
A Gazeta - Nesta semana o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, se reuniu com a senhora e com o deputado Abicalil para resolver o impasse sobre a disputa ao Senado. Houve consenso?
Serys Marly - Tanto eu quanto o deputado Abicalil nos colocamos com disposição de fazer o entendimento. Quanto mais difíceis forem as formas de determinar o candidato, mais desgaste traz ao partido. E a gente não quer isso.
Gazeta - Então a senhora pode recuar do projeto de reeleição para buscar esse consenso?
Serys - Para mim o entendimento significa buscar a reeleição, do Senado para o Senado e de deputado federal para deputado federal, como é absolutamente natural em todos os partidos e no próprio PT. Em todo o país, as candidaturas naturais são respeitadas, menos a senadora de Mato Grosso, que, segundo a voz geral, cumpre com qualidade o seu mandato. A ONG Transparência Brasil avaliou durante três anos os mandatos dos senadores e meu nome ficou entre os dez senadores que têm o maior número de projetos que melhoram a qualidade de vida da população. Tenho muito trabalho prestado, com mais de 200 relatorias e mais de cem projetos. Recebi um prêmio pelo projeto da tipificação do crime organizado, que já está sendo aprovado pelo Senado e Câmara. Então não tem por que não respeitar a candidatura natural.
Gazeta - Quais as conseqüências dessa disputa para o PT?
Serys - É muito difícil para o PT ter que passar por umas prévias para disputar o cargo de alguém que já está no cargo, que tem um bom desempenho e é reconhecido por isso pelos próprios parlamentares. É muito difícil esquecer que é o ano internacional da mulher das Américas na política.
Gazeta - Se o deputado Carlos Abicalil não recuar, a senhora vai para as prévias?
Serys - Sim.
Gazeta - E se a senhora for derrotada nas prévias, vai aceitar a sugestão de concorrer a deputada federal?
Serys - Se eu não for candidata à reeleição eu estou fora da política. Não serei candidata a deputada. Isso eu já declarei e o partido não pode achar que estou dizendo isso para forçá-lo. Se eu não dissesse isso antes das prévias seria uma traição minha. Mas eu estou desempenhando bem o mandato, e como diz o ditado, time que está ganhando não se mexe. Eu aceito de forma muito tranquila a resposta do povo mato-grossense. Se o povo me derrotar nas urnas eu aceito. Agora, ser derrotada internamente pelo o meu partido numa situação dessas é inaceitável. A disputa em Pernambuco é entre duas pessoas que não têm mandato, assim como no Rio. Mato Grosso é o único estado que querem fazer disputa com quem está no cargo e é lei para dar preferência a quem está no cargo. Todos os partidos têm respeitado e tem um grupo dentro do PT que não quer respeitar. Se eu não for escolhida, estou fora. Eu não acho justo ser a mulher, representante de Mato Grosso, que chegou no patamar mais elevado da política, e depois ser banida da política, sem se saber qual o motivo. Eu trabalho muito durante todo o mandato, cumpro meu mandato por inteiro e continuo assim.
Gazeta - Pessoas ligadas ao grupo do deputado Carlos Abicalil dizem que, em 2006, a senhora foi contra o partido e insistiu na candidatura própria, contra o apoio à reeleição do governador Blairo Maggi (PR), o que teria provocado o enfraquecimento do PT na época. Mesmo assim, ele respeitou a decisão da senhora naquela época.
Serys - Mas a decisão pela candidatura própria foi unânime. Eu nunca fiquei sabendo que eles queriam coligação. Quando ganhei a presidência do partido ficou estabelecido que teríamos candidatura própria. O partido me elegeu por isso, e saí candidata a governadora, por unanimidade e com o voto deles. Ninguém nunca soube que eles queriam coligação ou aliança, até porque o Blairo Maggi se aproximou do presidente Lula só no segundo turno.
Gazeta - Como a senhora avalia o atual cenário e os pré-candidatos ao Senado e ao governo?
Serys - Em MT ainda tem muita água para correr. A vontade do PT é jogar todos os entendimentos e alianças no sentido de garantir a eleição da primeira mulher presidente da República, que é a candidatura da ministra Dilma Rousseff. E isso está sendo entendimento entre PT, o PMDB, o PR. Já vem sendo construído com outros partidos menores, e com os grandes que venham. E a candidatura de Silval Barbosa (concorre ao governo pelo PMDB) está sendo construída a pequenos passos e com muita confiança.
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